A viagem

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Era estranho ter bons sentimentos por Alec, quando ele era apenas um escroto egoísta e arrogante, que mal olhava para as pessoas, só pensava na sua empresa e, claro, no seu lucro.

Por Alec, eu não teria fins de semana de folga, nem vida, porque quando se iniciava uma campanha, ele exigia o sangue por ela. E eu dava.

_ Preciso de uma pausa..._ me debrucei na mesa de reuniões e, apesar de não poder ver, porque fechei os olhos, ardidos de tanto olhar para a tela do notebook, tenho certeza que Alec revirou os olhos. Ele parecia um android. Nunca demonstrava cansaço, nunca reclamava de fome, sede ou sono, estava sempre pronto quando o assunto era trabalho e ganhos. Um exemplo que eu dispensava, porque precisava descansar cinco minutos.

_ Também acho que precisamos dar uma parada. Estamos cansados e sei que amanhã, com a mente limpa, conseguiremos resolver esse problema de última hora.

O último cliente não gostou de um único trecho no meio do vídeo promocional, e era algo fundamental para sua marca. Tínhamos que encontrar um jeito de resolver isso sem destruir tudo o que já estava feito, para não termos prejuízo. Precisávamos de uma ideia para cobrir o trecho ruim.

Estávamos matando a cabeça desde o fim da tarde e já passava das 21h. Eu estava cansado e com fome.

_ Se eu não comer nada agora, vou morrer na próxima meia hora... Eu.preciso.ir.embora... _ falei pausadamente e Isabelle riu alto. Ela adorava meus dramas. Já Alec...

_ Vão embora vocês dois... Quanta preguiça e drama... _ bufou. _ Eu vou ficar mais um pouco e quando chegarem aqui de manhã isso já vai estar resolvido. Tenho certeza que sozinho eu vou pensar melhor..._ nos expulsou.

Eu e Isabelle saímos quase correndo, antes que ele mudasse de ideia.

Fazia uma semana que ele transou comigo, no meu apartamento, e a camisa dele ainda estava na minha cama, debaixo do travesseiro, de onde eu puxava à noite e dormia abraçado a ela, sentindo seu cheiro e lembrando do momento que tivemos.

Alec estava diferente naquele dia, ele cuidou do ferimento na minha mão, que já sarou, me olhou longamente várias vezes, deixou que eu ficasse com a sua camisa e maquiasse seu pescoço marcado. Quando fui deixá-lo na porta, ele me surpreendeu, quando pegou a minha mão ferida, virou a palma para cima e beijou o local do corte, por cima do curativo. Então se virou e foi embora.

Depois desse dia, não falamos sobre nada do que aconteceu conosco, tudo está como antes. Ele ainda é o boçal escroto de sempre, que só pensa nele mesmo e todos o odeiam, na empresa. Mas eu não consigo mais vê-lo assim.

Quando voltei - sim, porque eu não consegui ir para casa e dormir, sabendo que Alec estava trabalhando sozinho tarde da noite na firma -, a luz da sala de reuniões ainda estava acesa e todo o resto continuava no escuro, como há uma hora, quando saímos.

_ Trouxe comida chinesa. Isabelle disse que você gosta... _ entrei na sala com as sacolas e as coloquei ao seu lado. Ele não pareceu surpreso com a minha volta, o que me aborreceu. Sou tão óbvio assim?

_ Pensei que estava morto de sono e fome e não conseguia mais pensar..._ apenas desdenhou, abrindo as caixinhas e pegando um pouco de comida com o Hachi.

_ Isabelle me levou para jantar _ contei.

_ Ela sabe que você voltou para me alimentar? _ indagou, enquanto comia. Eu sabia que ele estava com fome!

_ Não... eu disse que ia ficar mais um pouco, tomar uns drinks para relaxar, e chamar um táxi depois. Ela estava muito cansada e foi para casa.

_ E você não estava exaaaausto? _ esse deboche!

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