Dead is alive

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Estamos todos reunidos ao redor dos corpos de Thiago e Elisabetty Collins, estão em caixões ornamentados com flores amarelas e todos a minha volta estão com ar de pesar.
Há muitos rostos desconhecidos para mim, dez para ser exata, homens, mulheres e até um garoto que devia ser um pouco mais velho do que eu, Sarah recebe todos com uma educação incrivel, está muito bonita com um vestido preto na altura do joelho, uma sapatilha também preta e com os cabelos presos em um coque elegante; seu rosto está coberto por uma camada de maquiagem para cobrir as olheiras, mas mesmo assim ela continuava linda.
Já eu não falava com ninguém, apenas agradecia os pesâmes falsamente e me isolava quando podia. Só tomei um banho, coloquei um jeans qualquer e uma blusa de moleton já que o frio castigava severamente, não me importei com minha aparência meu rosto cansado condizia com meu estado de espirito e eu mal conseguia olhar para os corpos.
Depois da reunião ocorreria a cremação onde somente os intimos participaria, eu me sentia tão mal que a ânsia de ir embora me atormentava, minhas mãos suavam e eu a todo instante as enxugavam na calça.
- Como está se sentindo?
Sarah finalmente vem até mim e me olha receiosa.
Suspiro frustrada.
- Só quero que tudo isso acabe. - digo franzindo os lábios.
Sarah me fita com os olhos cerrados.
- Não seja egoista, Melanie - diz com a mandibula se travando. - todos aqui tem o direito de se despedi deles.
Olho ao nosso redor e solto uma risada nervosa.
- Quem são eles? - pergunto - De todos aqui são poucos que eu já vi com papai e a mamãe.
Ele segura meu ombro e ela parece alterada.
- Não importa, certo?! Todos aqui de certa forma estão tristes e não apenas você. Para com isso de achar que ninguém sofre mais do que você.
Não consigo esbolçar nenhuma reação diante da agressividade, apenas a encaro indiferente. Sei que Sarah está certa.
- Desculpa, eu estou cansada e não estou falando coisa com coisa. - diz parecendo arrependida.
Toco seu rosto delicadamente.
- Tudo bem. - sussurro.
Nos abraçamos por alguns instantes, depois Sarah se afasta indo ao encontro de um casal que acabou de entrar na pequena capela e Robert a acompanha junto com sua esposa Elena.
Augustus e Josefine, filhos de Robert se aproximam receiosos de mim, Gus é dois anos mais velho que eu e Josefine é uma garotinha ainda ambos com olhos azuis sáfira e graciosos.
Pego Josi no colo, e a encaro. Com suas mãozinhas em miniatura ela toca meu rosto e dá um sorrinho.
- Ela gosta de você. - Augustus diz colocando as mãos no bolso.
Toco o nariz dela.
- Lógico, eu sou adorável. - digo.
Augustus toca minha bochecha e logo emenda um abraço frouxo para não sufocar sua irmã que estava no meu colo.
- Fica bem.
E beija minha bochecha e eu entrego sua irmã e eles se afastam me deixando sozinha.
Decido sair dali para pegar um ar, caminho para fora enfrentando o frio, o campo verde parecia um breu com a neblina que encobria tudo a minha frente.
Coloco as mãos no bolso e abaixo a touca até cobrir minhas orelhas que reclaram do frio atorduante.
Ando somente seguindo em frente sem saber aonde eu ia parar, fico pensando em tudo o que aconteceria daqui em diante.
Minha cabeça lateja, e uma falta um calor familiar me domina, paro abrupta fechando os olhos sabendo o que ia acontecer.
- Olá, Azoel.
Abro os olhos avistando um cenário completamente diferente.
Alguém está de costas para mim ajeitando sua roupa, a encaro espero sua resposta.
- Melanie. - diz recepitiva.
Franzo o cenho atorduada.
Ela se vira.
Ela sou eu.
Me encaro como em um espelho infiel, roupas diferentes e uma expressão totalmente desconhecida para mim.
- Então você conseguiu? - pergunto firme um pouco decepcionada, mas não demonstro.
Ela sorri exultante.
- E você duvidou que eu não conseguiria? - sua voz soa tão divertida o que me causa raiva. - vamos ter que trabalhar essa sua falta de confiança em mim, Melanie.
Cenho os punhos tentando me conter, pressiono os lábios com força.
