Capítulo 4: A Facção

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Hoje é dia 6 de Julho de 1985, é sábado, não tenho aula hoje. Nem esgrima e nem da escola. Eu, Dorothy Floyd, estou em casa, sentada no sofá com uma coberta no corpo. Tá fazendo muito frio, e eu tô congelando. O que eu tô fazendo? Nada, só assistindo uns programas de entretenimento na televisão. Meu pai saiu há pouco tempo para ir numa padaria, então eu tô sozinha em casa. Eu, Dorothy Floyd, na sala da minha casa, assistindo televisão num sábado muito, muito frio. Às vezes eu tenho pena de mim mesa, mas o que eu posso fazer? Eu só quero ser livre, quero ser uma déspota remanescente. Quando foi que a minha vida foi feliz? Minha mãe morreu no dia em que eu nasci. Eu não tenho nenhum amigo. O meu único amigo é o meu pai. Ele é a única pessoa a qual eu me importo. Que hilário, uma mulher de 18 anos sem amigos ou amigas, vivendo só com o pai, assistindo conteúdo infantil na televisão.


De repente, eu ouço alguém batendo na porta. Era o meu pai. Me levantei do sofá e deixei a coberta nele. Fui abrir a porta para o meu pai, mas não havia ninguém. Achei estranho. Dei um passo à frente, e fui pega desprevenida: levei um soco de alguém que estava à minha esquerda. Eu fui revidar, mas o desgraçado desviou e me acertou com um soco muito forte no queixo. Tão forte foi aquele soco que eu quase desmaiei. A única coisa que eu via era uma pessoa baixa e mascarada, uniformizada com um terno preto, semelhante ao terno que o sujeito no meu pesadelo de 13 anos usava. Oh céus, o que está acontecendo? Isto não é um sonho, é real demais pra ser um sonho. Eu só senti uma sacola preta sendo colocada na minha cabeça, e senti também uma corda amarrando meu pescoço. Eu tentei arrebentar aquela corda. Eu resisti, mas de nada adiantou os meus esforços. A corda não se rompia. Levei um soco tão forte na barriga que eu quase vomitei. Eu não enxergava nada e mal ouvia o que estava ao meu redor. Minhas mãos foram amarradas. Aquilo era um sequestro. Eu estava sendo sequestrada, e estava resistindo, mas de nada adiantava. Eles eram fortes.


A única coisa que eu senti foi uma pancada forte na cabeça, e depois disso eu acho que eu desmaiei. Eu não enxergava nada, só sabia que estava sentada. Eu estava em um carro? Era o que parecia ser. Eu estava com alguma coisa na boca que me impedia de falar. Eu não sabia ao certo o que era aquilo e nem o que estava acontecendo, mas eu estava com muito medo, pois eu não sabia aonde eu estava indo. Eu não sabia o que ia acontecer comigo. Iam me matar? Me torturar? Me fazer sangrar? Eu já sofri muito nessa vida, mas nunca me aconteceu de eu ser vítima de sequestro. "Levem ela", eu ouvi um homem dizer. Eu decidi não me apavorar. Senti duas pessoas agarrando meus ombros. Elas me ajudaram a me levantar, então eu achei que eu estava, de fato, num carro. Eu não enxergava nada, mas eu estava sendo levada sabe-se lá aonde. Andei por alguns minutos, até que eu parei. Me colocaram sentada numa cadeira, romperam a corda que estava no meu pescoço e tiraram a sacola preta da minha cabeça. Eu estava numa sala escura, muito escura, iluminada apenas por uma pequena lâmpada incandescente. O que havia na minha boca foi tirado por alguém. Eu tava de frente a um homem velho, e estávamos sentados bem perto de uma mesa quadrada. Olhei pros lados e vi dois homens apenas, e uma porta de metal. Apenas isso. Não havia nada a mais naquela sala.


O homem estava fumando. Despejou alguns papéis sobre a mesa. Parecia ser uma biografia. Foi aí que o homem decidiu falar alguma coisa.


— Você é a Dorothy Wallace Floyd, não é mesmo? — Perguntou o homem, olhando friamente para mim.


Eu simplesmente não sabia o que dizer. Nem conhecia aquelas pessoas. Não sabia se elas queriam me fazer mal, mas eu suspeitava que sim. Do jeito que todos me tratam eu não espero nada além de uma surra. Olhei a um dos dois rapazes atrás de mim, franzindo o cenho e olhando ao velhinho novamente.

Déspota RemanescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora