E lá estava ela, uma garota qualquer de 13 anos, estudando em um colégio de Hell's Kitchen em Maio de 1980. A jovem presenciava mais uma das inúmeras aulas já presenciadas. A matéria? A que ela menos odiava. Os colegas? Ela odiava a todos, e todos a odiavam, e todos odiavam a todos. Não apenas na escola, mas na sociedade. Crimes eram cometidos todos os dias, desde os mais leves até os mais violentos. Hell's Kitchen estava um verdadeiro inferno nos últimos anos, mas a tal garota sempre anotava em seu caderno as palavras ditadas pelo professor durante a aula.
Ela era esforçada, inteligente, e mesmo odiando aquele lugar, ela se dava muito bem, tirava boas notas e se destacava no colégio. Entretanto, em um certo dia de aula, ela se sentou na carteira a qual ela sempre sentava todas as aulas, mas diferentemente dos outros inúmeros dias, seu rosto apresentava um machucado no olho altamente visível e fácil de ser notado. O que seria aquilo? Uma pancada? Um soco? Ninguém sabe ao certo... A única coisa que é certa é que o machucado era feio. O seu olho estava completamente roxo.
Como ela não tinha amigos, ela não tinha com quem conversar na escola. Ela estava isolada. Ninguém se importava com ela. Ninguém se importava se ela tirasse uma nota 0 na matéria que ela detestasse ou se ela tirasse um 10 na sua matéria favorita. Ninguém nem se dava o prazer de olhar para a garota no meio da sala de aula. Porém, neste dia, as coisas vão mudar... O professor entrou na sala, preparou todo o seu material para dar a aula, posicionou-se de costas para o quadro negro e, antes de pronunciar qualquer palavra, ele notou o machucado no rosto da garota. Ele fitou a mesma nos olhos, sem dar atenção ao restante dos alunos, esperando ela retribuir o olhar, mas a garota estava de cabeça baixa, desenhando em seu caderno.
Ele decidiu chamá-la.
— Dorothy Wallace Floyd. — Pronunciou o professor, vagarosamente.
Antes, a sala de aula estava barulhenta por conta das conversas dos alunos, mas foi só dizer aquele nome que a sala ficou em silêncio. A garota não soube o que responder. Ela estava desenhando quando o professor a chamou. Era como se a sala toda estivesse a encarando, aguardando por uma resposta da jovem para continuar com suas conversas. A garota congelou. Apenas encarou o professor, com medo de respondê-lo. Cada segundo se pareciam horas horripilantes para a jovem, até que ela respirou fundo, e tomou coragem para dizer algo.
— Professor? — Disse Dorothy, a pobre garota dos cabelos grisalhos e da pele pálida e macia como a neve.
A sala toda se virou para a garota naquele exato momento. Pouquíssimos alunos haviam escutado a tão doce e meiga voz de Dorothy. Uma voz suave de uma criança inocente. Alguns sussurros ecoavam pela sala de aula. "Meu Deus, a garota falou", "A grisalha falou!", "A garota disse alguma coisa". Comentários deste tipo eram feitos naquele ambiente escolar na década de 1980.
— Eu notei que tem um... Machucado... No seu rosto. Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Novamente, a garota gelou. Na sua mente, parece que houve um curto-circuito, um distúrbio, um turbilhão de sensações, sons e imagens, mas ela se manteve estável neste turbilhão mental, sem se mexer e sem se enjoar. O que ela estava pensando? Ela estava lembrando, tendo um flashback, resgatando memórias dentro de um lar para inúmeras memórias horripilantes dentre as quais ela tinha desgosto só de lembrar. Lembrou de quando lia os jornais a cerca dos crimes cometidos em sua cidade, o trauma pelos acontecimentos brutais, o medo daquilo acontecer com ela... A garota se lembrou do que aconteceu com ela para que seu rosto ficasse com aquele machucado roxo. Ela desviou a atenção e o olhar do curto período de tempo.
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Déspota Remanescente
Historical Fiction🏆 ELEITO COMO UMA DAS MELHORES HISTÓRIAS DE 2022 pela Equipe AmbassadorsPT Estrategista, implacável e treinada para ser a maior assassina do planeta, Dorothy Floyd adota uma nova vida na tão sombria Facção Primária com o codinome Déspota Remanescen...