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Lili Reinhart

A primeira sessão foi lenta e eu não senti que avançamos muito. Tive que insistir para que Cole falasse em alguns pontos. Sobre sua família adotiva ele parecia mais aberto em relatar detalhes de como os via. Na visão dele, sua mãe e sua irmã eram seres frágeis e que ele tinha a obrigação de defendê-las de qualquer coisa ou qualquer um que parecesse perigoso. Isso ficou claro em eventos específicos como quando ele estrangulou o gato de estimação da família após ele arranhar a sua irmã e rasgar as cortinas compradas por sua mãe.

— O Matthew chegou bem no momento em que o gato estava começando a revirar os olhos. — foi dizendo. — Me impediu de matá-lo no último segundo.

Um clássico sinal de psicopatia era torturar pequenos animais na infância.

— Houve algum outro animal que você tentou ou conseguiu matar?

— Além de insetos e lagartixas? Não. Na época eu não entendia que animais agiam por instinto e achei que o gato estava sendo mal. Foi um erro que não se repetiu.

Isso era curioso. Seria alguma espécie de empatia?

— O que aconteceu com o gato depois disso?

— Ele ficou alguns dias internado e durante esse período a Camila ficou muito brava comigo. Ela nem olhava na minha cara, disse que eu era um monstro. Eu achei que ela estava sendo estúpida porque eu estava apenas querendo defendê-la.

— O seu pai aplicou algum castigo?

— Eu não chamaria de castigo. Disse que eu não iria mais sair para brincar com as outras crianças e eu quis agradecê-lo porque odiava ter que fingir que gostava dos filhos dos vizinhos. Ficar pulando e correndo pelo quintal me parecia uma ideia selvagem e nojenta.

Mais nojento do que mutilar órgãos genitais de homens adultos usando uma foice? Era um tanto quanto irônico ouvir algo assim.

— Você achou que o seu pai fosse aplicar algum castigo físico?

— Todas as vezes que eu fazia algo de errado e ele vinha até mim com aquele semblante de raiva eu me preparava para um tapa, um soco ou ao menos um empurrão. Mas ele nunca encostou em mim dessa forma. Matthew acha que o melhor caráter é formado através do diálogo. — riu com desdém.

— E você não concorda com ele?

— Sei que se ele tivesse me batido em algum momento eu o temeria o suficiente para não desejar queimá-lo vivo enquanto ele dormia. — quando uma pessoa falava do desejo de matar um de seus pais com tanta naturalidade a frase se tornava ainda mais sombria.

— Provavelmente você desenvolveu um trauma sobre a figura masculina já que os primeiros registros de memória da sua vida com homens foram violentos. Por mais doce, amoroso e paciente que seu pai adotivo fosse, você ainda tinha um bloqueio, uma raiva dele só por ele ser homem.

— É o que dizem, doutora. Está nos genes dele ser uma pessoa violenta, todo homem acaba sendo, mesmo uns com os outros. A gente só tem que saber para onde direcionar essa raiva. É fácil ir pra cima de alguém que não sabe se defender como mulheres, crianças ou animais. Não sou um covarde. Sou o predador dos predadores. — sorriu de canto, mas seu sorriso não chegou aos olhos.

— Ainda assim você consegue filtrar a sua raiva. Não ataca todos, mas só aqueles com histórico de violência contra vulneráveis.

— Com o tempo a gente aprende a se controlar. Só podemos julgar alguém depois que a pessoa fez algo ruim, não antes. Esses homens são inocentados às vezes por terem muito dinheiro, outros recebem penas ridículas e saem da prisão em poucos meses. Eu dou a eles o que merecem.

Reaper ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora