Alma ferida

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Hope

Liz e eu dividimos minha cama e na manhã seguinte ela voltou para casa, acordei com menos dor, os medicamentos que o médico me receitou estão fazendo um ótimo trabalho no meu organismo. Também tive uma noite menos turbulenta como eu costumava ter, ainda acordei no meio da noite e demorei a dormir, mas nada comparado a passar a noite toda em claro, ou pior, com pesadelos. 

- Me liga se precisar de alguma coisa? - Diz Lizzie enquanto me abraçava.

- Ligo, prometo. 

- Tá bom, te vejo em um mês. - Ela beija minha bochecha e me solta indo em direção ao seu carro. 

- Vai com cuidado. - Grito pra ela.

- Eu sempre vou. - Ela grita de volta sorrindo. - Te ligo quando chegar. - Assenti vendo seu carro sumir na estrada. 

Voltei para dentro e encontrei Landon fuçando nas caixas que ainda estavam na sala de estar, Lou ainda não havia acordado, dormiu muito mal a noite pelo que escutei Landon indo do seu quarto para o dela a noite inteira. 

- Precisa de ajuda? - Pergunto me aproximando dele. 

- Não, está tudo bem. E você precisa de repouso. 

- Eu já repousei 3 dias, é o suficiente. 

- O médico me disse uma semana. - Espera como ele sabe disso? E parecendo ler minha mente ele responde. - Eu estava lá com a Liz e o Rafa aguardando notícias suas. - Eu assenti de leve.

- Eu preciso te agradecer por ter ido com a Liz quando eu liguei e por me acolher sem nem me conhecer.

- Hope, não precisa me agradecer. - Ele se endireita e caminha até mim. - Eu faria isso por qualquer pessoa, é o meu trabalho. E sobre te acolher, Lizzie e Rafael te conhecem e confiam em você, não preciso de mais prova para confiar também. - Fiquei sem saber o que responder, para minha sorte uma certa garotinha apareceu na ponta da escada chamando pelo pai.

- Papai? 

- Oi meu amor. - Landon passa por mim subindo as escadas para pegar sua garotinha. - Bom dia, minha princesa. 

- Bom dia, Papai. - Ela agarra seu pescoço enquanto ele desce as escadas. - Bom dia, Hope. - Ela sorri pra mim. 

- Bom dia, Lou. - Sorri pra ela de volta.

- Fiz torradas pra você. - Diz Landon levando-a para a cozinha.

- Não quero torradas, Papai. Quero panquecas. - Ouço sua resposta antes de subir para o meu quarto. 

Precisava arrumar a mala que Liz tinha feito pra mim, havia um pouco de tudo que eu poderia precisar. Roupas de frio, algumas calças jeans, camisetas, meias e roupas intimas novas. Ela deve ter passado em alguma loja antes de me buscar. Lizzie é uma amiga incrível, não tenho como retribuir tudo que ela já fez por mim. Depois de organizar minhas coisas, desci e encontrei Louise na bancada comendo suas panquecas. 

- Quer uma? - Ela me ofereceu seu pratinho rosa. 

- Não, obrigada. Já tomei meu café da manhã. - Ela assentiu meio desapontada. - Mas amanhã eu te espero para comermos juntas, o que acha? - Ela abre um lindo sorriso. - Combinado?

- Combinado! - Ela se vira para Landon que nos observava. - Podemos comer panquecas?

- Você não enjoa nunca de comer só panquecas? - Ela nega sorrindo enfiando um pedaço na boca fazendo Landon sorri. - Tudo bem, panquecas amanhã.

- Oba! - Ela sorri com a boca cheia, arrancando uma risada nossa.

Landon

Amanhã me apresento na nova delegacia em que vou trabalhar e não arranjei ainda uma nova escolinha para Louise, muito menos alguém para cuidar dela no período em que não estiver na escola. Pesquisei algumas escolas pelas redondezas, mas nenhuma com início imediato, todas precisam de reuniões e processo para que minha filha pudesse frequentar. Já era tarde da noite e eu ainda estava na sala pensando no que fazer que nem percebi quando Hope desceu as escadas e abriu a porta do quintal de trás. Quando ouvi a porta bater é que me dei conta e fui atrás dela. Estava frio lá fora e ela estava apenas com uma calça de pijama fina e uma camiseta, estava abraçando a si mesmo e parecia chorar. 

