Hey, salve me

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O som que sai estrangulado é da minha própria voz. Empurro Sam para longe para me livrar das coisas que me apunhalavam, a onda de pavor se espalhou rapidamente e me atordiu me deixando sem rumo.

- O que diabos foi isso? - pergunto estupefata.
O beijo que Sam me roubou me deixou sem ar.
- Melanie... eu... aí m-me desculpa. - diz entre pausas parecendo aflito. - Não sei o que me deu, eu não sou assim, foi mal.
Suspiro sem saber como reagir aquela investida, só seu que me sinto quente e com o coração espancando o peito.

- Isso não é certo... - murmuro para mim., porque no fundo, por trás de toda aquela neblina do luto surgiu algo ligeramente bom assim que Sam me beijou, eu gostei, e bem no fundo eu queria mais.
Fecho os olhos com força tentando afastar o que eu estava tentando sentir.
- Eu sei, mas me desculpa eu simplesmente não sei o que aconteceu... - sussurra para não chamar atenção.
Passo a mão na testa cansada de ouvir Sam, abro os olhos e o encaro determinada.
- Certo, Sam mas que isso nunca mais aconteça. - falo com um nó na garganta. - Eu quero ficar sozinha.
Nos fitamos por um breve momento e mesmo relutante Sam me deixa sozinha sem pestanejar.
Algo em mim está estranho, não sei discernir o que mas sei que estou mudada, ainda sinto a sensação de ter os lábios dele sobre os meus e aquele sentimento de arrependimento e prazer martelando meu cérebro. Penso que é totalmente errado querer que Sam me beije de novo, mas eu penso e tenho vontade de sorrir, mas aí penso nos meus pais mortos e tudo parece tão errado e injusto que não resisto aos sentimentos da perda, do medo, da descoberta que estou aos prantos. De novo.
****
Acordo subitamente com uma sensação estranha, olho no relógio em cima do criado-mudo que marca 3h15am , suspiro frustrada por ter acordado essa hora e sou atacada por um odor horrível, ovo podre, o mesmo cheiro do quarto dos meus pais no dia em que eles morreram.
Me levanto sonolenta e com o estômago embrulhando por causa do fedor e caminho até a janela, não há luar e nem estrelas tudo parece um breu. Olho na direção do parquinho onde eu custumava brincar quando era mais nova e me sinto nostálgica por lembrar das vezes em que papai e mamãe brincavam comigo.
Afasto aquelas lembranças e fecho os olhos triste, um barulho estridente me sobressaltando obro os olhos e vejo lá distante o balanço no familiar vai e vem de sempre e o gira-gira circulando junto com as gangorras subindo e descendo. Sozinhos.
Meu estômago se contrai; não estou sozinha.
- Olá, Melanie.
Nunca ouvi aquela voz, baixa e arrastada como se fosse um suspiro profundo.
Não sinto medo, pelo contrário, é como se aquela voz fosse capaz de preencher o vazio que se estalou em meu peito.
- Quem é você? - pergunto sem me virar e continuo encarando os brinquedos mágicos.
- Sou você. - responde suave.
Suspiro profundamente.
- Como isso é possível? - digo curiosa.
Os segundos se arrastam ao som do parquinho.
- Eu te escolhi, Melanie e não vai demorar muito para nós sermos um só.
Pressiono os lábios com força sentindo o poder das suas palavras me invadirem.
- Eu não quero. - falo trincando os dentes.
O barulho cessa junto com os brinquedos que param abruptos. Um calafrio percorre minha espinha.
- Isso não depende do seu querer, querida é muito além da sua compreensão. É algo grande demais para você pensar em interferir. - sorri baixinho como se lembrasse de algo. - Você deveria ficar feliz por ser a escolhida,você nem imagina quantos queriam estar no seu lugar.
- Você matou meus pais. - falo afetada demais para suportar aquelas palavras. - Eu nunca te ajudaria, jamais vou ser nada pra você.
Uma risada divertida ecoa pelo o comôdo.
- Ei, você ouviu alguém aqui pedindo ajuda? - faz uma pausa pensativa. - seus pais morreram por tentar atrapalhar meus planos e é isso o que vai acontecer com quem se impor em meu caminho. E se você tentar fazer qualquer coisa que me atrapalhe, lembre-se bem: Ainda resta a vida da sua irmã para eu por fim.
Me viro abruptamente assustada com aquela ameaça, mas não vejo ninguém a não ser as paredes nuas do quarto.
- Não! deixa ela fora disso! - cuspo raivosa por uma ameaça tão baixa.
- Então não seja idiota e não faça nada. Deixe a sua vida seguir meus planos e tudo terminará bem. - diz em um tom de ameaça.
As lágrimas escorrem silenciosas, não há opções para mim. Estou acabada.
Fecho os olhos despedaçada.
***
Os abro com meu peito pesando, sinto o lençol, o colchão e estou fitando o teto do meu quarto desnorteada. Não sei o que fazer, não sei se aquilo tinha sido real ou apenas um sonho só sinto medo crescente em meu peito.
Me viro lentamente e vejo Sarah dormindo em um sono profundo, eu estava delirando quando ouvir uma voz ameaçando minha irmã? e que eu estava ferrada sem nenhum ponto de escape para eu poder fugir?
Olhei para o relógio e ele marcava 3h15am, o mesmo horário do sonho.
Engulo em seco, angustiada, no fundo eu sabia que aquilo foi bem real.
Puxei o ar dos meus pulmões ficando em pé, estava frio mas não me importei em ficar descalço, saí do meu quarto e vaguei pelos corredores escuros, desci a escada sem saber o que eu queria fazer a principio vi Dean e Sam largados no sofá dormindo de qualquer jeito, depois vi a bagunça sobre a mesa de centro, garrafas e restos de pizzas sobre as caixas e por ultimo avistei o laptop aberto com a luz fraca que brilhava sobre a calça de Sam, me abaixei para desligar, porém, minha curiosidade fez eu ver o site aberto e prendeu minha atenção. Um artigo de anos atrás que contava sobre os novos visitantes da cidade; Uma seita se estabilizou por aqui e que o número de novos adeptos era crescente, um grande número de seguidores do diabo estava ganhando força. Satanistas. Muitos deles em um único lugar.
Aquilo me surpreende, não posso negar certo preconceito com pessoas que se intitula seguidor do diabo, bom, o diabo é a figura do mal mais conhecida na face da terra e pessoas que auto proclama seguidor do mal só podem ser do mal também.
Pela data do artigo, eu era recém nascida. Me surpreende o tanto de seguidores que uma seita pode conseguir em tão pouco tempo e que se declarem abertamente satanistas, havia algo de errado ali.
Me lembrei da história do sequestro e o que a senhora Stevens contou ter visto, isso me levou a Calleb um provavel satanista e Tommy um demônio: um humano trabalhando para um demônio.
Mais embaixo uma pessoa que não quis se identificar contou que foi em uma reunião deles e que viu animais sendo sacrificados e que ouviu sobre uma nova ordem e que algo grande estava por vim.
Lembrei do sonho que a voz falava sobre seus planos e algo grandioso, isso fez meu coração saltar aflito e medo me dominando.
Procurei por mais artigos como esse e encontrei um sobre essa mesma seita lançado uma semana depois desse primeiro.
Teve um grande indice de mortes e que todas as vitimas tinham algo em comum: MEMBROS ATIVOS DAQUELA SEITA.
12 pessoas mortas brutalmente e uma conseguiu sair ferida, a policia da época acreditava que foi um tipo de represária por a seita ser acusada de sacrificios humanos. Pra eles aquilo era obra de algum cristão lunático.
Quando clico para ampliar a imagem sou pega de surpresa pela foto de Calleb com o braço enfaixado e com o rosto escoriado. Ele continua igual como se os anos não tivessem passado lhe dando o real castigo.
Calleb me sequêstrou e me levou para aquele lugar e fez alguma coisa comigo, imagino ele me oferecendo para aquela coisa em troca de alguma coisa.
Vejo os comentários, a maioria depreciativos e xingando, só que um em anônimo me chamou atenção, dizia assim: Um parente meu foi integrante desse grupo por um tempo, ele conta quando pode o que via nessas tais reuniões e se for verdade aquilo era bem macabro. Ele conta que levavam bebês para alimentar demônios que eram invocados por eles em troca de favores, em especial, eles libertavam demônios. Sempre cita uma história que para ele foi a pior, escolheram uma bebezinha e levaram para lá entregaram ela para um demônio diz ele que a quase morte da garotinha foi um processo do ritual segundo esse meu parente, ela deixaria de ser totalmente humana e passaria a ter uma parte demônio..

Estou respirando alto demais, e acho que vou infartar a qualquer momento, estou tão angustiado com o que acabei de ler que o desespero me faz sair correndo em direção da porta sem rumo, corro para fora com meus pensamentos massacrando e ser uma espécie de aberração.
É madrugada, mas eu nem ligo caminho pelas ruas desertas afim de fugir para longe.
O vento açoita minha pele e minhas lágrimas não param de cair por causa do medo de aquilo que eu li ser verdade. Um demônio... eu não posso ser aquilo eu não quero ser isso! Quero acordar desse pesadelo e esquecer de tudo isso.
Depois de vagar por horas, me sinto exausta já não tenho lágrimas para por para fora, encontro um parque solitário e me sento ainda no escuro, há única certeza que tenho é que não vou voltar para casa para não expor Sarah; preciso ficar longe de todos para mante-los seguros. Estou com medo do que possa acontecer.
Seguro as correntes do balanço com força angustiada.
- Melanie Collins?
Escuto meu nome a poucos centimetros de mim, e olho na direção da voz uma mulher morena de cabelos negros e olhos azuis sáfira me encara taciturna.
Aperto a corrente com mais força alerta, eu nunca tinha visto aquela mulher e como ela sabia meu nome?
Fico em pé sem tirar os olhos dela.

- Quem é você? - pergunto por fim.
- Ellen. - ela estampa um sorriso exultante. - vim buscar você para concluírmos a missão.
Franzo o cenho confusa.
- Que missão?
- Não fui autorizada a lhe falar nada, vamos e você vai descobrir.
Dei um passo em sua direção, não quero machucar ninguém muito menos ser o motivo da morte de mais ninguém.
Porém, meus pais morreram por não querer me ver nisso e mesmo tudo estando contra eles lutaram até o fim.
Não posso fazer isso, não posso dar esse desgosto.
Cerro os punhos parando.
- Não! - falo entredentes. - Eu não vou com você.
Seus olhos faíscaram e um sorriso surgiu em seus lábios.
- Adoro o jeito difícil. - sua postura fica rigida de repente.
Ellen marcha em minha direção e eu recuou sem tirar os olhos dela, seus olhos ficam negros e meu coração dispara.
Corro para longe, não sei o que fazer e onde me esconder sei que ela está atrás de mim e a qualquer momento serei pega.
Olho para trás e não vejo ela e quando torno a olhar para frente tropeço no demônio parado em minha frente.
Ela me segura imobilizando meus braços com força me debato aflita só que é em vão.
- Me larga! - berro com raiva.
- Deixa de ser idiota, garota você só vai sair ganhando! - diz alterada.
- Eu. Não. Quero! - Grito. - me larga!
Minha cabeça doi, reluto contra ela mas é em vão. Encaro aqueles olhos repugnantes.
- Tenho nojo de você!
Sinto uma súbita falta de ar e uma dor angustante me massacra de dentro pra fora, procuro por oxigênio e não encontro meus pulmões queimam enquanto me contorço de dor, Sob a neblina vejo Ellen se divertindo com o meu sofrimento.
Sinto meu corpo ceder indo de encontro ao chão, acho que eu vou morrer porque o que eu sinto é lascinante, quero rasgar minha camiseta para o ar voltar mas não consigo mexer meus dedos.
Queria uma morte rápida, mas os segundos duram uma eternidade.

-Ei, vadia.
Um estrondo.
Me reviro no chão.
Outro estrondo.
Consigo respirar sugando todo o ar com força que chega a doer.
- Aaaaaaah - respiro sentindo o alivio dos meus músculos.
Continuo no chão e escuto algo em outro idioma sendo falado e de repente um grito ecoa quebrando o ar.
Silêncio.
Algo me toca e eu me encolho com medo.
- Mel...
Reconheço a voz e ele me puxa para os seus braços. Fechos os olhos aliviada.
- Dean... - sussurro com a voz estranha com um pouco de falta de ar.
Dean me pega no colo me tirando dali, sinto o seu corpo quente contra o meu e seu coração batendo agitado.
Sou colocada dentro do carro e me sinto estranha, Dean entra logo em seguida batendo a porta com força e se vira em minha direção e seu rosto está transtornado.
Me encolho mentalmente.
- Que diabos você tá fazendo!?

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