5.1 - Extra: As íris azuis na pele alva

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O vento frio soprava as folhas ao chão, a lua pairava no céu, os raios prateados iluminando vagamente os galhos escuros das árvores.

A penumbra da madrugada dificultaria a visão de qualquer pessoa que tentasse andar por aquele lugar, uma fumaça esbranquiçada volvia-se com o vento, era fina e quase transparente, predominante por toda aquela montanha.

A fumaça, na realidade, era como uma névoa ligeiramente alva entranhada no ar, cobrindo toda aquela extensão, a coloração sempre muito desvanecida, impossível de ser notada pelos olhos humanos.

Passos foram ouvidos em meio à atmosfera antes silenciosa, eram leves e quase inaudíveis, mas a mulher agachada sobre um dos joelhos ainda podia escutá-los.

Ela não se moveu com a aproximação, continuando a fitar o rosto da pessoa inconsciente em seus braços, não era o rosto mais bonito que ela já tinha visto, os lábios levemente rachados não davam sutileza à sua aparência, os cabelos castanhos não eram sedosos ou brilhantes, em vez disso, os fios estavam opacos e quebradiços.

As feições faciais não eram elegantes ou meigas, sua beleza só poderia ser considerada ordinária, as marcas de sofrimento em sua pele eram visíveis, os braços marcados com os padrões escuros possuíam alguns músculos já um pouco desenvolvidos, não havia qualquer delicadeza.

Meish segurou a mão da pessoa desacordada, e não pôde deixar de refletir. As mãos eram grosseiras e irregulares, as marcas de calos antigos circundavam os ossos dos dedos, a pele nas pontas e na extensão dos dedos havia se tornado grossa o suficiente para não se cortar tão facilmente, certamente mãos muito brutas em comparação com as suas, que eram finas e delicadas.

Até a tonalidade da pele contrastava, a pele da garota era morena e bronzeada, decerto ela se expunha aos raios solares com frequência, já as de Meish eram apenas de um branco pálido.

"Saudações." Uma voz rouca soou, diretamente na mente da mulher. Ela desviou o olhar da garota em seus braços para a criatura à sua frente.
Fazia anos que ela não o via. Mas se lembrava com exatidão de sua aparência, a dele e dos demais de sua raça.

Eles eram mais altos do que um humano médio, a pele tão pálida quanto as nuvens brancas que surgiriam no céu sobre as cidades ao meio dia. Quando abriam a boca para falar, emanariam uma corrente gélida ao seu redor, que esfriaria o coração de qualquer um que os escutasse, mas as palavras não pareciam sair de suas bocas, eram ouvidas diretamente na mente, como se fossem os próprios pensamentos de seus ouvintes.

Meish ouviu o oxer falar em sua mente, e continuou a encarar seu rosto alvo, os olhos estupidamente azuis destacando-se em suas feições arredondadas, não havia um único fio de cabelo cobrindo sua cabeça lisa, e os lábios eram da cor de sua pele, claros como a neve.

"Zhekish, bom vê-lo depois de tanto tempo." Meish falou, sua voz rouca também sendo ouvida diretamente na mente do oxer.

Ele ergueu os cantos dos lábios, expondo os dentes tão brancos quanto sua pele em uma tentativa de demonstrar seu regozijo naquele momento, mas tudo o que conseguiu fora um rosto retorcido irregularmente, as íris enormes e profundamente azuis movendo-se como as ondas calmas do mar.

"Vejo que gostou da pessoa que guiei até você." Os olhos azuis rumaram para a jovem nos braços de Meish.
"Ela é interessante." A mulher de vermelho sorriu ao dizê-lo, seguindo o olhar do oxer para a garota cujo peito subia e descia compassadamente, ela dormia tranquilamente, sem pesadelos atormentando-a em seu sono.

Meish então se levantou, ainda carregando Lyna com uma força que uma humana não deveria ter, seus braços claros e delicados apertavam a jovem firmemente contra si, acomodando-a para que pudesse ficar confortável em seu colo.

Misty (Girl's Love)Onde histórias criam vida. Descubra agora