Capítulo 1

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Eu te amo, Isaque.

Mordo a língua antes que essas palavras pulem da minha boca. Novidade nenhuma. Sou uma covarde e deveria me envergonhar disso. Corrigindo: eu me envergonho disso! Mas não mudo. Não consigo me declarar para o cara pelo qual sou apaixonada desde os doze anos. Ou seja, faz dez anos que amo em silêncio Isaque Carvalho Freitas, um dos sócios-fundadores da Barcasi Agência de Marketing Digital e um dos melhores amigos do meu irmão.

— Bom dia, girls!

Isaque atravessa a recepção e entra no salão comprido, onde fica a área de trabalho dos cinco profissionais da agência (estou me incluindo nessa conta), e se enfia no banheiro. Desprendo a língua dos meus dentes, mas minha mandíbula despenca, escancarando minha boca e... Que merda, Pamela Cristina Kreigsman Barbosa, você sequer consegue responder ao cumprimento do cara!

Você já deu uma olhada naquele sorriso de um milhão de bitcoins? E aqueles olhos azuis-piscina? Ou que tal falarmos sobre os cabelos loiros cor de trigo, lisinhos e compridos, combinados à barba desenhada à régua, sem falhas? Temos também que comentar sobre seus ombros largos, seus bíceps definidos e seus 1,80 m... Esse homem, de vinte e oito anos, é o Thor dos trópicos! Menos de 1% da população atraída por homens heteros ficaria imune a tanta beleza e carisma. Eu, nem precisava dizer, me encaixo nos 99%.

— Fecha a boca, Pam. Você vai se engasgar com sua baba.

Engasgar com a minha baba talvez não seja uma má ideia, Lorena... Se eu for salva por uma respiração boca a boca do Isaque...

Outra vez, confino minha língua no meio dos meus dentes e não denuncio o que estou pensando. Lorena é minha amiga, minha cunhadinha querida (ela e meu irmão são os namorados mais grudentos que você conhecerá na sua vida, pode apostar), porém prefiro não lhe fornecer os detalhes mais picantes acerca do meu amor platônico pelo nosso colega de trabalho. Não que eu tenha medo de que a Lore conte ao Isaque sobre meus sentimentos. Tenho medo de que ela conte ao meu irmão! Gustavo acredita piamente que foi promovido ao posto de meu pai desde que o nosso pai faleceu, dez anos atrás. E essa promoção lhe dá o direito de compor uma lista de homens com os quais eu estou proibida de me relacionar romanticamente. Sim, seus amigos bem mais velhos do que eu estão no topo da porcaria da lista!

— Cadê o seu namorado? Já passam das oito! — mudo de assunto sem cerimônia, apontando para o relógio branco oval, que está pendurado acima do quadro 50x50 cm cuja inscrição é: "Seja poliglota na arte de mandar se foder: fuck you, vaffanculo, va te faire foutre, fick dich, jodete, пошел на хуй".

— Quem deveria me dizer é você, que mora com ele. — Lorena enreda os dedos em seus cachos que poderiam ser muito semelhantes aos meus se não fosse por um fator crucial: seus cabelos, à altura dos ombros, são perfeitamente disciplinados; os meus, com o triplo de comprimento, têm uma única descrição possível, 365 dias por ano: uma juba de frizz. Além disso, suas madeixas são castanho-escuras, e as minhas transitam entre o loiro escuro e o cobre.

— Quando eu acordei o Gus não estava mais em casa. Ele anda cheio de mistério ultimamente... Você está sabendo de alguma coisa? — Encho um copo plástico com cappuccino na máquina instalada pertinho da poltrona azul bondi, meu xodozinho, pois fui eu que a escolhi quando meu irmão estava montando a agência.

— Ele está misterioso comigo também — Lorena começa a falar, e eu a interrompo, questionando se ela gostaria de cappuccino. Recebo uma cara de nojo como resposta (além de mim, apenas outro profissional desta agência é viciado nesta bebida dos deuses e não é à toa que o considere meu melhor amigo do mundo todo). — Mas o Guga comentou sobre a possibilidade de fecharmos contrato com um cliente de uma marca que tem anos de mercado...

E se eu disser que te amo? [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora