Uma Nova Família

06 - Encontros e Reencontros

Vegas

Como havíamos prometido para a avó, eu e Pete retornamos á ilha em que ele cresceu. Nessa viagem levamos Macau para conhecer os idosos. Eu achava que Macau estranharia o local,  assim como eu e Venice, mas ele achou divertido e ficou muito feliz de conhecer a família de Pete. 

Vovó apertou Macau em um abraço e levou ele em todos os lugares da ilha para apresentar o novo neto aos moradores locais. O garoto desfrutou do passeio, da comida e ajudou a avó a cuidar da casa. Eu precisava admitir que Macau era um pouco mais aberto e sociável do que eu. 

No dia seguinte fizemos um passeio na praia, como Pete havia planejado. A avó dele foi conosco, mas logo se afastou para conversar com alguns conhecidos na orla. Pete me fez carregar uma bolsa rosa com as coisas de Venice, o que levou Macau aos risos. Eu detesto rosa e meu irmão sabe disso, não tem nada haver comigo, eu estava muito contrariado, mas parecia que Pete fazia de proposito. Quando tentei argumentar ele ameaçou me deixar sem contato físico por um mês. Apesar do desconforto, eu poderia vestir rosa, mas seria impossível ficar sem tocar Pete por tanto tempo.

Quando Pete colocou Venice no chão, ela teve dificuldades para caminhar na areia, mas depois foi cambaleando até a beira d'água de mãos dadas com Macau.

- Macau! Cuidado, ela ainda é muito pequena.

- Tudo bem, P'Pete, vou cuidar bem dela. - Meu irmão falou e sentou no chão para brincar com a bebe.

- Ainda chateado com a bolsa? - Pete, sentado ao meu lado, me perguntou com deboche ao ver minha cara séria.

- Vou comprar sorvete. - Disse e me levantei. Fui até o vendedor e comprei três sorvetes pois sabia que Venice não come um inteiro, porém, isso não impediu Pete de dividir o dele com a criança. Até nisso eu perdia para ela. 

Pete e Macau decidiram construir um castelo de areia com alguns objetos do kit de praia de Venice. A construção estava um pouco torta, mas era bem planejada, eles fizeram um bom trabalho. Macau estava muito sujo de areia e Pete limpava o suor com o anti braço.

- Onde está Venice? - Pete perguntou depois de olhar ao redor.

- Ela estava aqui do nosso lado. - Macau respondeu apontando para o lugar vazio que a criança estava.

Pete levantou nervoso e eu o segui. Olhei em volta,  mas não havia nenhum sinal da menina.

- Vegas, você tinha que estar cuidando dela!! 

- Ela estava perto da gente.

- Eu e Macau estávamos distraídos, você que tinha que ficar de olho nela! - Ele me respondeu irritado.

- Por isso que eu nem queria ter uma criança por perto!!  Sabe que eu queria levar ela para um orfanato, mas você não deixou!

- Nunca mais fala isso! - Pete me olhou ofendido, ele estava muito nervoso e não parava de andar de um lado para o outro.

- Ela causa transtorno, olha como você está!

- Nossa filha sumiu! Você entende isso? - Ele gritou comigo.

- Ela não é minha filha.  -  Falei sem pensar.

Pete me socou no braço, ele parecia que estava com ataque de ansiedade, nunca o vi assim e também não queria vê-lo assim por causa daquela criança. Tentei acalmar ele, mas Pete repeliu meu toque e antes que eu tentasse novamente Macau segurou meu braço.

- Não fala mais nada por enquanto, só procura ela.

Caminhei depressa para a direção oposta, a principio pensei em não ajudar, mas não suportava o sofrimento de Pete, se ele colapsasse meu mundo também colapsava. Um pouco contrariada e preocupado, fui atrás da menina. talvez,  no fundo, ela não seja tão ruim...

Dez metros depois vi Venice na orla com alguns ilhéus. Meus passos se tornaram mais largos a medida que me aproximava, mas quando estava percebi que aquela senhora com Venice no colo era a vó de Pete. 

- Estava procurando por ela. - Falei para a senhora que acabou de se despedir e agradecer os vizinhos.

- As crianças de hoje são muito espertas, ela veio me procurar!! Viu como gosta de mim? - Ela comentou.

- Obrigado.

Voltei para o lugar que me separei de Pete e Macau, assim que me viram eles correram na minha direção. Pete imediatamente tirou Venice de mim e a abraçou com força até chegar na casa da avó. Segui Pete em silencio com Macau ao meu lado.

- Você errou. - Fingi não escutar meu nong. -  Você precisa aceitar que ela é muito importante para nós. Fala com ele. - Macau aconselhou. Me afastei dele e continuei andando.

Durante o jantar,  a única voz ouvida era a da vovó, a senhora não parava de falar, hoje ela estava bem animada, contava histórias de conhecidos e também comentou orgulhosa como Venice era inteligente como Pete e a encontrou na praia aquela tarde. Macau sorriu educadamente e se ofereceu para lavar a louça enquanto Pete colocou a bebê para dormir.

Esperei Pete no quarto, pacientemente deixei que ele tomasse seu banho e se vestisse antes de dirigir a palavra ele.

- Não queria deixar você chateado....

Pete foi em silencio para a janela aberta e olhou para fora, claramente estava tentando me evitar. 

- Não deveria ter falado nada daquilo. - Me aproximei dele e o ouvi fungar.

- Você sabe como me senti? Parecia que estava perdendo parte de mim. -  Ele falou entre lágrimas.

- Desculpa. fui egoísta. - O abracei por trás.

- Pelo menos você sabe que foi egoísta. 

- Venice não é minha filha, mas entendo que ela é da família.

Pete se afastou do meu abraço, se virou e segurou meu rosto, me encarando muito sério.

- Você precisa entender que todos são importantes para mim e nada vai mudar o que sinto. mas Venice precisa mais de todos nós, ela precisa de você. Ela é só um bebê indefeso, Vegas. 

Pete estava sofrendo e não fui compreensivo, eu deveria ter me esforçado mais.

- Sou estupido. Fico cego quando se trata de você. Prometo que vou melhorar. vou me tornar uma pessoa melhor para proteger minha família.

- Tente pelo menos pensar em Venice do mesmo jeito que pensa em Macau. ela não tem culpa de nada.

- Me perdoa. Sempre te decepciono. - Limpei as lágrimas dele.

- Sim, te perdoou. Sei que está tentando. - Pete beijou Vegas na bochecha e se deitou na cama. 

Como ele podia ser tão maravilhoso? 

Segui Pete até a cama e o abracei de conchinha.  De madrugada, me levantei para atender as necessidades de Venice antes mesmo de Pete abrir os olhos.