Capítulo 2: A Revelação

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15 de Maio de 1980. Dorothy estava acordando. Seu pai não tinha acordado ela. Dorothy se levantou, bocejando. Seu sono foi tão bom quanto deitar a cabeça em um travesseiro de nuvens macias e confortáveis. A garota se espreguiçou ali mesmo, no sofá. Aquela boa sensação de acordar cedo em um dia ensolarado e frio, mas não muito frio, um frio confortável de gelar a pele, aquele frio que te faz desejar não sair da cama logo de manhã... É uma sensação indescritível.


Dorothy sabia preparar café, então ela mesma o preparou. Enquanto esperava o café ficar pronto, Dorothy colocou um disco de vinil dos Beatles no toca-discos que havia em sua casa. Não era uma casa tão sofisticada, mas continha uma série de eletrodomésticos presentes ali. No canto da sala, uma escrivaninha repleta de fotografias de Ethan e Dorothy juntos. Uma das fotos mostrava Ethan comprando um disco de vinil dos Beatles para sua filha para presenteá-la no seu aniversário de 10 anos. Ela amava os Beatles. Era sua banda preferida dentre as várias bandas da época de 1980. Enquanto a jovem esperava seu café ficar pronto, ela ouvia a doce melodia de The Long And Winding Road, observando de longe as fotos presentes nos cantos da sala. Apenas fotografias dela e de seu pai estavam espalhadas pela casa. Nenhuma figura materna, só paterna. Dorothy avistou uma fotografia incomum presente ali. Decidiu vê-la de perto.


A garota dos cabelos grisalhos caminhou vagarosamente até uma pequena estante de madeira escura a qual se encontrava aquela foto. Na mesma estante, um pequeno vaso com um cacto, um envelope de cartas aberto, outras fotografias e uma máquina datilográfica levemente empoeirada. O cacto estava em boas condições, mas a máquina datilográfica... Dorothy pegou aquela fotografia presa em quadro de fotografias. Era uma mulher ao lado de um Ethan Floyd mais jovem. O coroa não apresentava um cabelo tão grisalho quanto o que tem agora. A mulher era bonita, estava sorridente na foto, tinha longos cabelos negros e seu rosto se parecia muito com o rosto de Dorothy. Na foto, Ethan estava à direita daquela mulher. Ambos estavam sorrindo, de costas para a casa de Dorothy, que na fotografia, apresentava um tom de marrom mais claro. À mão da mulher, uma aliança semelhante à aliança de Ethan. Dorothy ficou perplexa, sem saber o que dizer. Uma expressão de dúvida surgiu. Então, três batidas na porta puderam ser ouvidas por Dorothy.


Dorothy rapidamente virou seu rosto para a porta. Colocou a fotografia de volta no lugar aonde estava. Levemente assustada, a garota foi andando bem devagar na direção da porta. Quando ela se aproximou dela, pôde ouvir seu coração batendo forte. Não sabia quem estava ali, obviamente, mas ela temia por algo ruim. Ela teve um péssimo pressentimento. Encaixou a pequena mão na maçaneta, com medo de abrir a porta. Cerrou seu punho com força e abriu a porta. A garota estava assustada. Era seu pai, Ethan, com os braços cheios de sacolas. Ele havia saído para fazer compras.


— Pai? — A garota se tranquilizou.


— Oi filha, bom dia. — Ele caminhou para dentro de casa. A garota lhe deu passagem. Era uma quantidade imensa de sacolas pesadas que Ethan carregava consigo. Guardou todas as sacolas na cozinha e foi tirando os produtos comprados, um por um, guardando em prateleiras e na geladeira próxima ao forno, que estava logo à direita da geladeira.


A melodia da música ainda estava tocando. A garota fechou a porta e foi ajudar seu pai a guardar as compras em seus respectivos lugares. Haviam cinco prateleiras superiores e quatro inferiores. Temperos na primeira prateleira de cima. Grãos na segunda. Pratos e talheres ficavam nas prateleiras inferiores, assim como alguns potes, panelas e frigideiras. Nada de misturar itens das prateleiras, aquilo era inadmissível para Ethan e Dorothy. Ethan estava cansado. Dava para ver as gotículas de suor na sua testa e em sua nuca. Sua respiração estava ofegante, mas Dorothy tinha uma pergunta a fazer enquanto ambos arrumavam as compras.

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