8.1 - Extra: Os traços negros como azeviche

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De volta para o dia em que se conheceram.....

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Frio, ao ponto de congelar os ossos, trazendo-lhe dor, cansaço e extenuação.

Já faziam longos anos. Quantos já deviam ter se passado? Centenas? Milhares?

E sua consciência esteve lá por todos esses anos? Ela já havia vivido cada segundo em tortura constante, sem estar realmente viva ou morta. Sem poder deixar o único lugar capaz de aprisioná-la por tanto tempo. Seus movimentos eram limitados àquelas águas serenas.

Ela abriu os olhos. As correntes ainda estavam lá, circundando seus pulsos. O azul intérmino em seu campo de visão continuava presente, a coloração escurecida indicando que já era noite lá fora.

Seus ouvidos estavam entorpecidos, ouvir o som das águas por tanto tempo a tornou praticamente incapaz de discernir os sons debaixo d'água.

A água não lhe fazia mal, era o lugar ideal para alguém que poderia sobreviver em ambientes aquosos e não estava limitada às condições restritivas da vida humana.

Mas as correntes ainda apertavam-lhe os braços, enfraquecendo-a, selando seu poder, deteriorando-o com o passar do tempo.

Ela já tinha sido forte, muito forte. Mas tudo foi à ruína em um dia, seu fim então chegou, e lá estava ela imersa naquelas águas que deveriam protegê-la, mas era ali que estava o único artefato com a magia necessária para selá-la.

A mulher vestida de vermelho olhou ao redor, apreciando a vista que teve nas últimas centenas ou milhares de anos.

Todos os dias eram iguais, ela não era capaz de dormir com as correntes presas a si, então apenas fecharia os olhos por horas, e depois os abriria para olhar o solo vermelho no fundo do rio, a coloração azul da água e o luar da noite.

Sua força não poderia ser comparada à de outrora, mas ela não se importava, não precisava. Não havia vivido tantos anos em vão, ela não cederia mais tão facilmente, não era um problema estar no mesmo lugar e fazer as mesmas coisas todos os dias durante séculos, sua mente podia lidar com isso.

O selo que a aprisionava fora construído com sacrifícios vivos naquela época, eram grilhões formados a partir de puro ódio, dizia-se que o ódio apenas fortaleceria o poder de um feitiço, o que, de fato, não era um mito.

Mas as capacidades restritivas do selo eventualmente se desgastariam com o efeito do tempo. Não havia como manter um selo para sempre, e ela sabia disso, e apenas mantinha-se obediente em sua prisão, sem se rebelar ou tentar lutar contra as correntes, estava esperando o momento certo.

E este momento oportunamente chegaria. E ela não o deixaria passar, afinal, não importava o quão forte fosse ou tenha sido seu poder, nunca seria suficiente para acabar com sua própria vida, essa era a sua maldição, ela não era capaz de morrer.

Se não podia morrer, então ela viveria, ainda que a vida não lhe parecesse o manjar mais deleitoso, ao menos, ela tentaria.

Meish observava as pequenas pedras flutuando sobre o solo, iluminadas pelos fracos raios do sol que em breve daria lugar à lua brilhante. Foi então que ela sentiu, inicialmente fora apenas uma sensação sutil, quase imperceptível.

Mas pouco tempo depois, sentiu de novo, um fraco fluxo de magia, era profundamente denso, criticamente concentrado.

Ela sorriu em comiseração, o quão infeliz era o ser que carregava consigo tal poder perverso?

Entretanto, este poderia ser mais infeliz do que ela própria? Os seres vivos neste mundo estavam sempre buscando a imortalidade, mas ela sabia, tinha vivido por tempo suficiente para saber que morrer poderia não ser tão repulsivo quanto parecia.

Misty (Girl's Love)Onde histórias criam vida. Descubra agora