Gunspaper - Uma Aventura Steampunk

Contra o que lutamos - Parte 1

"Então... Resumindo, a gente não faz a menor ideia contra quem lutamos ou algo do tipo, estamos fazendo coisas aleatórias e o que der, deu?", disse Taylor, sentado com o peito apoiado no encosto da cadeira, em uma sala improvisada de reuniões feita por Charlotte.

"Olha... Não é bem assim...", disse uma corada Cam, simbolizando com as mãos em negativo de forma desesperada, "Estava lendo alguns jornais antigos meus. A propósito, nossa, agora sei porque metade da cidade me odeia. Eu falava muita coisa, tipo, denunciei um esquema de corrupção, com fotografias e tudo, destacando o nome da empresa. Essas coisas não dão, tipo, problemas com a lei? Ou com o pessoal indo atrás de mim com sangue nos olhos? Talvez seja por isso que surgi no hospital."

"Não sei exatamente como você, ou melhor dizendo, a antiga você, lidava com isso. Mas ninguém se metia com o Gunspaper. Por isso que, provavelmente, mesmo que algumas pessoas saibam sobre sua real identidade, isso não é espalhado por aí. Agora, por que? Imagino que como jornalista você deve conhecer o podre de muita gente, e surge o medo disto ser divulgado.", Taylor tentou explicar, um tanto pensativo, "O que acha, filha de burguês que não fala nada?"

"Como não tenho nenhuma base para falar sobre o assunto, prefiro me abster para não parecer um idiota tentando supor as coisas.", disse Hannah, dando o troco pelo apelido novo, "Mas o que você acha disso, Charly? Algum lapso de memória aí?"Taylor olhou de canto de olho para a adolescente, e depois voltou-se para ouvir a resposta, e Charlotte ficou ponderando sobre a questão durante alguns minutos, falando em seguida com certa insegurança.

"Eu... Acho certo sempre expor a verdade, denunciar esses tipos de esquemas, mostrar para as pessoas o que os corruptos tentam manter nas sombras... Parece emocionante, como um livro! Mas...", suspirou, pensando em como poderia compor as próximas frases, "Teve um cara do The Imperial, chamado Reginald, dizendo que arruinei a vida dele... Que éramos amigos, que ele havia feito algo por mim, e que o traí... Seus olhos representavam muito ódio e decepção... E isto me deixa pensativa, sobre quem eu era...", terminou, com os antebraços apoiados nas coxas, de dedos unidos, esfregando um polegar no outro, de forma nervosa.

"Entendo... Não consigo realmente saber te falar sobre isso, já que só lia seu jornal, mas sim, isto é algo que sempre fez. Eram empresas, políticos ou até mesmo pessoas comuns. Policiais incluídos.", ameaçou, arremessando um olhar para Taylor que fingiu levar um tiro no peito mediante a situação, "Mas agora você pode ser diferente também. As vezes nem tudo é preto no branco. E bom, pelos seus jornais, posso dizer que você era bem extremista e militante, em causa da verdade e transparência. O Gunspaper é bem famoso, eles são vendidos em bancas de jornais, nunca na sede física. Não é um jornal oficial e regulado pelo governo. Como você lidava com a logística, o valor e sua forma de faturar economicamente com isto, desconheço.""Cam, posso ver algo na sua testa?", disse a frase do vento, dando dois toques leves acima da sobrancelha, no local da cicatriz.

"Minha testa? A-Ah, pode, eu acho...", respondeu uma Cam um tanto embaraçada.Taylor se levantou, com seus coturnos pesados criando ecos ao encontrar o piso e iniciar seus passos, chegando próximo a ela. Pedindo licença, retirou suavemente sua franja da área da cicatriz. Aproximou seu rosto, perto o suficiente para que a respiração de Charlotte fosse sentida, fazendo com que está ficasse um tanto avermelhada nas bochechas, com a boca meio-aberta em surpresa. Dava para ver a juventude estampada em sua face, que estava sem rugas ou linhas de expressão, com seus olhos brilhantes e cheios de vida, envolvidos em um delineador preto, que se fecharam pelo contato próximo devido a timidez. Estes atributos foram percebidos pelo olhar do policial, que acabou por apreciar tais traços durante alguns segundos, até que teve de lembrar de se focar no seu objetivo ali após um limpar de garganta de Hannah que foi bem audível.