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Me sento sentindo o arrependimento apertar meu peito, as pessoas começam a olhar e a cochichar no ouvido umas das outras, só agora posso perceber o espetáculo que fizemos aqui. Fecho os olhos segurando a raiz de meu nariz com os dedos. 

Como eu, um homem já feito não pensei nas consequências das minhas palavras? Annya costuma agir pela emoção! Cabe a mim segurar esse lado dela, ao invés disso acabei provocando a situação.  
Vladimir não para de falar em meu ouvido, e como se já não bastasse o vexame ainda sou obrigado a encarar o tal duque com um sorrisinho de canto de boca. 

Se tem alguém que causou tudo isso, foi ele! Se ousar se aproximar de nós eu não respondo por mim.
Principalmente se for da Annya. 
 
Começo a comer sem muita vontade, pois a consciência está pesada e meu ouvido está doendo de ouvir tanto sermão.  Apenas tento comer despreocupadamente, concordando com tudo que ele diz. Se a Sophia conseguir trazê-la de volta eu resolvo tudo com calmaria. 

Se aquela cabeça dura concordar, é claro. 

Annya Anderson 

Dou passos largos e rápidos em direção a saida. Trêmula de raiva por fora mas despedaçada de tristeza por dentro. Abaixo a cabeça para evitar que me olhem e enxugo as lágrimas com as mãos. Até quando eu vou aguentar esse jeito dele? Que ódio! Que repulsa ele me dá.

Saio do restaurante evitando os olhares direcionados a mim, me encosto na parede ao lado da entrada deixando as lágrimas escorrerem.

 Como ingrata? Eu sou grata! Por que todos me dizem isso? Ele queria que me ajoelhasse ao seus e começasse a louvá-lo!? É isso!? 
As pessoas passam por mim e me encaram, como se eu fosse uma pobre coitada.  

— Eu devo estar ridícula... — murmuro.

— Ridícula? —  Uma figura alta e imperdigada aparece diante de mim. Levanto a cabeça encontrando um homem de olhos escuros e chapéu bater.

— Não diga isso mon chéri! Uma moça formosa como tu se rebaixando? — ele é magro e medonho, tem cheiro de bebida e cigarro. Não posso deixar de reparar no sotaque meio francês e meio russo. 

— Me deixe sozinha. 

— Tu pareces tão tristinha, eu posso resolver isso te pagando um drink. — O magrela de chapéu segura com firmeza em meu pulso. 

Tento soltar-me mas é inútil. 

— Eu não quero! Me solta! — ele me puxa de uma só vez em direção ao seu corpo, ficamos cara a cara. Com seu hálito forte batendo eu meu rosto. 

— Se você gritar, eu te mato aqui mesmo... — susurra, encostando alguma coisa pontuda na minha barriga sem que ninguém veja. 
— É você? É você que está fazendo tudo isso comigo? — pergunto com medo da resposta. Posso sentir a mesma áurea pesada que senti em todas as vezes que estive perto da morte. O seu olhar penetra em minha alma como uma facada, eu sinto, que ele vai me matar de um jeito ou de outro.
 
Ele aperta mais forte em minha mão e diz: 

— Cala a boca! Vamos... — vou sendo levada, tentando pedir ajuda através do olhar.

Mas as pessoas passam sorridentes sem perceberem o que está acontecendo. Não vejo mais esperanças, até que: 

— Ei! — Sophia — o que pensa que está fazendo? — Ele se vira levando um belo susto ao ouvir ela gritando.

— Não se preocupe cherry, eu e sua amiga estamos apenas nos conhecendo. 

— Solte ela agora mesmo! Seu... — Sophia tira o sapato do pé e atira nele, quase me acertando. — Ei! Vocês! Façam alguma coisa! Ele está levando essa garota embora. — Quando ela grita imediatamente os seguranças do restaurante e mais dois homens que estavam andando na calçada vem em nossa direção com os punhos fechados.
 
Puxo meu braço com mais força, mas a única coisa que o faz soltar é um pontapé na perna de um dos seguranças. Aproveito a oportunidade  para correr em direção a Sophia, que me acolhe em um abraço. 

Duquesa Anastásia - Era Uma Vez Em DezembroOnde histórias criam vida. Descubra agora