Julie tem o poder de ouvir os pensamentos das pessoas como canções após uma lista de músicas ser baixada em seu cérebro durante um exame. A garota não conta sobre os novos poderes para Luke, seu melhor amigo e colega de trabalho que tem sentimentos...
Arrumar as malas para uma viagem de 10 dias é divertido e só um pouquinho caótico, não posso dizer o mesmo sobre organizar para morar em outro país. Muito menos de última hora. Horas atrás, a amiga da Chloe entrou em contato informando que uma reunião de trabalho urgente apareceu e vai viajar com sua equipe, precisando falar ainda hoje conosco. Então, vamos pegar um voo após o almoço e chegar em Toronto no final da tarde.
Por ter um apego emocional enorme pelo meu cantinho, decidi não vender o apartamento. Para o prejuízo não ser grande, o cadastrei em um site de aluguéis. Dessa forma, ainda faço um dinheirinho e posso voltar para cá no período de férias. É impossível evitar o peso no coração vendo alguns espaços perdendo sua essência. Tirei minhas decorações nerds e estou levando porque são importantes para mim, a mesa do computador parece não ter mais vida. É apenas um pedaço de madeira largado no canto da sala. É esquisito olhar as prateleiras sem meus porta-retratos. Meu guarda-roupa está praticamente vazio, só faltam algumas coisinhas que a Chloe está tirando no momento. Eu devia estar feliz, não é mesmo? Empolgado com essa mudança. De estar dando início a uma nova trajetória com uma pessoa que eu gosto e sente o mesmo por mim.
Sentei no sofá e peguei a última fotografia que preciso embalar com cuidado para não quebrar na viagem. Eu, Julie e Alex. Será que vou conseguir lidar com essa novidade de retornar a Toronto sem os dois ao meu lado? Eles são meu suporte, minha alegria. O motivo dos meus sorrisos e risadas, mas também das lágrimas e gritos. O que é normal, tudo bem. Brigas e desentendimentos fazem parte de qualquer amizade. Ainda tem a Barbiezinha e o Nathan, que me acolheram como um irmão. E o Joseph? Vou ver meu sobrinho crescendo de tão longe...o Ray e a eterna Rose foram meus pais em San Diego. Deram todo o apoio que nunca tive. E os presentes que a Spark In Tech me deu? Reggie, Flynn, Julie (de novo). Alex até sugeriu uma festa de despedida, mas tornaria tudo mais difícil, então neguei. Me surpreendi quando lágrimas caíram no vidro do porta-retrato. Nem notei que estou chorando. Será que estou realmente fazendo a coisa certa?
- Luke, encontrei uma coisa meio esquisita no seu armário. Pode dar uma olhada? - Johnson gritou do meu quarto. Enxuguei as lágrimas, conferi no espelho se meu rosto não está vermelho e os olhos, inchados. Respirei fundo e entrei no cômodo, logo reconheci o que a garota segura.
- É o protótipo de um produto que fiz na Spark In Tech - por que deixei ela responsável por esvaziar o armário? Isso estava tão bem escondidinho - nada importante.
- Ele faz algo? - começou a mexer nas peças e me controlei demais para não tomar da sua mão - posso colocar na caixa do lixo? - arregalei os olhos e corri para salvar o objeto, quase tropeçando e derrubando algumas malas.
- Eu não disse que é dispensável. Vai na minha mala - exclamei levemente irritado.
- Ué, você disse que não é importante. Ainda vai ocupar um bom espaço - ignorei Chloe e continuei organizando a mala para encaixar o protótipo de forma que não quebre - por que esse apego tão grande?
- Marcou o início de uma amizade, ok? - gritei jogando as mãos para o alto. Fechei os olhos e pedi desculpas.
- É seu e da Julie, não é? - ela sabe a resposta... - acho melhor conversarmos antes de viajar e começar uma vida juntos, Luke - engoli em seco antes de me virar e sentar na cama, a convidando para ficar ao meu lado.
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