- Hope. - Chamei por ela, mas parece que ela não me ouviu. Peguei meu casaco do lado da porta e caminhei até ela. - Hope! - Chamei de volta, dessa vez mais próximo a ela. Hope me encarou e confirmei que estava chorando. - O que houve? - Ela tentou me responder, mas nenhum som foi ouvido. Então entendi que ela estava tendo uma crise de ansiedade ou pânico. Não sei bem. - Vou me aproximar, tá bem? - Digo enquanto chego perto dela, mas ela recua um passo. - Tá tudo bem, sou eu. O Landon. - Tento de novo, dessa vez ela deixa eu me aproximar e passo meu casaco sobre os seus ombros. - Está muito frio aqui fora, você pode ficar doente. - Eu estava mesmo preocupado com ela, mas do que nunca queria fazer algo para parar essa dor que ela estava sentindo, eu sabia exatamente esse sentimento e não desejava isso a ela. Então dei mais um passo e a tomei em meus braços. Ela tentou a todo custo se desvencilhar de mim, mas eu não deixei, então ela enterrou a cabeça em meu ombro, abraçou minha cintura e chorou pelo tempo que foi preciso. Quando percebi que o turbilhão que ela estava sentindo havia perdido as forças eu me forcei a afrouxar o aperto dos meus abraços em volta do seu corpo para encara-la. - Está frio aqui fora, vamos entrar. Vou preparar um chá para te aquecer. - Ela assentiu, mas ainda não havia me saltado, não liguei também. 

Caminhamos de volta para dentro de casa, acomodei ela no sofá e fui para cozinha esquentar água para o chá. Peguei duas xicaras e coloquei sachés dentro delas, quando a água ferveu eu enchi as duas xicaras e caminhei de volta pra sala oferecendo uma a ela e ficando com a outra. Hope estava mais calma, mas ainda podia ver que não estava bem.

- Sei que você não precisa de mais problemas... - Ela sussurrou colocando a xicara encima da mesa de centro.

- Você não é um problema, Hope. O que acabou de acontecer é perfeitamente normal em alguém que sofreu muitos traumas. Você está frágil e está tentando ficar bem. - Peguei suas mãos. -  Isso nunca vai ser um problema. Não pra mim. - Ela me encarou e seus olhos estavam mais azuis que nunca, neles eu puder ver um pouco da devastação que estava dentro dela. 

- Obrigada. - Ela disse deixando suas lagrimas molharem seu rosto mais uma vez. - Por tudo. 

- Não precisa agradecer. - Ficamos em silencio por algum tempo até ela se recompor novamente.

- O que é isso? - Ela pergunta depois de um tempo olhando os panfletos das possíveis escolas para Louise.

- São escolas que eu achei próximas daqui, mas nenhuma aceita ela antes da semana que vem. Fora que irão haver reuniões e processo que eu não sei se vou conseguir fazer agora, amanhã me apresento no...

- Eu fico com ela. - Ela disse de imediato.

- Imagina, você ainda nem se recuperou e precisa de repouso, Lou...

- Louise não dá trabalho e muito menos me atrapalha em alguma coisa. Eu posso cuidar dela, é o mínimo que eu posso fazer até você se organizar.

- Tudo bem. - Eu não tinha opções e Louise já conhecia a Hope. - Amanhã eu só preciso me apresentar e ver os procedimentos que preciso fazer lá, quando for liberado vou passar em uma das escolas e dar início aos processos. 

- Não precisa ter pressa. - Ela tentou sorrir apesar do rosto inchado e foi um dos sorrisos mais bonitos que eu já vi. 

- Obrigado pela ajuda, Hope. 

- Não precisa agradecer, como eu disse é o mínimo que eu posso fazer. 

- Certo, agora está tarde e você já deveria estar descansando para ficar bem logo. - Digo me levantando e pegando as xicaras da mesinha de centro.

- Boa noite, Landon. - Diz ela assentindo e levantando do sofá, indo em direção a escada.

- Boa noite, Hope. - Digo observando-a até sumir de vista. 

Hope é uma alma feriada, e mesmo assim eu podia enxergar o quão doce ela ainda é, nem tudo o que ela passou podia muda-la completamente. Ela tratava muito bem minha filha, sempre sorrindo pra ela independente do caos que estivesse dentro de si, e Louise estava muito mais aberta e feliz com a presença da Hope. Eu sei que fazia apenas alguns dias em que abrigamos ela, mas nestes poucos dias eu pude notar os pequenos avanços. 

Depois que deixei a cozinha passei pelo quarto da Lou, e minha princesa dormia tranquilamente, depois fui para o meu tentar dormir. Acontece que o sono estava bem longe de vir, então aceitei o fato de que essa era mais uma noite em que eu passaria em claro.

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