Planejamento

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Já faz uma semana.

Uma semana que Eren foi levado. E Levi estava ali, em casa, praticamente sozinho. Mesmo que a sala de estar estivesse totalmente cheia no momento.

Os amigos lhe davam o apoio necessário, mas dentro de seu peito havia um vazio tão grande e doloroso que parecia o consumir aos poucos, como uma ferrugem que corrói o ferro. Suas olheiras fundas indicam que ele não está dormindo o suficiente, a pele está mais pálida, ele não está comendo direito. Os feromônios fracos e apagados atingem todos de uma forma nauseante.

Um cachecol vermelho está sempre em seu pescoço, e os amigos não perguntam o porquê.

No dia posterior à tudo aquilo que aconteceu naquele maldito 2 de março, o alfa tomou coragem e contatou Ymir. A mulher obviamente surtou com Levi, e o próprio apenas ouviu calado, pois acreditava que era realmente sua culpa.

Mas não é.

Assim que Ymir tinha se acalmado, Levi contou o que planejava fazer e, mais uma vez, Ymir foi óbvia em sua reação, decidindo ajudar sem hesitar.

Depois disso, Levi mandou uma mensagem para Hanji. Talvez ela pudesse ajudar, não é? Mas a beta não trabalhava mais na IPPO, fora demitida. Porém, era mais que uma enfermeira, era amiga de Eren. E também insana o suficiente para ingressar naquela missão de resgatar o ômega e derrubar uma instituição.

Na mesinha de centro de sua sala de estar estava uma planta do prédio da instituição que levou Eren Jaeger. A única vantagem deles, nesse momento, era a quantidade de pessoas e saberem exatamente onde ele estava.

A sete anos atrás, Nicolo e Sasha não sabiam, e o ômega não pode ser resgatado. Dessa vez iria ser diferente.

Amontoados no cômodo, um grupo muito inesperado para uma missão como aquela: Ymir e Historia, Nicolo, o casal Arlert e Levi Ackerman, pessoas que trabalham em restaurantes e cafeterias e com pouca ou nenhuma experiência em combate. Uma farmacêutica e ex-funcionária da IPPO, Hanji Zoe. Por último, Mikasa Azumabito, enfermeira e aquela que propôs essa missão estranha e com chances de vitória indefinidas.

— Zoe, você ainda guarda seus cartões de acesso? — a alfa asiática questiona, enquanto o grupo analisava a estrutura do prédio que seria invadido.

— Ainda o tenho, mas o meu não foi desativado? — ela ajustou os óculos que caiam pela ponta de seu nariz.

— Foi sim, mas eu posso reativar ele com facilidade. Se você já tiver o seu, me poupa um pouco de trabalho — a míope assentiu, entendendo onde Mikasa queria chegar.

— Perdoem a minha ignorância — Annie quebra o diálogo das duas, fazendo um questionamento que era o desejo de todos os outros do grupo — Mas, de que cartão de acesso vocês estão falando?

— É uma espécie de chave, a única coisa que abre e tranca as portas da instituição. Todos vamos precisar de um, a menos que queiram sair arrombando tudo à moda antiga.

— É como a Hanji explicou — a Azumabito confirma, interrompendo Hanji antes que ela sugira arrombar algo a mais — Eu tenho o que utilizo no trabalho todos os dias e o meu reserva, como ela também já tem dois, ainda preciso arrumar mais quatro.

— Três — quem fala dessa vez é Ymir — Historia não pode entrar, está grávida. Se algo acontecer com ela eu nunca irei me perdoar.

— Embora eu também queira lutar, não posso colocar a vida de minha filha em risco — Historia completa, franzindo as sobrancelhas em uma culpa que não deveria sentir. Todos entendiam o porquê de ela não poder ajudar naquilo — Mas eu tenho habilidades suficientes para invadir as câmeras de segurança, isso vai ser útil, não vai?

