Dazed and confused

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Sentei ao lado de Sarah que choraminga trêmula sem parar, seu rosto parecia está em brasas por causa dos últimos acontecimentos, quando a fitei discretamente e vi que esfregava suas mãos uma na outra sem parar demonstrando sinal de nervosismo me fazendo desejar que tudo aquilo fosse apenas mais um pesadelo.

Suspirei pesada passando o braço ao redor de Sarah a puxando para o meu colo de forma protetora sob os olhares dos Stevens e de um policial que estava perto da porta, desejei mais que tudo que eu morresse para por fim em todo aquele sofrimento que me dilacerava silencioso por dentro. Fechei os olhos sentindo as pontadas agudas me sacudindo a cabeça, a imagem dos meus pais mortos me assombrava a todo instante, a dor da perda parecia palpável. Nunca imaginei o mundo sem eles e agora eu estava ali a mercê sem saber com reagir.
Eu não queria perder o controle, pressionei meus lábios com força para impedir os soluços que mantinha presos na garganta me denunciassem; Passei a mão acariciando os cabelos de Sarah, eles eram muitos parecidos com os cabelos de nossa mãe, a mesma cor e o modo como pendiam sobre seus ombros eram idênticos. Quis dormir só que não tinha sono, deixei então que meus pensamentos me guiassem para algum lugar menos sofrido.
*Tinha algo dentro de mim que só crescia me dando a sensação que se fosse libertado teria um efeito devastador.*
Ficamos em completo silêncio por longos minutos, eu queria sair dali e ficar um tempo sozinha pois necessitava colocar Tudo pra fora. Minha irmã finalmente parou de chorar e parecia entorpecida depois de um tempo. Meu coração martelava toda vez que me lembrava o que vi dentro de casa, a realidade me torturava de segundo em segundo exigindo o máximo do meu auto controle para não desencadear uma série de emoções reprimidas. Minha cabeça doía, tanto no machucado coberto pelo curativo na testa como na dor psicológica. Tive meus braços e pernas arranhados e cortados por estilhaços do espelho mas esses machucados não se comparavam com a dor que eu sentia no coração. E tinha a outra coisa que me apavorava e que ninguém acreditaria se eu contasse, a coisa que foi responsável pelas mortes dos meus pais e pelas escoriações que carrego em meu corpo. Talvez o que eu pensei ter visto e ouvido foi resultado da minha mente fértil ou de uma crise mental, É bem provável que eu esteja ficando louca, só assim as coisas que eu vi teria alguma explicação.

