1. Looking for Keene

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Pov: Nicky Bennett

Eu andava pelas ruas até tarde, afinal, minha mãe tinha 5 bocas para alimentar e não tinha tempo para fiscalizar nosso horário de chegada. Faziam 2 meses que havíamos voltado para o nosso antigo apartamento graças a promoção que minha mãe recebeu no trabalho. A primeira coisa que eu fiz foi procurar pelo meu melhor amigo, Robby, bati na porta do apartamento deles diversas vezes, e ninguém abria, pensei que ele não quisesse mais me ver e estava me evitando, afinal, 1 ano separados é o suficiente para uma pessoa mudar de opinião sobre alguém.

Um dia, depois de passar a tarde na pista de skate, ainda com esperanças de que encontraria Robby lá, resolvi entrar em uma lanchonete comer alguma coisa, pois meu estômago estava vazio. Entrei, fiz o meu pedido, e uns 10 minutos depois comecei a devorar meu hambúrguer que havia ficado pronto. Quando estava na metade do lanche, o som da TV chamou minha atenção com o noticiário, que contava sobre um colégio em West Valley que havia tido uma grande luta coletiva iniciada por alunos que treinavam karatê, e acabou com um menino sendo atirado da sacada do colégio em questão, fraturando a coluna e ficando paraplégico. A notícia por si só já era horrível, mas quando a jornalista disse o nome e mostrou a foto do garoto que atentou contra esse menino, eu paralisei.

"...Robert Swaze Keene está detido no reformatório da cidade de San Fernando Valley, e o aluno do Dojô Cobra Kai que sofreu o acidente está em estado grave no hospital."

ROBBY?!?

De repente, passou um filme na minha cabeça, desde quando éramos pequenininhos e vizinhos de andar do mesmo prédio, até o último dia em que eu dei um abraço apertado nele, quando tivemos que nos separar abruptamente. Senti um calafrio ao saber que ele estava em um lugar cercado por seguranças, mas sem segurança alguma de fato. EU era a segurança dele, e ele a minha, mas conseguimos nos perder por alguma força maior, fosse ela fome, cansaço, dor, confusão. Meu peito começou a doer como se o buraco deixado por ele tivesse começado a latejar.

Eu tinha que ir atrás dele, atrás de saber mais dessa história, o porquê ele havia feito aquilo, mas por onde começar?
.......

-DOJÔ COBRA KAI! É isso! O lugar que falaram no noticiário! -Bati com a palma aberta na mesa da lanchonete e assustei os clientes em volta, paguei a minha conta e sai porta a fora subindo no meu skate assim que cheguei ao lado de fora do estabelecimento.

Chegando lá, olhei pelas frestas que a persiana deixava, não havia ninguém, mas a porta estava destrancada, então fui entrando com o skate debaixo do braço enquanto o sino do batente anunciava minha chegada, observei o  movimento de um homem velho saindo de um dos cômodos secando as mãos.
-Estamos fechados, senhorita. -Disse o homem.
-Eu quero saber sobre o menino que sofreu o acidente. -Ignorei o aviso dele e fui direto ao ponto. -Ele era daqui, não era?
-Por que todo esse interesse no menino? Você conhecia ele? -O homem perguntou.
-Não, não conhecia, nem sei o nome dele, na verdade. -Contei. -Mas eu conheço o garoto que quase matou ele...Você sabe alguma coisa sobre...Robby Keene? -Perguntei determinada.
-Robby Keene...Filho de Johnny Lawrence...Era um filho pra mim. -Ele concluiu nostálgico.
-Então o Robby era tipo...seu neto? -Dei um riso contido e soltei o skate no chão.
-Digamos que...eu sempre vi um grande potencial, tanto no pai, quanto no filho. -Ele disse.
-O Robby já lutou aqui? -Fiquei intrigada.
-Ele vai...Se você me ajudar. -Propôs o velho baixando o queixo e mantendo os olhos fixos em mim.
-Eu? Você quer que eu lute aqui? -Questionei hesitante apontando pro meu colo com o indicador.
-Por que não? Você tem o perfil necessário, o instinto natural de uma cobra, afinal, se despencou até Reseda só para saber mais de algo que não tem nada a ver com você, estou errado? -Disse ele acendendo um charuto.
-Bom...-Fiquei pensativa.
-Então, o que me diz? -Ele soltou a fumaça do charuto.
-Tudo bem, eu topo, se isso for me aproximar do Robby novamente. -Eu concordei.
-Bem vinda ao Cobra Kai, senhorita...? -Ele me recebeu em tom de pergunta.
-...Nicolle Bennett, mas pode me chamar de Nicky, e você é...? -Me apresentei.
-John Kreese, eu serei seu sensei, senhorita Bennett. -Ele disse com um meio sorriso no rosto. -Vamos começar?
-O que...Tipo, agora? -O questionei.
-Quer se tornar uma boa lutadora para se reaproximar do seu amigo, ou não? A escolha é sua, Bennett. -Sensei Kreese disse.
-Certo...Vamos lá, então. -Eu disse tirando os meus tênis e pisando no tatame.

Sensei Kreese me arrumou um kimono que uma aluna chamada Tory havia deixado lá e me ensinou alguns golpes. Eu peguei gosto rápido pela coisa, sempre tive algo preso dentro de mim e no karatê eu senti que podia expressá-lo sem ser julgada. Quando percebi, já estava noite, e precisamos encerrar a aula. Me despedi do sensei e lá fui eu, somente eu e meu skate, no caminho de volta para casa.

Quando cheguei, minha mãe estava estirada no sofá com uma garrafa de vinho pela metade na mesinha de centro, pensei que ela estivesse dormindo, mas depois de dar alguns passos, ela falou comigo meio grogue por causa da combinação de cansaço e vinho.
-Nicky, querida, onde estava? -Perguntou.
-Hã...Numa parada de karatê, mãe. -Contei.
-Sério? Que legal, filha, vem cá dar um beijo na mamãe, vem. -Disse ela estendendo os braços.
-Chega de vinho por hoje, dona Genevieve. -Eu disse a abraçando, dando um beijo em sua bochecha e tirando a garrafa de vinho da mesinha.
-Nãooo. -Suplicou ela sem forças para levantar e pegar a garrafa de volta.

Parece uma cena bonitinha entre mãe e filha, mas ver essa cena repetidas vezes toda vez que chega em casa começa a ficar deprimente pra qualquer um.

Quando me direcionei para a cozinha, vi Aiden preparando o jantar, Logan pegando suco na geladeira e Macky escorada no balcão da cozinha dando pitaco na preparação da comida de Aiden.
-Finalmente uma pra me ajudar, vai Nicky, lava essa louça aí pra mim, já que a Macky não faz nada além de encher a porra do saco. -Aiden disse jogando o pano de prato contra o meu peito.
-Fazer o quê, né. -Eu disse dando de ombro e indo lavar a louça.
-Eu já fiz o almoço, agora vocês que se virem. -Macky argumentou em tom de brincadeira. -Aí, Nicky, temos que achar um colégio pra você e uma escola pro Logan aqui por perto, você não pode se atrasar, é o seu último ano.
-Que bom seria se eu já tivesse me formado. -Suspirei acariciando um prato.
-É, mas ainda não, e se você quer ser inteligente como o seu irmãozão e não burra como a sua irmã, tem que estudar, panaca. -Aiden provocou Macky enquanto limpava as mãos no avental.
-Vai se foder, meu. -Macky disse fingindo que estava ofendida.
-Veja pelo lado bom, Nicky, pra você falta só um ano, e quanto a mim? -Logan dramatizou.
-Oh meu Deus, o bebêzinho da casa cansou de ser bebê. -Macky abriu os braços para dar um abraço em Logan, que o recebeu como se estivesse de fato triste.

Eu sei que passávamos dificuldades, mas algo que nunca faltou na minha casa foi amor. Eu amava minha mãe, eu amava meus irmãos, e eles me amavam e se amavam entre si também. Nunca precisamos de um pai presente pra consolidar o amor que tínhamos uns pelos outros. Mas, quando se cresce sem pai, uma pontinha de revolta, dúvida, tristeza, insuficiência vai crescendo à medida que a gente vai tomando consciência das coisas. Na cabeça se passam coisas do tipo "Ele não me amava o suficiente pra ficar?" "Eu odeio ele sem nem mesmo o conhecer" "Por que ele nunca me procurou?". É difícil. E é mais difícil ainda pra minha mãe. Ela sempre tentou nos dar uma figura paterna descente, e só conseguiu acertar com o último filho. Que bom que pelo menos o Logan tem um bom pai, mas que não conseguiu aguentar o fardo de mais três crianças que vieram antes dele.

𝐈𝐍𝐒𝐈𝐃𝐄 𝐂𝐎𝐁𝐑𝐀 | Robby Keene IACWOnde histórias criam vida. Descubra agora