1. Breath

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Por Any Gabrielly

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Por Any Gabrielly

Dizem que os melhores anos da sua vida são os do ensino médio, só esqueceram de contar que os piores dias continuam existindo. E, especificamente para mim, esses dias de glória parecem bem longe de acontecer.

A minha vida é uma grande bola de neve.

A Olga Howard Cooper High school é um lugar dos sonhos, parece que nasceu de um cenário de filme e tem tudo que um jovem de dezessete anos necessita pra ser feliz por pelo menos sete horas do seu dia. E eu realmente não tenho do que reclamar sobre a estrutura, a biblioteca é o meu lugar favorito, mas nós também temos uma quadra coberta e uma arena ao ar livre onde os meninos costumam treinar futebol, salas de aula equipadas com multimídia, aula de canto, dança e música, piscina, uma
cantina que oferece refeições deliciosas e professores no mínimo competentes.

Um sonho, não?
É claro que sim, desde que você seja rica, branca, loira e esbelta. E adivinhe só? Sou tudo que as pessoas daqui mais odeiam: pobre, negra e totalmente invisível. Aqui o caráter das pessoas é medido por quanto elas ganham, assim como a popularidade e a sua própria existência, ou seja, sou apenas uma qualquer respirando um ar proibido pra mim.

E quando você é obrigada a viver em um meio tóxico acaba criando técnicas de autodefesa para escapar da sabotagem, é como se eu não existisse e nem fizesse questão de existir quando atravesso os grandes portões de ferro que nos separam da escadaria no hall de entrada, perco a contagem de quantas vezes respiro fundo antes de encarar o novo dia. Os corredores se transformam em sufocantes câmaras de ar, as paredes se apertam me deixando agoniada e a imensa multidão se agita me empurrando sem querer para uma direção qualquer enquanto tento alcançar meu armário.

Uma, duas, três e me perco de novo até esbarrar no extintor de incêndio e encarar os avisos impressos no rótulo e meus olhos se fecham em uma tentativa de fazer aquela agonia se dissipar. Encaro as pessoas a minha volta e finalmente consigo retomar meus passos abrindo um sorriso assim que enxergo de longe o número "202" brilhando para mim.

Demos sorte, sem gracinhas por hoje!
Pensei comigo mesma ao lembrar do trio insuportável, é melhor continuar invisível. Apesar da lotação de gente afobada às sete da manhã, consigo me encostar no metal gélido e me permito relaxar antes de rosquear a senha e abrir a porta do armário vermelho revelando minha bagunça.

Minha terapeuta costumava dizer que o ambiente reflete o que somos por dentro, se você é alguém que costuma sempre arrumar e organizar tudo é provavelmente um reflexo de uma vontade subconsciente de se organizar internamente também. O Caos à minha frente me levar a crer que ela estava coberta de razão, livros estão jogados e papéis se espalham para todos os lados, o que me faz perder quase dez minutos apenas para procurar o livro de biologia.

Pela primeira vez em uma semana consigo sentir um pouco do que é ter sossego, o trio de najas felizmente ainda não reparou em mim e eu me sinto alguém mais "normal" com isso. Entretanto, caminhando para o laboratório de biologia percebo que não durará tanto tempo assim, Chloe Shepard está na minha turma.

Eros - BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora