"O QUE ACONTECEU ATRÁS DA ESCOLA...?"

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-Vimos um tedioso filme, mas que, ao lado de Peyton me pareceu intrigante e engraçado. Caçoamos de tudo, dos personagens, das falas, das roupas, até mesmo do enredo. Não ligamos para o cinema estar vazio, apenas aproveitamos para nos divertir, caçoando dos outros. - disse para Sarah, no dia seguinte, em sua casa.
- Como assim vocês não se pegaram com o cinema vazio? - Ela zombou da minha cara.
-Ele não liga pra isso. Muito menos eu. - falei isso tacando o travesseiro e atingir a barriga dela. - Ele me faz rir, Sarah, me faz feliz. Parece que do lado dele, eu não tenho problemas. Eu esqueço tudo... - Sarah tapou minha boca com a mão e uma cara de tédio.
-Vamos falar de álgebra? Acho que seria menos chato. - ela revirou os olhos, em ironia, e riu. Ela levantou da cama e foi até seu banheiro, os dois eram enormes e super arrumados. Ela sabia decorar.
-Hoje é o seu encontro. Me espanta você estar calma. - falei, levantando da cama e seguindo ela até o banheiro. Ela estava aplicando o creme esfoliante no rosto, o qual deixava seu rosto verde e gosmento.
-Quem disse que to calma? Eu estou esperando minha unhas secarem. - ela deu um sorrisinho maléfico, mostrando as unhas das mãos.
Eram 10 horas da manhã de sábado. E ela estava com as unhas dos pés e das mãos feitas, o rosto coberto de creme esfoliante e com a roupa separada: uma calça jeans bem apertada e uma blusa preta, igualmente alertada, com uma jaqueta marrom com franjas e seu salto alto preto com dourado.
Tomamos café da manhã, almoçamos, ela tomou os dois banhos necessários, escovou o cabelo, se maquiou e conseguiu chegar "'atrasadamente' fofa" no encontro, como ela sempre almejava chegar em qualquer tipo de evento.
Tive que ir com ela até o shopping, e ficar perambulando por lá, pois o pai de Sarah não sabia que ela iria sair com um menino. Entrei e saí de lojas, subi e desci escadas, comi muito, até que, o tédio bateu em minha porta. Já não havia mais o que ver, fazer ou comer. Então, sentei em um dos bancos, e fiquei jogando um dos jogos de carro que tinha em meu telefone. Quando ouvi a voz de Peyton, atrás de mim, mas um pouco distante e baixa.
- Sim ela está na minha frente...- ele parou uns minutos, o que deu a entender que ele estava falando ao telefone, pelo visto sobre mim. - Não acho que esteja me ouvindo, mas se ela virar, você sabe que eu estou ferrado... - continuei olhando para baixo, para ele não pensar que eu estava ouvindo, sim - Eu vou contar... Eu não ligo, ela tem que ouvir de mim! Ela... Se ela... Me escuta! Se ela ouvir de qualquer outra pessoa, pode acabar com o meu relacionamento com ela... Sim, mas... Mas eu vou estar sendo honesto!... Me escuta! O que aconteceu atrás da escola não foi culpa minha, eu sei disso, mas eu prefiro que ela ouça de mim. - não me aguentei, desliguei o jogo no celular, levantei e virei.
-O que aconteceu atrás da escola, Peyton? O que é que você está co tanto medo que eu saiba de outra pessoa? - cruzei os braços, demonstrando raiva.
Ele expirou, fechou os olhos e afagou as têmporas, com uma das mãos. - Ela estava ouvindo. Eu vou contar. Se vira com ela depois. - ele falou ao telefone e desligou.
-Fala, Peyton!
-Melissa, eu não quero causar nenhuma briga, principalmente entre a gente. Mas ontem, quando você me perguntou sobre o almoço, e o que houve pra eu tratar Sarah daquele jeito... - ele foi interrompido pelo pulo de Sarah em mim.