Olhar para aquele rosto que era meu me causava nojo, aqueles olhos grandes e brilhantes ambar me levou a tempos atrás. Em pensar que eu já fui aquela Melanie, de olhar profundo e feliz me trouxe certa nostalgia.
- O que você quer, Azoel? - falo seca.
Ela sorri usando os lábios que eram meus.
- Ah pequena, Melanie, eu não quero nada pois já tenho tudo o que preciso. - me lança uma piscadela exultante. - fiquei feliz por ver que você soube que era eu.
Observo aquela expressão que era minha e me sinto ligeramente irritada, aqueles olhos apertados em forma de felicidade nunca me causaram tanta repulsa como me causa agora. Era o meu corpo, mas não era eu lá dentro e dava para ver isso na malicía exposta naqueles olhos.
- Você é tão bonita e forte. - disse tocando o rosto com as pontas dos dedos.
Sorrio desdenhosa e fico em silêncio.
- Sabe, fiquei surpresa de você ter conseguido passar por Ben.
Franzo o cenho desintendida.
- Ben? - pergunto.
Ela se aproxima cautelosa.
- O demônio que eu mandei para te trazer até mim. - disse suave. - mas você é inteligente, garota eu senti o que você sentiu naquele momento, um misto de raiva e medo.. - ela arqueia uma sobrancelha como se lembrasse de algo. - e você sabe, sabe que quando está com raiva tudo fica preto e branco e age por extinto. Você acabou com ele, acabou com um demônio com séculos de vida e isso foi sensacional!
Me afasto indo para um canto isolado do quarto e reflito sobre aquilo por alguns instantes.
- E dai? Eu posso ser forte e inteligente ou sei lá mais o que eu mais quero não estar ao meu alcance. - digo tão tranquila que parece que somos amigas.
- É, eu sei. Me matar está fora de questão. Não entendo o porque dessa relutância, Melanie você poderá ter tudo o que quiser!
Não consigo conter o sorriso debochado.
- Você acha o que? Acha que eu sou idiota ao ponto de pensar que serei previlegiada com a sua invasão? - falo rispida. - Azoel, sua cretina babaca, eu sei o que está em jogo! Sei que quando você tiver o que tanto quer vai me mandar pro inferno. E quer saber mais? Que se dane tudo isso! Eu vou escapar disso e vou te matar, vou acabar com você como se mata uma barata. Escreve o que eu tô te dizendo, isso só acaba quando eu te destruir, nem que seja de dentro pra fora.
E de repente ela explode em uma gargalhada histérica.
Fico parada olhando até ela se estabilizar.
- Perdão pelo descontrole, mas realmente você tem um senso de humor imbecil. - e sua expressão muda e ela já está na minha frente me segurando pelo pescoço. - sua macaca pelada se atreva a fazer qualquer coisa e sua irmãzinha querida, Sam e ah o Dean, não é mesmo? Oh Dean, meu Dean... eu acabo com todos eles! Mato todos que cruzou seu caminho durante sua vida.
Ela aperta meu pescoço com uma força anormal para o meu corpo, arregalo os olhos intimidada com a ameaça e com falta de ar, fecho os olhos exausta.
- Vou acabar com tudo o que você ama!
Escuto minha voz sombria invadindo meus ouvidos.
***
Caio prostrada no chão.
Estou arfando alto e estou de volta ao cenário real, o verde encoberto pela forte neblina. Azoel estava ficando mais forte tanto que eu ainda sentia sua mão em meu pescoço e a falta de ar.
Passo a mão pelo rosto ficando em pé, meu nariz queima e acaricio com as costas da mão e sou surpreendida pela fita vermelha carmim que escorre suavemente, o sangue me surpreende e eu limpo rapidamente na minha blusa, porém, não para demora um pouco até o fluxo se esgotar.
Respiro pela boca assustada.
Desabo novamente e me encolho abraçando minhas pernas desolada, agora eu sabia que estava tudo acabado. Não tenho mais lágrimas, nem mesmo voz para lamuriar da minha sorte só fico ali sem reação.
- Melanie! - escuto vozes me chamando.
Não me mexo, fico imóvel não querendo ser incomôdada.
- Mel! - grita e escuto passos velozes.
Me puxam.
- Ai meu Deus! - Sam me puxa para o seu colo e toca meu rosto. - sangue!
- Eu estou bem, Sam. - sussurro encarando seus olhos.
