13 - Artefato

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Não vi o tempo passar, era como se estivesse presa em algum lugar vazio, turvo e silencioso. De repente, uma brisa leve tocou meus cabelos, e eu percebi que havíamos chegado ao nosso destino. Não quis abrir os olhos, estava com medo do que poderia ver caso o fizesse, apenas continuei com os braços envolta da cintura de Meish enquanto tentava acalmar a ansiedade que ameaçava tomar conta de mim.

Mas então, uma pontada aguda pareceu atingir o meu estômago, e imediatamente empurrei Meish, me agachando enquanto segurava meu estômago, a onda de enjôo que surgiu parecia querer me fazer cuspir toda a comida que eu havia ingerido. Respirei fundo, na tentativa de aliviar a ânsia de vômito que surgiu subitamente.

Meish me deu um tapinha nas costas e começou a passar as mãos por elas, fazendo com que a sensação ruim aliviasse, mas não foi suficiente para que eu me sentisse bem. O mal estar persistiu mesmo depois que Meish fez aquilo. Depois de um tempo suportando a dor incômoda, consegui finalmente me levantar, minhas mãos estavam trêmulas e eu estava fraquejando.

Meish apoiou meu corpo no seu. "Se sente melhor?" Ela continuava me segurando para que eu não caísse, e parecia estar preocupada. Assenti ligeiramente em resposta. "Se quiser, podemos ficar aqui por um tempo até você se recuperar."

"Não precisa." Eu disse fracamente. "Podemos seguir em frente." Mordi o lábio, eu já havia suportado dores piores, aquilo não era o suficiente para me parar.

Forcei meu corpo para conseguir me apoiar sozinha e me desvencilhei de Meish. Finalmente, resolvi olhar à minha volta. O cenário não me era mais tão familiar, estávamos no meio da floresta, mas não era como a dos arredores de Karyn, a vegetação aqui era diferente, as árvores eram mais altas e as folhas, de um tom mais forte.

Mas, apesar de muito diferente do local em minhas memórias, eu conseguia reconhecer alguns pequenos detalhes, como a enorme árvore que eu costumava escalar quando era criança. Estávamos em algum lugar próximo à casa onde eu morava, o caminho aberto por entre a vegetação já não existia mais, tendo sido coberto por pequenas e grandes árvores.

Instintivamente, comecei a andar em uma direção muito específica, era como se eu tivesse voltado àquela época, minhas pernas se moveram automaticamente, como se meu corpo se lembrasse do caminho exato para lá. Afastei os galhos das árvores enquanto me esgueirava por entre os troncos, segui por alguns minutos e, finalmente, pude ver a estrutura já quase completamente desgastada.

Era uma casa pequena, o suficiente para apenas duas pessoas, as paredes eram de madeira, já estavam cobertas de musgo e uma parte havia cedido. Senti novamente as náuseas tomando conta de mim, mas ignorei. Não sabia o que fazer a seguir, e apenas fiquei ali, parada, encarando a velha casa.

"O que você está olhando?" Meish logo me alcançou, me fazendo desviar o olhar da casa para ela.

As roupas dela estavam amassadas, e alguns pedaços de folhas e gravelhos podiam ser vistos por seu vestido, o cabelo parecia um tanto desgrenhado, eu quis rir, mas eu provavelmente não estava muito melhor do que ela.

"Foi aqui que eu morei na infância." Dei de ombros. Surpreendentemente, eu não chorei ou entrei em desespero, na verdade, eu estava calma até demais estando de volta a esse lugar.

"Você morava no mato?" A expressão no rosto de Meish era confusa.

Franzi o cenho, desconfiada, ela estava brincando comigo? "Nós vivíamos nesta casa." Apontei para a estrutura velha.

"Onde?" Meish esticou o pescoço para olhar ao redor, como se procurasse por algo.

"Você está falando sério?" Encarei-a.

"Por que eu mentiria pra você?"

"Não consegue ver a casa?" Senti meu coração começar a bater mais rápido, eu estava ficando nervosa.

Misty (Girl's Love)Onde histórias criam vida. Descubra agora