"CALA. A. MERDA. DA. BOCA, JENNA"

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No dia seguinte, Sarah acordou com os olhos inchados, vomitando, e o nariz vermelho, típicos de um resfriados dos brabos. Como o pai dela trabalhava o dia quase inteiro, todos os dias, me ofereci pra cuidar dela. O lado bom, era poder me distrair do que houve com Peyton. Cuidei dela o domingo inteiro, mas na segunda-feira não tive como, pois tive de ir à escola, mas prometi de que voltaria assim que a aula acabasse.
Sarah já havia postado em todas as redes sociais, e mandado mensagem pra todos na escola de que estava doente e "à beira da morte", como ela sempre dizia, quando estava doente. Por isso todos na escola perguntaram onde estava ela, se era verdade, se ela precisava de alguma coisa, todos preocupados. Sarah era popular. Todos gostavam dela. Realmente gostavam dela. O que me surpreendeu foi Jenna perguntar dela.
-Ela tá bem? - Jenna perguntou preocupada, mas aposto que estava torcendo pela morte de Sarah, por dentro.
-Está. Ela é exagerada. Ela está bem. Só está com um resfriado. Mas me espanta você ligar... - disse com um tom irônico
-Melissa... Eu e Sarah, éramos amigas, quando crianças. Ela era minha única amiga. Eu a conheço a vida toda, sei o quão falsa ela pode ser. Quero saber se ela está doente de verdade.
-Você cala a sua boca. - cheguei perto dela e falei isso severamente.- A única falsa sem coração aqui é você. Não fale assim de Sarah. Foi por isso que ela deixou de ser sua amiga, Jenna. - depois de uns segundos, dei um sorriso falso e me afastei - Ah!.. Limpa os cantos da boca, Jenna. O veneno está escorrendo.
-Melissa... - dei as costas enquanto ela me chamava. Não acredito que ela chamou Sarah de falsa...
Passei a maior parte do tempo ignorando os professores, matando aulas, respondendo os desejos de melhoras para Sarah com apenas sorrisos, e, é claro, ignorando Peyton. Graças a Deus, eu não sou do mesmo ano que ele. Dois dias atrás eu diria que gostaria de ser da mesma idade dele, hoje, eu agradeço por essa diferença.
Matei a aula de física, não me cortei, por mais que quisesse, e fui para aula de artes, a única que iria me relaxar. Pintar quadros com a cor vermelha, cor de sangue, seria ótimo. Depois de desenhar o que a professora pediu, e pintá-lo da maneira que eu queria, era a hora de ir embora. Infelizmente, Peyton estava saindo do treino na mesma hora.
-Melissa... - eu comecei a andar mais rápido. Além de ter de enfrentar as líderes de torcida, rindo da minha cara, todo dia, pra ir pra casa, hoje tinha de enfrentar Peyton correndo atrás de mim, chamando meu nome. - Melissa por favor me escuta. - ele pulou pra minha frente e segurou meus baços. Não podia escapar.
-O que você quer, Peyton? Sarah está doente. Tenho que ir na casa dela pra ajudar. Fala rápido. - Não olhei nos olhos dele, se olhasse não iria resistir.
-Ela não veio? Ótimo. Eu posso falar...
-Não. Espera aí... - eu ri, de raiva - você está falando que, minha melhor amiga estar doente é "ótimo" e mesmo assim quer me explicar o porquê de você estar com pena da pobrezinha que se corta? Vai à merda, e vê se eu estou lá, Peyton. - eu ia sair, mas ele me segurou. À um palmo de distância de mim ele respondeu:
-Eu sou apaixonado por você. Pena? É eu tive pena. Mas eu sou realmente apaixonado por você, Melissa... - ele ia me beijar, mas eu virei a cara e me soltei. - Me deixa explicar direito... Sarah ela não te contou toda a verdade... Ela...
-Pela última vez Peyton, se você quer pedir desculpas por ter tido pena de mim, tudo bem, ótimo! Mas não se desculpe pondo a culpa em cima Sarah! Isso? Essa briga? É entre mim e você! Não envolva Sarah na NOSSA discussão. E não acredito em nada do que você disser, eu nunca mais vou acreditar em qualquer coisa que você disser. - de novo, as lágrimas desceram que eu nem percebi. Convenci à mim mesma de que eram de raiva. - e de novo, Peyton, vai à merda e vê se eu estou lá.
