A verdade é que naquela longa noite, não tinha conseguido dormir, sequer prego os olhos. Menti para Sucrose que havia descansado, porque não havia. Menti para Albedo que estava tudo bem, porque não estava. Menti para mim também, tentei agir como se as coisas fossem se normalizar, não que eu já tenha vivido algum tipo de normalidade. No fundo, não tão fundo assim, eles também sabiam de tudo isso, mas eu os admirava por levarem a situação da melhor forma o possível, ou ao menos pensava assim.Levantamos bem cedo, quanto antes chegássemos na base melhor seria. Descemos a montanha sem trocar uma palavra, cada um de nós estava imerso em seus próprios pensamentos, mas com muitas preocupações em comum. Muitas.
Ao chegarmos no acampamento, vários alquimistas se aproximaram de Albedo com diversos questionamentos. Aquilo tudo me apavorou, não suportava mais a ideia de estar entre pessoas que pudessem ser afetadas por seja lá o que estivesse em meu corpo. Fui direto para a cabana e me tranquei nela.
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Chorei por um bom tempo, de novo e de novo. Não gostava de chorar, mas era o que conseguia fazer naquele momento. Minha mente estava em chamas, não conseguia raciocinar direito, nada fazia sentido e tudo o que imaginava era em como eu deveria ir para longe de tudo aquilo.
Sucrose apareceu na cabana algumas horas depois, ela estava com um tipo de vidro em mãos.
- Oliver, está vendo isso aqui? - Sucrose se aproximou.
- Estou..
- Vem de Liyue, é uma erva antitoxida, talvez, ela possa ajudar no seu tratamento! - Ela soava esperançosa. - Ela não é rara, mas um pouco escassa.
- ... - Eu olhei para o lado.
- O que foi?
- Não é nada, que bom que acharam algo.. - Eu sorri de forma não tão sincera.
- Suas bochechas estão inchadas, sabia?
- Sabia.
- Sabe, o que eu te disse aquele dia, ainda está valendo.
- ... - Eu passei a mão no rosto.
- Chore se precisar, mas converse comigo. Não guarde suas angústias por mais que não queira contar para ninguém. - Ela colocou a mão em meu ombro.
- Não quero me desesperar e fugir de novo.
- Você não vai fazer isso. - Ela riu. - Mas se fizer, vamos atrás de você.
- De novo?
- De novo.
- Não gosto de ser trabalhoso.
- Nosso trabalho é cuidar de coisas e pessoas trabalhosas. - Ela me puxou para um abraço. - Você não é um fardo, ouviu?
- Vou tentar não pensar nisso.
- Isso. - Ela sorriu. - Tome, coma uma folha, mas antes... - Ela tirou uma agulha de seu bolso. - Me dê seu dedo. - Ela picou a agulha em meu dedo e colocou as gotas de sangue em um vidro pequeno. - Tentaremos cuidar do seu sangue e controlar as substâncias presentes nele, é o que podemos tentar no momento.
- Vou ficar isolado em algum lugar? - Ela suspirou.
- Não e eu não deveria ter me expressado desta forma ontem também, quer dizer, óbvio que teremos que tomar algumas medidas em relação às pessoas que se aproximam de você, mas não te isolaremos como se fosse um animal ou coisa do tipo. Nunca te trataríamos assim.
- ... - Deitei na cama e olhei para cima. - Não quero que as coisas se compliquem, nem sei ao certo o que descobriram realmente sobre mim, mas mesmo com medo, gostaria de saber tudo o que acharam. Então... se puder me contar. - Ela olhou para o chão por alguns segundos.
- Oliver, como eu e Albedo dissemos, você veio de um povo chamado Huncco. Aparentemente, era um povo nomade porque não conseguiam se estabelecer em nenhum tipo de lugar com a presença de outros seres, como os humanos por exemplo. Como os Hunccos acabavam sempre por trazerem doenças ou mortes súbitas, eles eram expulsos e isolados da sociedade da época. Eles se estabeleceram, pelos últimos registros, na montanha nevada, ou seja, a Espinha do dragão, o mesmo lugar onde você foi encontrado.
