Investigar A Si Mesma

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Após me despedir da senhora Oph, ela me informou que sempre vai à tarde no café Royal's. O valor de uma refeição simples lá é igual ao de meu aluguel! Nunca pagaria por algo assim... Espera... Eu tenho aluguel?! Quer dizer... Que há onde morar?!

Comecei a pensar de forma profunda. Andei pelo caminho atual até me deparar com uma pequena pracinha, do qual haviam bancos e uma estátua de nosso prefeito, feita de ouro ou ao menos pintado como se fosse. Agora tinha de juntar os fatos... O meu namorado me deu a entender que não tinha lar, e que morávamos juntos. Não tenho certeza, ficou no subentendido... Acho que eu devo verificar mais tarde. Primeiro, tenho que deduzir... Se eu era uma espécie de jornalista, devo ter alguma inteligência nesse sentido... Vamos recapitular.

Sofri um acidente, que me fez entrar em coma, fizeram... Alguma coisa que sei lá no meu corpo, e agora estou tendo que usar essa bengala. A propósito, tenho cicatrizes cirúrgicas, várias, deve ter sido difícil cuidar de mim... Aliás... Eu deveria ficar um tempo com dificuldades de mover o corpo, certo? Fazer fisioterapia por exemplo? Não, não, foco Charlotte. Uma coisa de cada vez... Continuando, assim que foi assinado minha alta, Powell disse que é meu namorado, e... Meus pais morreram... Que não tenho mais ninguém. Isso me coloca em um contexto de que sou dependente dele. Sem autonomia. Então... Isso vai contra o que eu sei, afinal, tenho um emprego, jornalista, eu acho, isso me torna independente se for seguir o conhecimento comum... Não sei minha vida anterior, então não tenho como saber a situação. Vamos para outro tópico... Pessoas que me conhecem. Sobre essa questão fico tão nervosa que nem ficar parada sentada conseguia, dando curtas caminhadas de um lado para outro.

Impossível só ter ele de conhecido. Mais pessoas devem ter falado comigo, amigos, colegas... Amantes? Não, não quero acreditar que era esse tipo de gente. Aliás, qual é a minha orientação sexual? Não, para, foco. Ok... Primeira coisa. Sou uma jornalista, aparentemente. Trabalho em... Jornais, certo...? Essa cidade é meio grande, mas não custa a nada a tentar. Será que devo ser conhecida? Vamos tentar nos jornais locais.

Comecei a caminhar pela cidade, perguntando onde estaria a imprensa mais próxima para as pessoas. Minhas botas faziam um pouco de ruído ao pisar naquele passeio de pedra, e de certa forma gostava daquele som. Ninguém me olhou com estranheza, afinal, vestida de acordo que atenção tem? Foi quando um carro passou perto de mim. Bem perto.

“Ei, qual é, quer me atropelar?!”, disse, perdendo o decoro de tão alto que gritei.

Motorista nojento. Passou tão perto que o vento fez minhas roupas dançarem. Ainda bem que sempre visto shorts. Conselho, use sempre um debaixo da saia, evita situações embaraçosas como essas. Espera... Como sei disso? Enfim...

Fui em três jornais, que eram praticamente prédios enormes, reaproveitados de instalações públicas antigas, e claro, muito bem reformados, como qualquer coisa nessa parte da cidade. Nestes que fui, o cheiro da impressão dos papéis me causou nostalgia, invadindo minha narinas com toques de familiaridade. Seria estranho falar que gosto de tal essência? Me sinto uma drogada. Nenhum deles teve um atendimento que prestou. Todos olharam bem na minha cara e praticamente não quiseram minha permanência no local, sempre inventavam desculpas que o chefe não estava, que estariam ocupados... Todos são assim? Povo grosso hein?

Iria entrar no meu último antes de tentar procurar por outras coisas que poderiam dizer mais sobre mim, o nome dele era The Imperial. Um prédio bem grande, deveria ter uns 20 andares, de cor branca e tons de preto espalhados estrategicamente pelo local, creio que é para dar a vibe de coisas da realeza? Havia uma escadaria mediana que me deu preguiça só de olhar, no entanto, a vontade de saber quem era superava qualquer esforço físico. Dei uma leve suspirada e segui. O local estaria aberto, felizmente, e consegui ver a atendente e mais algumas pessoas trabalhando nos fundos, em suas máquinas de escrever. TAC TAC TAC... Esses sons... Algo me fez apertar os lábios, como se estivesse ansiosa com algo... Minha mente começou a viajar, meus olhos estariam olhando fixamente para elas, mas minha mente não ali mais pertencia... Escutei minha respiração de forma profunda, e os ruídos ao redor começariam a ficar abafados, até que senti um toque em meu ombro, pulando pelo susto e soltando um pequeno grito tosco de menina.

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