Desmoronando

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Muito cedo naquela manhã, a notícia da invasão da maior instituição de preparo para o ômegas da cidade já estava estampada em noticiários, sites e redes sociais.

—  Na madrugada desta quarta-feira, dia 13 de março, a principal instituição de Paradis foi invadida — a voz de uma jornalista beta soava na sala dos Delyon, onde todo o grupo que participou da invasão ainda estavam reunidos. Todos completamente exaustos por toda a ação, não tiveram  condições de seguirem para suas casas ou irem aos seus empregos pela manhã. Além do mais, queriam estar todos juntos para quando as primeiras notícias saíssem, principalmente depois que Historia vazou nas redes as gravações das câmeras de segurança, onde o tratamento desumano que os ômegas recebiam era totalmente explícito — Acredita-se que se trata de um grupo terrorista que buscava causar o caos na cidade. Porém, até agora não há nenhuma prova que possa indicar possíveis culpados.

— É sério essa merda? — Louise ergueu a voz, indignada — Grupo de terroristas…

Isso mesmo, Nanaba — o segundo jornalista começa a falar — Entretanto, as imagens das câmeras de segurança do prédio que foram vazadas ainda pela madrugada, revelam tratamentos totalmente antiéticos e doentios por parte da maioria dos enfermeiros, sendo algumas das imagens reveladas extremamente perturbadoras. Mas, o Hacker que invadiu o sistema tomou o cuidado de ocultar os rostos dos ômegas que sofreram as piores agressões e abusos. Então, nos resta o seguinte questionamento: essas pessoas anônimas são realmente delinquentes ou na verdade se tornaram os heróis desta história ?

— Parece que eles estão em dúvida, mas a resposta não deveria ser óbvia? — Ymir, que estava abraçando  Historia, as duas deitadas em um sofá e cobertas por uma manta leve, resmungou irritada — Nós salvamos aqueles ômegas!

— Sim, nós salvamos… — Levi fala baixo, e seus olhos descem para a pequena garotinha que dormia tranquilamente em seu colo. Ele ainda não sabia nada sobre Elise, mas entendi o quanto ela certamente já sofreu — Mas, ainda existem muitos ricos e lunáticos que defendem a IPPO.

— Na internet, todos estão comentando contra a IPPO. Subiram até uma hashtag, a #savetheomegas — Historia fala, deslizando o dedo sobre o tablet e lendo várias mensagens em apoio ao grupo anônimo que teve a coragem de salvar aquelas pobres pessoas que viviam presas naquele horrível lugar — É irônico que até que nós não tínhamos tomado uma atitude, ninguém teve a coragem de falar um pio. Ao menos, agora as chances desse sistema acabar finalmente são muito maiores.

Todo o grupo ficou em silêncio novamente.

Eles estavam exaustos demais e mal conseguiram processar todos os acontecimentos recentes. Annie consolava o marido, que não conseguia aceitar o fato de ter causado uma morte, e a loirinha também estava totalmente desolada com o fato de não terem conseguido salvar Eren, que era um amigo tão especial para si.

Mikasa estava bastante silenciosa, em partes pela rouquidão presente em sua voz, já que ela passou horas gritando avisos, em partes pela exaustão. A situação de Louise também não era muito animadora, a ômega estava tão cansada que poderia apagar a qualquer minuto, suas pernas estavam doloridas e ela encontrava-se totalmente bagunçada. E nem a sua tradicional animação em momentos inoportunos se fazia presente.

Nicolo tinha subido até o quarto para ver a esposa e também a filha, mas para Sasha, não teve a coragem de contar que Eren não estava com eles. Ou que ele estava preso na casa de Erwin Smith. Em seguida, mandou que um de seus empregados providenciasse um café da manhã para os amigos dele. Não muito depois disso, apagou completamente em sua cama e ainda dormia.

Hanji estava roncando, estirada no tapete da sala. Ela parecia confortável.

Levi era, com certeza, o mais afetado ali. O homem não tinha dormido nada desde que chegaram na casa, e, embora tenha demonstrado uma extrema força na frente dos amigos, quando decidiu que daria um jeito de salvar Eren, não importando qual fosse, ele não se sentia tão forte assim, não mesmo. A única coisa que desejava naquele momento era poder correr para os braços de seu amado e chorar até não conseguir mais.

