"EU ACHO QUE É UMA ROSA, MINHA CARA MELISSA"

387 26 4
                                    

Bom dia! - Sarah me recebeu com os braços abertos e um sorriso enorme, no outro dia.
-Bom dia. A que deve essa felicidade, Sarah? - perguntei curiosa, por causa da boa recepção que tive.
-A que deve esse mau humor, Melissa? - ela falou, não com curiosidade, mas caçoando de mim.
-Perguntei primeiro. - disse, não querendo falar da terrível noite que tive, com minha mãe reclamando de dores pelo tombo que levou no banheiro.
-Tá. Lembra do Mark? - ela deu uns dois segundos pra eu lembrar e aí continuou tagarelando - Então, ele me chamou pra sair ontem depois da aula! - Ela pulou, e pulou, e pulou em comemoração, até que percebeu que eu não estava pulando junto. - Não está feliz por mim?
-Não eu estou, sim. É só que... - Pensei bem, não vale a pena dizer que fiquei a ponto de tirar minha própria vida ontem. - Nada. - sorri -Parabéns. Sei que você tem uma queda por ele. Quando vocês vão sair?
-O que sua mãe fez ontem? - Ela me olhou, com uma certa compaixão.
-Nada. Esquece. Não quero falar dela hoje, ok? Só... Diga que nunca vai fazer nada pra me deixar pra baixo ou me abandonar.
Sarah me abraçou. - Não vou. - Me soltando, me agarrou pelo braço e me levou para dentro da escola - Agora, vamos pra aula, enquanto eu te conto tudo do Mark. - ela me contou como ele pediu o número dela pra Jenna e como deve ter sido embaraço pra mesma, me contou que ele é um fofo por mensagem, e como ele usa gírias que nem ela sabe ... Contou literalmente tudo.
Na hora do almoço, uma rosa foi posta na minha mesa, assim que eu sentei. Sabia que era Peyton quando senti seu perfume, ele estava atrás de mim, esperando para ver a minha reação ao receber a linda rosa.
-O que é isso? - Falei pegando a rosa
-Acho que é uma rosa, minha cara Melissa. - Peyton falou, zombando de mim. Se curvou em volta da cadeira e pressionou levemente seus lábios aos meus.
-Que nojo. - Sarah falou, rindo.
Peyton olhou para ela, pude sentir alguns sentimentos ruins vido desse olhar. Repulsa, nojo, raiva, indignação, etc. Depois de alguns segundos desviou o olhar para mim, já sorrindo, como se a presença de Sarah não o tivesse feito ferver de raiva.
-Eu só vim lhe entregar isso, e perguntar se tá tudo certo pra hoje à noite, é claro. - ele sorriu
-Claro que está. - sorri
-Ótimo. Agora eu tenho treino. Te vejo à noite? - ele me beijou
-Nojentos! -Sarah brincou - Vão pra um quarto.
-Ninguém lhe dirigiu a palavra, Sarah. Eu estava combinando com a MINHA NAMORADA, Melissa, nosso encontro de amanhã. Se eu quiser ser nojento com A MINHA NAMORADA, eu posso ser. Não se meta. Agora com licença, pois eu tenho um treino para ir. - ele a deixou perplexa com essas palavras, principalmente destacando a frase "minha namorada".
Ele a deixou realmente perplexa e sem palavras, o que eu acho que nunca presenciei. Sarah tinha resposta para tudo e para todos. Nada a abalava, ou a deixava perplexa, muito menos pensativa. Tinha as respostas na ponta da língua, como se treinasse dia e noite para isso. Mas dessa vez não. Dessa vez ela ficou calada, com os olhos arregalados e cheia de raiva, mas calada. Não retrucou, nem riu, nem sequer debochou por ele destacar que era meu namorado, como se ela já não soubesse. Ela simplesmente se calou, e o assistiu ir embora.
-O que foi isso? - Perguntei, quando ele já estava longe
-O quê? N-Não sei. - Sarah gaguejou. Outro fenômeno.
-Sarah. Você ficou sem palavras, e agora gaguejou. O que aconteceu entre Peyton e você?
-Não sei! - ela não olhava em meus olhos, continuara a vidrar a porta do refeitório, por onde Peyton tinha acabado de sair. - Eu não sei...

Depois da cena estranha do refeitório, entre Peyton e Sarah, depois das aulas chatas que tive, depois de mais uma troca de olhares esquisitas de Peyton e Sarah, e depois de dar os remédios da minha mãe, me arrumei e fui para o cinema com Peyton.
Peyton estava dirigindo o fusca do avô dele, reformado e "turbinado", como ele dizia. Estava uma noite calma e tranquila, mas eu quebrei tudo isso, com uma indagação boba:
-O que foi aquilo no refeitório hoje mais cedo, na escola?
-O quê? Com Sarah? - ele torceu a cara - Bobagem... - ele piscou, mas após alguns segundos de silêncio ele se pronunciou - mas... Quanto você confia na Sarah?
- Como assim? Eu confio nela com a minha vida! - Me surpreendi. Que tipo de pergunta era essa? Como ele sequer sugerir que minha amiga, por seis anos, não era digna de confiança?
-Eu imagino... Mas se ocorresse um problema... - ele pensava nas perguntas, formulando-as com cuidado - uma situação onde você tivesse que escolher confiar em mim, ou na Sarah...
-Com certeza confiaria na Sarah! - eu interrompi. - Eu conheço a Sarah à seis anos e você... - ele me olhou, penetrantemente, com o brilho no olhar de quem estava prestes a ser magoado. - Por que não deixamos essa discussão de lado? - sorri, amenizando a situação
-Acho uma boa. - ele não tirou os olhos da estrada, mas estava sorrindo. - Melissa... Eu nunca te magoaria. Você sabe disso, não é?! - ele estava parado, no sinal, e me olhou com preocupação, como uma criança olha pra mãe, perguntando se ele estaria de castigo.
-Sei. Eu sei disso... - eu o beijei. Forte, como se aquele fosse o último beijo que jamais ganharia, dele ou de qualquer outra pessoa. Como se aquele fosse meu ultimo momento. Como se eu soubesse que a morte estava me esperando ao sinal abrir. E, talvez, seria melhor que estivesse.

(Não) Me Salve!Onde histórias criam vida. Descubra agora