Destino

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O que se passava em minha cabeça se distanciava da realidade, com minha mente viajando aos sete mares. Cenas repetidas, que se repetiam, de novo e de novo. Sempre o mesmo. Chamas para todos os lados, gritos e mais gritos, um mais infernal do que o outro, como o próprio umbral. A sensação de impotência. De ser um fraco. Nada que eu fizesse iria adiantar de algo ou fazer a mínima diferença. Não tinha forças. Não tinha resistência. Não tinha capacidade. O medo impedia de tentar o impossível. Incrível, não é mesmo? É como se pudesse voar mas o receio da queda lhe mantivesse no chão. Acho que é assim com a maioria das pessoas e seus sonhos. Deveria me contentar que sou igual a maioria ou sentir que falhei comigo mesmo? Não importa mais. Todos estavam em chamas. Todos ardiam. Todos... Afogavam?

Comecei a tossir desesperadamente, nem sabendo quem eu era ou onde estava. Acho que saiu um peixe da minha garganta ou algo do tipo. A respiração estava tão difícil que quase perdi novamente a consciência, dessa vez para valer. Estava tão desesperado quase expulsei meus pulmões. Coloquei para fora tanta água que nunca mais iria ter desidratação na vida. O que diabos tinha acontecido...? Espera... Ah... Alida... Pirata... Lembrei...

Estava no meio de uma floresta, jogado pelo rio por muita sorte. Perdi minha arma junto da mochila, que tinha minha munição e mais umas coisas, ficaram todos naquele telhado. Sortudo seja aquele que os achar. Ou seria eu por ter sobrevivido?

Sai da fria água, com minhas roupas totalmente encharcadas, com o espírito em chamas. Fiz uma pequena avaliação em mim mesmo, e tive sorte de só ter terra nas vestes, alguns roxos aqui e ali, e nenhum corte. Aquelas pedras poderiam partir uma pessoa em duas dependendo.

O pirata deve ter se safado de alguma forma, parece que essas pessoas tem guelrras quando se trata de corpos de água - e também de serem escorregadios -. Agora preciso pensar... Como poderia encontrar Alida? Tinha uma investigação quase concluída, mas agora já está bem tarde e não devo encontrar muitas coisas, fora que estou praticamente bem acabado e exausto. Sei onde estou e como voltar.

Não, não sei. Depois de o que pareciam três horas de caminhada, percebi que não era tão bom quanto achava que era em relação a senso de direção. Ouvia somente o barulho de animais selvagens que não pareciam nada amigáveis pela minha presença ali. Antes essa área era toda industrial, assim como na cidade, mas a guerra destruiu isso tudo, ficou parecendo uma obra de arte bizarra apocalíptica e depois a natureza tomou conta. A Zona Ex basicamente é formada por aqueles que não tiveram tanta adaptabilidade - ou sorte - e acabaram ficando por ali mesmo. É bem engraçado, não? Uma parte da sociedade evoluiu, ao menos materialmente, enquanto a outra ficou largada, e são a mesma cidade. Sempre nos referimos a Paradise e a Zona Ex como se fossem lugares diferentes.

Quando menos esperava, cheguei em uma estrada de terra. Fiquei um tanto aliviado que, de qualquer jeito, encontro um caminho ou alguém para me dar carona. E felizmente, o segundo ocorreu após mais 1 hora de caminhada, com a visão linda de minha joaninha se aproximando.

“Taylor!“, gritou Harold, estacionando logo na minha frente, saindo do veículo e pálido, “Finalmente, te procurei por toda parte, estava quase pedindo reforços!“

“Precisaria mais do que isso para me matar.“, disse, sem demonstrar muita surpresa.

Geralmente as pessoas ficariam aliviadas, com medo, assustadas, e se isto fosse um livro possivelmente iria ter uma descrição enorme de emoções ou algo do tipo, mas sinceramente, me sinto meio velho. Acho que parte de meus sentimentos morreram a algum tempo atrás, e raramente alguma coisa desperta algo mais profundo em mim. Como por exemplo, aquela nova invenção chamada de cachorro-quente. Se o divino existe, com certeza aquilo foi abençoado. Mas agora, sobre pessoas? Não. Pessoas são pessoas. Sempre serão pessoas. E irão fazer coisas de pessoas.

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