- Srta. Sarah e Melanie Collins? - A voz masculina soou de repente me arrancado dos meus devaneios abruptamente. Sarah ergueu seu tronco se sentando fungando.
- Pois não? - Respondeu com a voz pós choro.
Continuei imóvel e em silêncio contemplando o vazio.
- Sou o detetive Parker e esse é o detetive Wilson, somos do FBI.
Olhei discretamente para o homem que se apresentou e consequentemente vi o outro agente, Wilson era moreno e bem mais alto que o primeiro.
" O que será da gente, meu Deus? - pensei. - O que será que vai acontecer comigo?"
- Precisamos saber o que aconteceu na sua casa essa noite. - a voz do detetive Wilson era mais suave.
Me mantive na mesma posição os ignorando, eles não poderiam me ajudar, aliás, ninguém podia. Eu não queria falar com ninguém a essa altura eu tinha a impressão que minha voz tinha sido roubada de mim, pois eu não encontrava ela em nenhum lugar e sinceramente eles não acreditariam em mim. - ri amargurada por dentro.- eu acabaria em um hospício taxada como louca! Não havia mais nada a ser feito, meus pais morreram e isso era irremediável.
- Bom - A voz de Sarah vacilou insegura.- Acordei com Melanie me chamando e dizendo que tinha homens dentro de casa. Ela entrou pela janela já que eu durmo com a porta trancada, foi tudo meio louco. - sua voz soou chorosa. - Ela abriu o closet e me mostrou uma passagem secreta que dava para o quintal, foi assim que eu conseguir chegar aqui e pedi ajuda. Mel me empurrou lá pra dentro e mandou eu correr pra cá e chamar a polícia. Eu pensei que ela estivesse atrás de mim, mas não estava! Ela ficou um tempo dentro da casa e só apareceu acompanhada de um Policial e com esses machucados. Não entendi direito, mas parece que ela foi encontrada desmaiada dentro do quarto trancado. - Senti a mão dela em minhas costas. - Ela não falou nada até agora e se recusa a falar, acho que está em choque porque eles maltrataram ela também.
Sarah falava com se eu não estivesse lá, um nó se formou em minha garganta me Deixando com falta de ar.
- Melanie, poderia nos contar o que aconteceu quando Sarah saiu? - A voz suave do detetive Wilson roubando minha atenção. Eu já estava cansada dessas perguntas, virei o rosto lentamente olhando nos olhos do rapaz que me fitava ansioso; Franzi os lábios contendo a vontade de gritar histérica.
- Não, detetive. -respondi ríspida. - Eu não posso te contar o que aconteceu lá porque eu não vi nada. Porque eu me tranquei no quarto e quebrei o espelho com a minha cabeça. - Menti descaradamente afim de me livrar deles. - Eu não vi nada. Eu não sei de nada. Satisfeitos? Olhei para os dois com raiva. Parker que aparentava ser mais velho me encarou intrigado.
- Desculpe, srta. Collins só queremos ajudar. - Parker falou baixo e firme.
No fundo eu sabia que ninguém poderia me ajudar.
- Os senhores querem me ajudar? - falei fria trincando os dentes. - Ok, trazem meus pais de volta!
A postura dos dois mudou, o detetive Parker me pareceu impaciente já o outro me fitava compadecido e por alguns segundos os dois se comunicaram com uma troca de olhares.
- Eu sei que é um momento difícil e eu sinto muito. - O seu semblante era triste e carregado de pena com se ele se importasse com os nossos sentimentos. Aquilo me irritou profundamente.
- Poderia me fazer um favor, agente Wilson?- Perguntei. Meus olhos pularam do detetive Wilson para o Parker e voltei a encarar o Wilson.
- Claro. - Falou sem mudar sua expressão.
- Para de agir como se estivesse ligando para o que estamos sentindo e tira esse ar de bom moço da Cara porque você não me convence! - O encarei sem medo. - Vão embora e nos deixem em paz!
- Melanie! -Sarah me repreendeu assustada e envergonhada.
Ignorei fitando os policiais com raiva.
- Você está enganada, srta. Collins. - Parker me fitou ignorando os pedidos de desculpas de minha irmã.
Fiquei de pé sentindo o machucado em minha testa latejar, o encarei com indiferença.
- Tô nem aí. - disse cética.
Cruzei os braços enquanto caminhava para o lado de fora da casa dos vizinhos. Sai sob os olhares dos detetives, de Sarah e do policial que estava na porta e caminhei para algum lugar que eu pudesse ficar sozinha. Já no quintal dos Stevens prossegui sorrateira para não chamar atenção dos policiais que ainda analisavam a casa. Estava frio e todo o meu corpo e arrepiava a medida que o vento açoitava minha pele exposta; comecei a chorar deixando por fim as emoções saírem com meu cérebro gritando as mortes dos meus pais, os demônios, os medos.. Tudo! Me arrastei arrasada até o quintal dos fundos da minha casa com as pedras machucando meus pés descalços. Tentava, sem sucesso, acabar com os soluços que me rompiam a garganta em palavras não posso descrever o tamanho da dor que estava sentindo. No canto mais escuro quintal, deixei meu corpo ser amparado pelo grama úmida fechando os olhos com força.

Em toda a minha vida eu nunca me sentir tão atordoada e confusa com me sentia nessas últimas horas. ***

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