Capítulo 13

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PÃO QUENTE OU PADEIRO ESCALDANTE?



A carruagem cheirava a pão recém assado. O aroma a envolveu, trazendo a fome em seu encalço. Parecia que fazia uma eternidade desde a última vez em que ela tinha comido uma refeição de verdade, e talvez fizesse mesmo. Entre a fuga da Mansão Liverpool, o ferimento de bala e a fuga dos homens de seu pai, comer bem não tinha sido uma prioridade.

E na noite anterior, quando Christian trouxe uma cesta cheia de comida de verdade para dentro da carruagem, ela não teve muito
tempo de apreciá-la, pois acabou se distraindo com quem trouxe a comida. A lembrança dos eventos daquela noite a fez se endireitar no banco e a deixou consciente de como estava descomposta. Um cobertor com o qual ela não lembrava de ter se coberto caiu sobre suas pernas.

Christian devia tê-la coberto. Ela ignorou o calor que veio com essa ideia e começou a se recompor, puxando rapidamente os laços do corpete, cobrindo-se o melhor que podia com aquele vestido emprestado. Depois de completar a tarefa mais urgente, Anastasia ergueu os olhos e reparou em três coisas: a tênue luz cinzenta que iluminava a carruagem, indicando que o dia estava nascendo; o fato de que Christian não estava no assento à sua frente; e o fato de que a carruagem permanecia parada.

Ela espiou pela janela, de algum modo já
sabendo a verdade, mas a fileira de casinhas de tijolo, a alguns metros, confirmou. Eles estavam em Mossband. Continuava tudo ali, o armarinho, o açougue e, claro, a padaria. Já funcionando. Já assando os pães.

Anastasia abriu a porta da carruagem e colocou o pé no degrau que já estava ali, posicionado como se estivesse lhe esperando, assim como aquela cidadezinha e todas as lembranças que trazia. Ela se virou para o gramado no centro da cidade , marcado por uma pedra imensa, maior que uma casa pequena e impossível de ser movida. Assim, foi deixada como um marco, com musgo subindo por sua face ao norte, e era isso que dava o nome à cidade — Mossband, faixa de musgo.

Ela inspirou fundo, inalando a luz, o ar e a manhã.

__É como você se lembrava? - As palavras foram ditas em voz baixa na alvorada silenciosa. Anastasia se virou para encontrar Christian perto dela, encostado na carruagem, mais perto do que ela esperava. Perto o bastante para sentir o cheiro dele, para ver a barba por fazer que lançava uma sombra em seu rosto. Eles viajaram praticamente sem parar, e ele não tinha se barbeado. Os dedos dela coçaram de vontade de tocá-lo.

Ele não é meu para que eu possa tocá-lo.

Não à luz do dia. Não ali, no fim da jornada, onde estavam para encerrar seu relacionamento. Um relacionamento que tinha ido muito mais longe do que deveria. Ela pigarreou e encontrou a voz.

__Exatamente assim, - ela percorreu a fileira de casas com os olhos, saboreando o lugar com que tinha sonhado por anos; agora havia uma casa de chá que não existia quando ela era mais nova, bem no alto daquela elevação que virava atrás do pub. __A não ser pela casa de chá.

Christian olhou para o pub.

__A Fuinha e o Pica-pau? Sério?

__Eu acho criativo, - ela disse e riu do espanto dele.

__Eu acho ridículo.

Anastasia meneou a cabeça e apontou para a pedra no centro do gramado.

__Seleste escalou a pedra uma vez. - Ela reparou na interrogação no olhar dele . __Minha irmã.

__Aquela de quem não falamos.

Ele não mencionou o pretendente dela, o
que Anastasia notou. Ela fez um gesto com a cabe ça.

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