12.1 - Extra: Sacrifício

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A madrugada seguia silenciosa, não havia insetos ou animais noturnos, tampouco a suave e gélida brisa noturna que soprava os galhos das árvores, o silêncio predominante era mais intenso e sombrio que o usual. Não havia o brilho da lua, como se uma camada escura tivesse coberto o céu, escondendo as estrelas e a lua.

A cor do solo não havia mudado, no entanto. E as árvores seguiam sem folhas, escuras e polidas, como obras de arte abstratas e tenebrosas.

O silêncio profundo era incomum até mesmo para as montanhas do oeste, e a escuridão sólida que se esgueirava pelas folhas secas no chão e pelos troncos das árvores parecia vir de um lugar específico. Era a beira de um rio, havia oito figuras paradas não muito longe das águas, até mesmo o movimento calmo da água não fazia qualquer barulho.

Zhekish estava ajoelhado diante dos outros sete oxers, seus joelhos ardiam dolorosa e intensamente, mas ele sabia que não era pelo cansaço, oxers tinham um físico forte e resistente, não havia como ele se sentir cansado tão facilmente depois de apenas algumas horas ajoelhado,

Era um truque mental, ele tinha certeza, mas não fazia ideia do porquê de estar sendo interrogado daquela forma, não tinha violado o código de proteção da montanha ou, ao menos, não se recordava.

À sua frente, os sete oxers eram muito parecidos fisicamente, pele clara como a neve, corpo alto e esquelético, dedos longos e ossudos, a salvo por um detalhe: eles não tinham olhos azuis. Seis deles possuíam olhos violetas, e o último, olhos laranjas, e parecia haver uma diferença substancial entre aquelas cores oculares brilhantes e sólidas.

Um dos oxers de olhos violetas encarou Zhekish, que permanecia de joelhos, as mãos acorrentadas por trás das costas e uma sugestão de expressão de dor que tentava pintar seu rosto. Oxers eram apáticos, isso era um fato, mas quando submetidos a uma dor intensa, era possível que conseguissem exprimir alguma expressão facial em seus rostos rígidos.

Perguntarei pela última vez, onde está a mulher?’ Uma voz rouca surgiu em sua mente.

Juro, pela lei sagrada, que eu jamais teria permitido sua fuga.’ Zhekish respondeu, a voz saindo ligeiramente trêmula.

Ele não era um covarde, mas a dor a que estava sendo submetido era demasiadamente dolorosa, forçando-o a espremer cada sutil memória para que pudesse dar aos oxers a informação que desejavam. Mas por mais que tentasse, não conseguia, como se houvesse uma camada oca nas profundezas de suas memórias, camadas que ele jamais conseguiria alcançar.

Outro golpe agudo atingiu sua mente, e a dor se espalhou pelos seus ossos, fazendo-o tremer em agonia, e os joelhos doeram ainda mais, os músculos fraquejando. Ele estava confuso, não conseguia entender o porquê de estarem interrogando-o daquela forma, torturando sua mente, destruindo sua resistência mental.

Ele lutou para manter-se sobre os joelhos, mas outro golpe atingiu-o novamente, e seu corpo tombou pesadamente para o chão pedregoso. Era a tortura mental, seu corpo ainda estava intacto, mas a dor causada pelo dano à mente não poderia se comparar a qualquer dano físico.

Mas Zhekish permaneceu impassível, mantendo o rosto neutro, por mais que os golpes teimassem em tentar forçá-lo a fazer uma careta de dor.

"Parece que ela fez algo com a mente dele, não obteremos nenhuma informação útil dessa forma." O oxer que o atingiu murmurou, desviando o olhar dele para os companheiros, os demais assentiram.
De fato, a única opção que nos resta é invadir sua mente pessoalmente para tentar romper o bloqueio que ela colocou.” Disse.

Todos eles conheciam as capacidades daquela pessoa, ela era forte, mas o que mais se destacava nela era a sua resistência, no passado, ela conseguiu permanecer firme mesmo diante de todo o povo oxer. Ela tinha sido a única mente que eles não conseguiram subjugar, sequer foram capazes de ver as camadas mais superficiais, era como se a mente dela fosse uma escuridão impenetrável.

Misty (Girl's Love)Onde histórias criam vida. Descubra agora