Entrevistas - Parte 2

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No segundo dia de entrevistas, Jéssica tinha uma preocupação. Como jornalista, não tinha o controle de suas entrevistas. Aconteceu com Alberto e recentemente com Rosana, ser seduzida e se entregar aos entrevistados. Não era apenas eticamente questionável, mas perdia a oportunidade de fazer entrevistas melhores. A entrevista com Rosana, especialmente, tinha tudo para dar errado. Jéssica descobriu sobre sua entrevistada ser esposa de um homem com quem transara durante a entrevista. Por um momento, temeu a represália de uma esposa ciumenta, imaginando que ela abandonaria sua fala tranquila para se comportar de um jeito mais agressivo. A situação inusitada a deixou indefesa, suscetível ao inesperado charme de sua entrevistada, e a curiosidade dela sobre o que teria acontecido com o marido. Se entregou fácil para aquela mulher da mesma forma que para o esposo. A entrevista foi um sucesso, mas repensar nela depois a deixou preocupada sobre como facilmente se deixa ser conduzida pelos entrevistados quando deveria ter feito o contrário.

A próxima em sua lista de mulheres poderosas era Clara, uma empresária dona de alguns negócios no Bairro Velho. Desta vez, Jéssica fez uma pesquisa minuciosa para evitar surpresas e não descobriu nenhuma relação indireta entre ela e sua entrevistada. No máximo, soube de Clara ser sócia em alguns negócios de Vera, a próxima em sua lista para ser entrevistada. Conseguiu que a entrevista fosse feita com as duas de uma vez só, mas com a agenda limitadíssima de ambas, só havia conseguido um horário pela manhã, no escritório de Clara.

Com uma saia azul, assim como o blazer e uma blusa branca com um decote transpassado, Jéssica chegou no local tão cedo que quase não havia pessoas na rua. Se esforçava para controlar os bocejos no caminho até o escritório. A sala era ampla, minimalista, com apenas um sofá, uma mesa de trabalho e algumas cadeiras e ainda possuía um banheiro privativo. Clara, a dona daquele escritório ainda não havia chegado, mas Vera já estava à sua espera. Usando um vestido verde, justo e um sorriso animado no rosto, a empresária parecia guardar algo em uma das gavetas, o que causou estranheza a jornalista. Vera não era dona daquele escritório, por que mexeria naquelas gavetas? Antes que a Jornalista fizesse qualquer questionamento, Vera se encaminhou até Jéssica para cumprimentá-la. Se portava de forma bastante amável, acariciando o rosto da jornalista e elogiando sua beleza e a da sua pele negra— Temos a pele mais bonita de todas — dizia.

Vera sugeriu começar a entrevista sem Clara, pois não sabia quanto ela iria se atrasar. Jéssica então focou em perguntas sobre o começo da empresária e as dificuldades enfrentadas antes das duas se conhecerem a fazerem negócio juntas. O jeito amável de Vera contar a sua história era tão cativante quanto a sua própria história. Com as duas sentadas lado a lado, Jéssica percebia no sorriso largo de sua entrevistada um charme contra o qual ela precisaria resistir. Tendo em mente o que aconteceu na última entrevista, Jéssica manteve a postura apesar dos sorrisos maliciosos e carícias supostamente inocentes. Deixava perguntas mais incisivas para momentos em que o flerte fosse mais ousado. Conseguia controlar a situação, até a porta se abrir.

Com os passos apressados e bastante suada, Clara entrava no escritório, cumprimentando as duas à distância. Vestia uma calça legging e um top pretos, ambos encharcados de suor. Ela fizera sua rotina matinal de exercícios e foi direto para o escritório e mesmo assim, chegou atrasada. Se desculpou pelo atraso, mas não parecia disposta a continuar a entrevista. Se dizia sem tempo e precisava tomar um banho e sugeriu a Jornalista que marcasse outra hora.

Jéssica, até então, tinha uma parte da entrevista com Vera e esperava completá-la com Clara, pois entendia ser uma história bem diferente a parceria entre as duas. Ficou frustrada ao perceber ter levado dias marcando aquele horário e chegando tão cedo para ser dispensada. A decepção não passou desapercebida por Vera, naquele momento encantada pela jornalista, mas também solidária ao seu trabalho. A empresária não deixou Jéssica sair e impôs a Clara a continuação da entrevista de qualquer jeito.

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