-AI AMIGA FOI TÃO PERFEITO! - ela me estava na frente de Peyton, sorrindo que nem uma louca.
-Sarah. Sempre tão conveniente. - Peyton disse, bufando.
-Desculpa por atrapalhar, Peyton. Mas hoje ela é minha amiga e não sua namorada. - Sarah disse em um tom calmo, mas que me dava medo.
-Gente. O que está havendo entre vocês dois? Da última vez eu ignorei mas agora não dá! - Eu disse quase gritando.
Os dois se entreolharam. Com medo. De mim? Ou de algo que eles sabiam? Por que eles não me contavam?
-Conta, ou eu conto, Sarah! - Ele falou severamente, sem olhar para mim.
-Não. Eu conto. Mas em casa. - ela disse, com medo de Peyton.
-Não, Sarah. Aqui, agora, na minha frente. - outra vez, pude ver o tremor nos olhos de Sarah e a raiva nos de Peyton.
-Alguém só me conta. Não importa aonde! - falei, sem paciência.
-Sarah me...
-Peyton não te ama. Ele me contou isso. Ele não te ama. Ele está com você por pena. - Sarah disse, olhando em meus olhos, como se estivesse me pedindo desculpa por me esfaquear. Pois foi isso que pareceu. Uma facada. Aquelas palavras me derrubaram. Eu sentei no banco novamente. Meus olhos encheram de lágrimas e a visão ficou turva.
-Peyton... Isso... Isso é verdade? - só percebi que estava chorando quando as lágrimas molharam minas mãos.
-Não! - ele fechou os olhos, repensando. - Sim mas eu posso explicar....
-Não. Eu não quero ouvir. Pena? Você estava comigo por pena? Como eu pude ser tão estúpida? - levantei e cheguei mais perto dele - Como você mente bem. Eu pensava que você realmente gostava de mim, que você se importava. Como eu fui burra de acreditar. - as lágrimas iam caindo e eu nem percebia.
-Melissa! - Peyton quis segurar ninjas mãos, mas eu larguei, porém, deixei ele falar alguma coisa em sua defesa. - Você está dizendo isso pra pessoa errada. Sarah é quem finge aqui. Ela...
-Chega. Eu não acredito. Você ainda quer mentir? E pior! Jogas a culpa na minha melhor amiga? Como eu pude ser tão idiota?
-Melissa...
-CHEGA! Eu não quero ouvir mais nada de você! - dei as costas para ele e andei. Andei até o banheiro e sentei. Sentei no banco que tinha e chorei. Chorei até Sarah chegar, e ela me abraçou.
-Eu vou pra casa, Sarah. Quero ficar sozinha. - tinha feito uma promessa a mim mesma. Me mataria apenas no dia em que uma das minhas plataformas caísse. No dia em que Peyton ou Sarah me abandonasse ou traísse. E hoje ele me abandonou, na verdade, ele nunca esteve comigo. A morte não pode esperar mais.
-Você não vai. Eu não vou deixar. Sua mãe vai estar em casa, não vai te respeitar e você vai fazer alguma besteira por estar emocionalmente fraca. Vamos pra minha casa. Assistir um filme, comendo chocolate, e secando suas lágrimas. Só conversaremos se você quiser. - eu ainda tinha ela. Mas por quanto tempo?
-Sarah... Por que eu acreditei que ele realmente me amava? Ele veio falar comigo apenas quando as fotos dos cortes vazaram. Por que não percebi que ele não me amava antes e não me amaria depois? Pena! Era só pena. Eu não consigo acreditar que consegui me enganar tanto! Minha mãe tem razão! Eu sou burra! E nenhum menino jamais gostará de mim! - minha amiga me abraçou e eu chorei, e chorei a noite toda. Saímos do shopping, e eu chorando, chegamos em casa, e eu chorando, comemos chocolate, e eu chorando, fomos dormir, e eu continuei chorando.
Se eu não acordasse, meu mundo estaria bem melhor.

(Não) Me Salve!Onde histórias criam vida. Descubra agora