- O que fizeram com você?
Escapo dos seus braços e me sento no chão frio, abatida.
Dean aparece com uma arma e quando percebe que está tudo bem a guarda na parte de trás da calça.
Ele se abaixa se juntando a nós.
- O que aconteceu, Melanie? -diz preocupado.
Sam me entrega um lenço, eu passo delicadamente sobre o nariz e vejo o sangue estampar o pano.
- Azoel apareceu para mim. - falo.
Dean e Sam troca um olhar rápido.
- Como você sabe da Azoel? - Dean pergunta surpreso.
Sorrio descrente por só agora perceber que eles já sabiam.
- Vocês já sabiam... - sussurro decepcionada. - Vocês sabiam de tudo e não me contaram!
Berro ficando em pé furiosa, avanço para cima de Dean que estava abaixado e o seguro sua jaqueta o chacoalhando com as lágrimas escapando do meu controle.
Dean apenas segura meus braços e eu caio por cima dele o derrubando batento as costas no chão esmurro com os punhos fechados seu peito e me vejo encostando a cabeça em seu peito arfando cansada.
- Porque você fez isso comigo. - murmuro desapontada. - Eu confiava em vocês.
Sam me tira de cima do irmão e me ajeita no chão.
- Não podiamos falar sobre isso com você, Mel. - Sam fala com um olhar abatido.
Meu coração martela alarmado.
- Ainda há muita ponta solta nisso, afinal, é sobre o apocalipse que estamos falando. O fim dos tempos... e isso não é impossivel... - disse Dean me encarando.
Desvio o olhar rapidamente chateada.
- Querem saber? - fico em pé rapidamente. - Eu vou pra bem longe daqui agora! Chega dessa loucura, chega de demônios, de Azoel, chega de vocês. - desabafo começando a caminhar rumo a saída. - Eu não devia ter escutado vocês, devia ter me mandando daqui logo no inicio, mas não, preferi ouvir as pessoas que ocultam a verdade de mim. Chega, já deu. Vou embora e nem se atrevam me seguir! Se der avisa qualquer coisa pra minha irmã, menti, diz a verdade... vocês quem sabem.
Sou puxada pela braço fazendo meu corpo tremular.
- Olha pra mim. - Dean fala entridente apertando meu braço.
Tento me livrar mas não consigo.
- Me solta. - cuspo aborrecida.
Sam o puxo pelo ombro, mas Dean não me larga.
- Solta, Dean você vai acabar machucando ela.
Pede mas ele o ignora.
Penso na arma que me incomoda na parte traseira da calça, machucando meu coquis, por um minuto quero pega-la afim de fazer Dean parar, mas hesito só em ter esse tipo de pensamento.
Nunca quis machucar ninguém, mas esse tipo de situação me estressava, quis bater em Dean com fúria, mas contei até dez tentando me acalmar.
- Presta atenção. - seus olhos encaram os meus raivosos. - Não te contamos nada por que não queria que você ficasse pior do que já estava, e na boa, o que você ia fazer? Para de dá chilique e amadurece porque as coisas vão piorar, e se você continuar agindo assim eu vou ser obrigado a te trancar em um porão e jogar a chave fora! Não é hora pra idiotice, Melanie. Cresce, ok? porque se não fizer isso por bem vai ser por mal. - seu tom rispido é atorduante, mas de repente ela começa a sussurrar. - Eu quero te manter viva e bem, mas para de agir assim. Seus pais já morreram, mas ainda restam você e Sarah e eu preciso salvar vocês; então nos deixe ajudar.
Assim que termina ele solta meu braço e troca um olhar com Sam e eu olho para os dois diante daquele choque de realidade, me sinto mal e uma bola se aloja em minha garganta e eu tenho dificuldade em falar.
- ok. - minha voz vacila envergonhada. - façam o que quiseram, mas eu vou embora quando isso acabar. Hoje.
E deixo eles para trás e saio caminhando lentamente voltando para a pequena capela.
Eu não ia esperar por mais ninguém, ia embora antes que tudo desse errado, aliás, mais errado do que já estava.
Adentro o local e vejo poucos rostos que já eram conhecidos, Sarah me vê e vem em minha direção e joga os braços ao redor de mim me pegando de surpresa, a abraço de volta e fecho os olhos sentindo o perfume de lavanda exalar de seu corpo morno.
- Me desculpa. - sussurra aflita. - estou estressada e acabei descontando em você...
