Operação Corrupção Descarrilhada - Parte 2

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"Corpos, Clements.", respondi, olhando de maneira enojada, "Muitos corpos frescos."

O avanço da medicina encontrou um obstáculo. A falta de cadáveres para as escolas de medicina. Era só permitido usarem o de criminosos que foram sentenciados a morte, o que não é o suficiente. Então, onde há necessidade, cria-se oportunidade. Aí nasceram os ressurreicionistas, pessoas que roubam túmulos de pessoas que morreram recentemente, e que estejam em boas condições. Famílias mais ricas até mesmo pagaram guardas para vigiarem os corpos de entes queridos até eles não servirem mais para a venda. O maior problema, foi quando começaram a surgir empreendedores no ramo, que se denominam Hellspawns. Pessoas especializadas em matar de forma que não fosse causado danos aos corpos, assim aumentando o valor de vendas no mercado negro. Até mesmo há boatos que políticos e líderes de facções criminosas começaram a usar isso como complemento dos seus esquemas de sumirem com a oposição.

Me aproximei para observar se tinha alguém que conhecia, ou algo do tipo. Todos sem roupa, possivelmente para não demonstrarem sua posição na sociedade. Até que vi, dentre as vítimas, uma criança, uma pequena garotinha. Deveria estar em seus 9, 10 anos. Seu corpo estava sujo de fuligem, então possivelmente trabalhava de limpadora de chaminés antes de... Isto acontecer com ela. Não tinha marcas de enforcamento ou álcool em uma avaliação superficial, e tinha alguns ossos quebrados pelo corpo com hematomas. Possivelmente, foi uma queda que a finalizou. Deveria achar que isto foi menos ruim do que ser sufocada até a morte? Isto realmente deveria ser algo bom?

"Você nem teve a chance de crescer...", disse enquanto acariciava sua cabeça, sentindo seus cabelos oleosos e maltratados escorrer pelas brechas de meus dedos, com meu canto esquerdo do lábio se arrastando para o lado, "Pior que nem tenho seu nome para informar ao coveiro quando você for enterrada dignamente..."

Espera. A cabeça dela não está tão gelada assim. Cadáveres são mais frios do que isto. Molhei levemente o dedo com a própria saliva e coloquei perto de seu nariz. Senti uma fraca respiração! Medindo os batimentos cardíacos com o dedo indicador e médio, percebi uma arritmia.

"Hunter, chame o Clements, rápido. Bennett, vigie Pablo e os outros. Hicks, ache ajuda médica o mais rápido possível."

Mantendo a calma, deleguei as tarefas da melhor forma que consegui. O loiro chegou, praticamente arrastado pela ruiva.

"Capitão, o que você...", se interrompeu, vendo a cena, arregalando os olhos, "Woah..."

"Sabe aquela teoria do choque? Vamos testar ela aqui. Agora.", ordenei, de maneira séria.

"Mas... É só uma teoria, ela foi usada em cachorros, e algumas vezes em hospitais, mas ainda sim, é—", o encarei, da mesma forma que o faria para alguém que fosse tentar me matar, "S-Sim, capitão, é para já. Mas temos que tirar ela daqui, e ficar longe de tudo que é de metal."

Peguei a pequena garota no colo, saindo do vagão o mais rápido possível. Dei ela para Hunter, removi meu sobretudo, colocando-o no chão, e como se tivesse lido minha mente, minha parceira a colocou deitada nele. Removi minhas armas, munições e outros apetrechos que sempre carrego comigo.

Retirando da mochila algo parecido com uma caixa de metal com várias engrenagens, e me entregou um par de algo que pareciam duas colheres, que eram ligadas ao aparelho a partir de dois fios, começou a me explicar.

"Esse design é baseado no do Kouwenhoven, naqueles que já existem nos hospitais, que são usados só em raros casos. Nunca testei ele em si, ainda é um projeto, mas na teoria funciona. Coloca os eletrodos... Aliás as colheres, no coração. Do jeito que está, tem que ser de peito fechado mesmo. Um aviso, aqui vai ficar muito, muito quente. Vou ligar aqui, e regular a medida da necessidade.", explicou, já ligando o desfibrilador, que de uma só vez, fez um enorme ruído de engrenagens em alta velocidade, com o medidor subindo muito rápido, e o vapor de tão quente que estava, só de estar perto, era como se meu corpo estivesse sendo cozinhado vivo.

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