Me soltei e deixei ele me chamando, implorando pra eu ouvir as desculpas esfarrapadas, de que ele é o bonzinho, e Sarah é a bruxa da história. Cansei de ouvir qualquer um falar qualquer coisa. Todo mundo só sabe mentir. Jenna, minha mãe, Peyton... Todos só mentem pra mim. Aposto que Sarah mente pra mim em algo.
Andei por cinco minutos, até que me vi sentada no banco da praça, perto da escola, chorando de raiva, de dor, de frustração, de tristeza. Eu estava chorando por estar sozinha.
No meio de fungar o nariz e urrar de tanto chorar, ouvi uma voz. Longe. Uma garota, rindo, feliz. Outra voz. Outra garota. Não parecia feliz, parecia... Com raiva. Elas estavam discutindo. Conforme foram chegando mais perto, reconheci as vozes. Jenna e Sarah. Espera. Sarah? Ela não estava em casa doente? Por que ela estava rindo de Jenna? Por que ela estava com Jenna? Deveria estar comigo, do meu lado.
-Para, Sarah. Para de fingir. Um dia você sabe que Melissa vai perceber o quão falsa você é. Assim como eu... - Jenna parecia impaciente, mas não pude ver sua expressão por causa da escuridão, só via a silhueta delas, mas nem isso elas podiam ver de mim.
- Jenna. Eu estou com dor de cabeça. Posso vomitar a qualquer hora. Não me faça vomitar em você. Eu parei de falar com você. EU. Você não percebeu nada. Tudo o que você sabe, eu quis que soubesse. Quanto a Melissa... - ela parecia ter botado a mão no queixo. Por que elas estavam falando de mim? - ela é inocente. Pura. Um doce de menina. Desde que você não abra sua boca ela não percebe nada.... Ah! - podia imaginar Sarah rolando os olhos, fingindo estar surpresa. - Desculpa. Ela não acredita em você. - Sarah riu. - Ela não vai te ouvir. Você é uma megera.
-A megera aqui é você.
-Você cala a boca, Jenna. Melissa... - ela parou, parece ter reformulado a frase - Pense o que pensar de mim. Mas desde que eu a conheci, eu sei que ela sabe ser uma ótima amiga. Eu te deixei? Sim. Mas não abra a boca pra falar que eu sou a megera.
-Por que diabos, eu seria a megera? Sarah, você é a pessoa mais duas caras, falsa, ridícula, que eu jamais conheci. - a cada palavra ela foi chegando mais perto. Empurrando Sarah. - você é ardilosa desde pequena.
- CALA. A. MERDA. DA. BOCA, JENNA. - Sarah gritou, e eu podia jurar que iria rolar uma briga. Sarah podia dar um soco, um chute, um puxão de cabelo, um tapa em Jenna a qualquer hora. Achei que era hora de levantar e intervir.
Corri para a rua, onde elas estavam discutindo, e separei as duas moçoilas.
-PARA! - o olhar de espanto de Sarah me surpreendeu quase tanto quanto o a alegria de Jenna, ao me ver. - Jenna, vai embora. Já não discutiu com gente demais por hoje? Eu levo Sarah pra casa.
-Você escutou tudo? - Jenna ria. Não sei o que era tão engraçado.
-Sim, Jenna. O que tem de tão engraçado? - Falei confusa
-Nada... Só que Sarah não parece bem. Parece em estado de choque. - Jenna riu. Gargalhou. Mas de que? De Sarah estar doente? - Eu vou me retirar. Tenham uma boa noite, meninas. - Jenna saiu, gargalhando.
Sarah realmente parecia estar em estado de choque.
-Sarah. Você está bem? - cheguei mais perto dela e a abracei.
-Você ouviu tudo? - Sarah perguntou, com medo.
-Não se preocupe. Jenna falou coisas horríveis, enquanto você me chamou de ótima amiga. Do lado de quem você pensa que eu estou? - apertei o abraço.
Por mais que eu estivesse brava, por ela não estar em casa, e curiosa por todas as coisas que eu ouvi, simplesmente a levei para casa. Não perguntei. Não questionei. Não briguei. Ela foi a única que ficou do meu lado. Então eu fiquei do lado dela. Era o mínimo que eu podia fazer.

(Não) Me Salve!Onde histórias criam vida. Descubra agora