- ... - Fiquei em silêncio por um tempo. - Sabe me dizer o que é o cristal tatuado em mim?
- Sobre o Cristal tatuado... Eu pensava que fosse uma marca comum do povo Huncco, mas na realidade, não eram todos os Hunccos que possuiam esta marca, ou seja, continua como um mistério em aberto. - Sucrose pareceu intrigada.
- Sucrose, há mais algum lugar onde eu possa procurar informações sobre mim? Ou melhor... Sobre o meu povo?
- Sim, há. Nos livros em que li, os Hunccos aparentemente se originaram no país de Snezhnaya, mas logo foram para o país de Liyue, onde ficaram por um bom tempo, até que repentinamente, se mudaram especificamente para a Espinha do dragão, em Mondstadt. Não sabemos o porquê de terem se mudado para um lugar tão inabitável, até mesmo para eles, mas posso criar algumas hipóteses.
- Sabe.. - Eu me sentei. - Nas minhas memórias, eu estava em um quarto pequeno, quando uma mulher chegou e disse algo para mim. Estava frio, muito frio. Do lado de fora, eu ouvia explosões e gritos desesperados. A mulher saiu do quarto por um momento e voltou com uma espécie de película protetora, me envolveu nela e logo após isso, o quarto explodiu. Não pude ouvir mais nada, eu havia acordado. Oh, mas bem, Albedo deve ter lhe contado sobre isso..
- Hmph, não, Albedo prioriza a privacidade das pessoas acima de seu trabalho, por mais que me contar esse tipo de coisa vá nos ajudar a descobrir mais sobre o seu passado. - Ela se levantou. - É uma informação intrigante. Explosões? Gritos? Seria uma espécie de guerra ou de ataque? Talvez houvessem outros povos na montanha que entraram em conflito com os Hunccos... Mas... Bombas? Não.. Isso era um pouco raro na época, não era qualquer povo que possuía mecanismos deste nível. Nesta época, provavelmente só Sumeru, Fontaine e Liyue possuissem esse tipo de coisa, e só pessoas de alto escalão as obtia. - Sucrose ficou pensativa. - Irei procurar mais informações sobre isso. Como Liyue é mais próxima de Mondstadt, talvez este armamento tenha vindo de lá.
- Os Hunccos viveram em Liyue por um longo tempo, pelo menos tempo o bastante para um povo que vivia se mudando. Talvez essa saída repentina deles de Liyue para a Montanha nevada, tenha envolvimento com esse bombardeio?
- Acha que Liyue estava atrás dos Hunccos? Acho que não, na história de Liyue, não conta perseguição alguma ao povo Huncco, além disso, por que eles seriam perseguidos uma vez que estavam se estabilizando lá, por mais que houvessem problemas em relação aos cristais no sangue?
- Mas isso é estranho, por que um povo nomade, e ainda mais com a fama que tinha, ficaria tanto tempo em um mesmo lugar? - Sucrose se espreguiçou.
- São muitas perguntas, temos que ir com calma. - Ela se aproximou. - Irei planejar uma viagem por Liyue. Assim pegamos mais plantas antitoxidas e descobrimos mais informações sobre o que aconteceu. - Ela sorriu.
- ...Não teria problema em eu ir junto?
- Estamos falando da sua história aqui, oras! Claro que não há! - Sorri.
- Obrigado, Sucrosse. Não sei o que faria se não fosse a ajuda e paciência de vocês..
- Conte com a gente, Oliver. Por enquanto, somos sua nova família, então não se sinta perdido. - Sem perceber, meus olhos já estavam se enchendo d'água. - Pelos Arcontes, você é muito chorão sabia?
- Desculpa. - Ela me abraçou.
- Não se desculpe, já disse, se precisar chorar, chore.
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Nossa Alquimia
FanfictionUm garoto misterioso surge inexplicavelmente em meio a uma nevasca na Espinha do dragão, para sua sorte, alguns alquimistas da região o encontram e o salvam daquela situação, contudo, para seu azar, o mesmo não se lembra de nada, nem de seu nome ou...