- xiii - a interrompo. - Não tem nada pra desculpar.
Acaricio suas costas querendo apaziguar a situação.
Os minutos se arrastam devagar, todos conversam ao sussurros ao redor dos corpos, e aos poucos descobrir que todos aquelas pessoas que antes eram desconhecidas para mim, eram na verdade caçadores amigos dos meus pais. Dean e Sam me contaram isso, porque alguns deles eram conhecidos da estrada inclusive uma familia que ali se encontrava Robbie, Evy e Paul, Robbie eram um garoto um pouco mais velho do que eu e já era considerado um bom caçador, Sam me contou que Paul e Evy já eram caçadores quando Robbie nasceu e por isso Robbie foi criado pelos avós até os seis anos de idade, até que eles foram mortos por uma bruxa que se vingou dos pais dele.
Percebi que Robbie me olhava distante com certa curiosidade, tempos depois ele veio até mim e conversou rapidamente comigo, Robbie era bonito, pele morena, os olhos castanhos, cabelos negros e até forte para os seus dezoito anos. No inicio ele até que foi agrádavel, mas depois a cada palavra era uma cantada diferente o que me deixou extremamente irritada e perplexa pelo o tamanho da sua ousadia, chegou um momento em que segurei o pulso do rapaz com força e amecei Robbie entridentes, mas Dean me afastou e aos sussurros ameaçou de esmurra-lo caso chegasse perto de mim novamente.
- Idiota. - murmuro observando o papel com o número do seu telefone o amassando e enfiando dentro do bolso.
Dean se aproxima com as mãos nos bolsos da calça, encostando na mesma parede que eu e observamos Robbie discutir aos murmuros com seus pais.
- Então seria assim, caso meus pais não largasse a caçada. - falo encarando Dean brevemente.
Ele suspirou mordendo os lábios, olhou Robbie e sua familia e depois seus olhos pousaram em mim.
- Thiago e Elisabetty não fariam isso, assim que descobriram que ela tava grávida - diz calmo. - abandonaram essa vida e isso construiram uma nova.
Soltei o ar pela boca analisando suas palavras.
- Ser caçador é um tipo de maldição, Mel. - fala como se ele estivesse cansado. Muito cansado. - As vezes a gente só quer paz e uma boa noite de sono.
Eu quis tocar seu rosto que parecia cansado demais, quis abraça- lo e dizer alguma coisa que o deixasse bem de novo, mas não faço nada fico apenas o encarando.
Minhas mãos formigam para toca-lo, mas cerro os punhos contendo a vontade.
- Não sei nem o que te dizer. - confesso mordendo o lábio inferior. - Eu só queria que tudo isso acabasse. Tô cansada, Dean cansada de toda essa pressão.
- Sabe - diz relaxando sua postura e colocando um sorriso nostalgico no rosto. - Eu não sei o que é ter uma vida normal, tudo começou muito cedo para mim e me pergunto como seria ter uma familia. Mas ai, me vejo enfrentando todas essas coisas e sei que nasci pra isso que não seria de outro jeito.
Engulo em seco ao ouvir aquilo, é tão triste e desanimador que viro o rosto pensando nos últimos dias da minha vida.
Quando eu era mais nova, sempre me imaginei bem sucedida uma jovem de sucesso, me imaginei com um marido e porque não filhos houve vezes que me permitir imaginar minha velhice, mas agora tudo é tão incerto que não consigo ver meus próximos dias. Talvez eu seja uma jovem bem sucedida, mas com um demônio dentro de mim, mas sem poder usufluir de nada ou talvez eu esteja morta.
- Como vai ser daqui pra frente? - sussurro em devaneios sombrios. - O que vai ser de mim?
Seus olhos pousam em mim severos e sua mão toca meu braço disfarçadamente, algo fica fora do lugar e sei que alguma coisa nesse vasto universo mudou o infinito nessa troca de olhar.
- Vai ser complicado e dificil, mas é sua obrigação seguir em frente por você e por sua irmã. Foi isso o que eu fiz.
Balanço a cabeça concordando.
- Eu tenho outra opção? - pergunto com sorrisinho debochado arqueando uma sobrancelha.
Ele sorriu parecendo não acreditar na minha reação.
- Sempre vai existir uma opção. - diz monótono. - mas é sempre a opção errada.
E seguimos para o adeus definitivo.
***

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