— Eu… eu vou para minha casa — ele disse baixo — Eu preciso de um tempo sozinho, me desculpem. Mandem alguma mensagem no grupo, se for preciso.

Annie se levantou, deixou um beijinho na testa do marido e parou em frente a Levi, apoiando as mãos em seus ombros.

— Você vai ficar bem? — ela assentiu, mesmo sabendo que aquilo não era verdade — Por favor, prometa que vai me chamar caso precise de absolutamente qualquer coisa, ok?

— Annie…

— Levi, você é o meu melhor amigo há anos, eu te conheço e sei que está escondendo o que sente de verdade, mas também sei que não vou conseguir arrancar resposta alguma de ti, não contra a sua própria vontade. Então, no mínimo, prometa que se precisar de ajuda, ou apenas de um ombro amigo, não vai hesitar em me ligar.

— Muito bem, eu prometo para você.

Annie sorriu, dando um abraço no amigo com alguma dificuldade, já que a pequena Elise está enroscada nele como um gatinho.

O alfa ajeitou melhor a criança em seu colo e se despediu dos amigos.

Assim que se sentou do banco do motorista, Levi mordeu os próprios lábios e precisou de muita força de vontade para evitar que derramasse mais lágrimas. Elise suspirava enquanto dormia, encolhida no banco de trás do carro.

Ele não aguentava mais toda aquela situação, toda a dor que ele estava passando e tudo que foi causado graças a sua união com Eren. O quase sequestro de sua sobrinha algum tempo atrás, Sasha sendo baleada, Hanji perdendo um emprego, Eren preso na mansão dos Smith, todos seus amigos, sua prima e Louise foram arrastados para todo aquele caos, Armin tinha matado uma pessoa… e o loirinho estava extremamente mal por isso, não conseguia aceitar aquele fato. Mesmo que ele tivesse escolhido aquilo, para não perder o amor de sua vida, um nó em seu estômago se formava apenas por ter a memória gravada em sua mente do homem caindo no chão e o sangue respingando em suas vestes.

Tudo parecia estar desmoronando.

— Meu amor, onde você está agora, o que você está sentindo?

***
Eren, desesperado, recuou o máximo que podia. Suas costas bateram contra a parede fria do quarto enquanto Erwin Smith se aproximava aos poucos, o encarando com um olhar perturbador, como uma fera enorme encurralando sua presa pequena e indefesa.

Ele queria gritar, mas já não tinha mais voz suficiente para isso. Estava fraco, tremia assustado, e tentou em vão afastar o alfa de feromônios extremamente desagradáveis quando ele se pôs em sua frente, o apertando ainda mais contra aquela parede. Uma mão apertou sua cintura dolorosa e possessivamente.

— Seja bonzinho, meu amor, e eu prometo recompensá-lo — Smith sussurrou, tão próximo do rosto de Eren, que o ômega podia sentir a respiração e o hálito quente batendo em sua face. Uma das mãos do alfa deslizou pelo rosto do ômega, em uma carícia que o enoja. De repente, a mão do alfa foi atingida por uma dor intensa e aguda, Erwin a afastou rapidamente, e pingos quentes de um líquido carmesim iam de encontro ao chão naquele exato momento. Um caminho de sangue fluindo diretamente dela.

Eren tinha o mordido. Forte o suficiente para ferir a carne e uma boa quantia de sangue escorrer pela mão.

— Sua vadia! — Erwin lançou-lhe um olhar irritado e um estalo alto cortou o ar, a mão que não havia sido ferida voou ao encontro do lado direito do rosto do ômega, que cambaleou para o lado, tal era sua fraqueza no momento — Depois de tudo o que fiz para tê-lo, é assim que me trata?!

O alfa saiu do quarto, extremamente irritado.

A porta foi novamente trancada.

Eren deslizou pela parede, se deixando cair no chão. O lado direito de seu rosto ardia e as lágrimas já voltavam a verter em seus olhos, novamente. Porém, a dor física não poderia ser nem minimamente comparada com o que o moreno sentia naquele momento. Seu coração, mais do que tudo, doía como um inferno, e ele só desejava poder ter tido mais tempo ao lado do homem que amava.

— Levi… — sua voz saiu fraca e dolorosa, quebrada.

Apenas um murmúrio baixinho e suplicante que não seria ouvido por ninguém.

Unidos Pelo Sistema - ! RIREN/ABO -Onde histórias criam vida. Descubra agora