— Certamente, eu realmente achei que isso nos seria um problema, é bom que você possa fazer isso pela gente. Mas ainda serão quatro, minha esposa pretende ajudar.

— Fico feliz!

— Mas quando vamos fazer isso? — Levi questiona, falando depois de um bom tempo em silêncio. Sua voz saiu firme, porém a dor era mais do que evidente, era quase palpável — Isso não pode demorar muito!

— Devemos ter paciência, Levi. Se sairmos como loucos abrindo tudo sem planejamento algum, vamos falhar de uma forma tão boba que será humilhante!

— Se fosse a Annie naquele lugar maldito você não estaria tão calmo, não é, Armin?! — Levi retruca um pouco mais alto e grosseiro, assustando todos os presentes com a sua reação inusitada. Armin se manteve firme em seu posicionamento.

— Ao contrário, eu teria juízo o suficiente para não fazer algo impensado que a colocasse em risco.

Isso fez ele se calar.

Talvez Levi não quisesse ser grosseiro com o melhor amigo, mas ele não conseguia evitar. Eren tinha se transformado em um ponto seguro, o trazia luz e amor, e o fato de que ele com certeza está sofrendo enquanto eles estão conversando faz seu estômago revirar e o sangue de seu corpo borbulhar de ódio.

— Vamos focar no planejamento, por favor. Olhem — os dedos de Mikasa correram pelo mapa do lugar, e pararam indicando uma porta aos fundos — Vamos entrar por aqui, com ajuda dos cartões de acesso. Teremos que percorrer vinte andares de quartos onde os ômegas ficam presos, e há também os cinco restantes, mas esses não são um problema. E como eu tinha dito, vai haver apenas um guarda em cada local para ser neutralizado.

— Mas e os ômegas que estão lá? Se o libertarmos, o que eles vão fazer? — Nicolo quem levanta aquela questão.

— O certo a se fazer seria ajudá-los a voltar a suas pessoas queridas, mas não dá para fazermos isso sozinhos — Annie diz.

— Se quisermos acabar com as instituições, não só da nossa cidade, mas do país todo, precisamos do depoimento de cada ômega que ficou preso lá e isso tem que ir ao ar, junto com as imagens das câmeras de segurança e o tratamento desumano que recebem.

— Levi está certo — Ymir concorda — Paradis é só uma gota de veneno em milhares de litros. Temos que esvaziar esse mal de uma vez, cada gota. Não somos muitos, nem tão fortes assim, mas a mudança precisa começar de algum lugar e nós seremos o estopim!

Todos assentiram com firmeza, prontos para o que viesse a seguir.

— Ok, vejamos. Assim que Historia tiver o domínio do sistema de câmeras, entramos lá — ela sinalizou o percurso que seria feito, da porta dos fundos até os andares onde ficam os quartos — Quatro de nós vão liberando os ômegas, e os outros quatro os conduzem até a recepção. Nada vai ser visto do lado de fora, o prédio é totalmente revestido por vidro espelhado.

O planejamento seguiu, detalhes sendo apontados, estratégias feitas e refeitas muitas vezes. Muitos questionamentos foram levantados, dos quais a resposta era, na maioria das vezes, indefinida.

Era algo muito preciso. Ou poderia dar muito errado, ou eles poderiam ter algum sucesso. A incerteza e o receio com toda certeza pairavam no local, a dúvida os destruindo.

Seriam bons o suficiente para conseguir uma façanha tão grandiosa como aquela?

Mas, não importa o quanto eles planejarem, não se sabe realmente o que os aguarda na madrugada em que entrarão em ação.

— Parece que estamos prontos para isso! — a Azumabito concluiu em um suspiro longo, deixando uma lufada de ar escapar por seus lábios rosados — Nos encontraremos para conferir o nosso equipamento e depois…

— Depois disso será a noite decisiva.

Unidos Pelo Sistema - ! RIREN/ABO -Onde histórias criam vida. Descubra agora