Era a terceira semana de aula e Hermione já estava de mal-humor. Entre aulas, estudos e planejamento das rondas dos monitores, ela não parara quieta naquele dia e, tudo o que queria era um bom banho e sua cama.
O relógio marcava oito e meia da noite quando ela finalmente entrou em seu Salão Comunal e teve uma desagradável surpresa.
"O que faz aqui, Malfoy?" Indagou ela incomodada.
"Procurando Theo." Respondeu ele sentado na poltrona. "Onde está ele?"
"Dormitório da Sonserina." Respondeu Hermione segurando as palávras ásperas que realmente queria dizer.
"Ótimo, viagem perdida." Disse Malfoy fazendo uma careta.
"E você simplesmente entra aqui? Não pensou em bater na porta?" Perguntou Hermione ríspida.
"Eu bati na porta, mas ninguém atendeu." Disse Draco com a mesma rispidez.
"Aí você simplesmente achou que seria uma boa ideia entrar sem ser convidado?" Perguntou Hermione se aproximando dele e o fuzilando com os olhos.
"Sim." Respondeu ele simplesmente.
"Você é inacreditável." Disse Hermione jogando as mão para alto e almentando seu tom de voz.
"Obrigado." Disse Malfoy.
"Não, Malfoy, pare." Gritou Hermione apontando um dedo para ele. Ele conseguira, a fez explodir. Ela respirou fundo e baixou o tom, mas as palavras seguintes saíram ainda mais afiadas que as anteriores. "Não estou com paciência para as suas ironias hoje. Não estou com paciência para você hoje. Concordamos em ser civilizados então não vou dizer nada a você além de saia daqui e me deixe em paz."
"Dia ruim?" Perguntou Draco se aconchegando ainda mais na poltrona. Hermione notou pelo seus punhos cerrados que ele não estava tão inabalado como transparecia.
"Sim, e você não está ajudando. Tudo que eu queria era poder estar em paz na minha sala, mas graças a você isso não está sendo possível." Resppndeu ela. "Você está sendo incoveniente, arrogante, infantil, insolente e grosseiro e eu te odeio por isso." Concluiu almentando a voz sem conseguir controlar. Ela podia sentir o sangue correndo em suas veias, podia senti-las pulsando.
"Não mais do que eu odeio você." Disse Malfoy cerrando os dentes e se levantando da poltrona para olhá-la nos olhos.
Hermione se aproximou ainda mais dele, deixando apenas um palmo de distância entre os dois.
"Por sue você me odeia?" Ela perguntou o encarando.
"Porque você é insuportável." Respondeu ele prontamente sem recuar.
"Mentira." Disse Hermione. "Sei que não é por causa do sangue, você superou já isso." Continuou ela. "Por que você me odeia?" Perguntou novamente com a voz baixa, mas afida.
Draco não respondeu, apenas a encarou com pura raiva em seu olhar.
"Por que você me odeia?" Hermione gritou.
"Porque você é o reflexo de todas as coisas ruins que eu fiz!" Draco gritou de volta.
Aquilo atingiu Hermione como um soco no estômago.
"Você me lembra de todas as vezes que eu a chamei de sangue-ruim, de todas as vezes que eu chamei outras pessoas assim. Você me lembra que eu não precisava me juntar a Voldemort, mas me juntei a ele mesmo assim, por que ao contrário de você e seus amigos eu sou um maldito covarde." Continuou Draco e Hermione pode ver lágrimas se insinuando em seus olhos. "Você me lembra daquele dia na Mansão Malfoy em que foi torturada na minha frente e eu nem sequer me mexi para ajudar. Eu ainda consigo escutar seus gritos." Admitiu ele. "Tavez eu não te odeie afinal, talvez eu me odeie."
Hermione não conseguiu controlar as lágrimas, que escorreram silenciosamente por sua bochecha. Sua raiva desapareceu e foi substituída por outro sentimento que ela não sabia identificar. Ela não sabia o que dizer para aliviar o que ele estava sentindo, não sabia como consolá-lo.
Malfoy caiu de joelhos no chão e Hermione se ajoelhou em frente a ele.
"Quanto a todas as vezes as vezes que me chamou de sangue-ruim, fui sincera quando disse que o perdoava. Em relação a se tornar um Comensal da Morte, não te julgo por isso." Disse ela deixando Draco de olhos arregalados. "Se recusar a receber a marca, a seguir as ordens dele, poderia ser assinar sua sentença de morte." Ela respirou fundo e continuou, mesmo sentindo um caroço em sua garganta. "Quanto àquele dia na Mansão Malfoy, não existia nada que você pudesse fazer. O que podia, você fez, você não identificou Harry. Não te culpo por nada do que aconteceu naquele dia." Hermione piscou para afastar as lágrimas. "Você tem o meu perdão, mas isso não vai servir de nada se você não se perdoar."
"Como eu poderia me perdoar, Granger?" Perguntou Draco parecendo desolado. "Eu fui seguidor de um genocida. Eu torturei. Eu fechei os olhos enquanto pessoas morriam ao meu redor."
"Não vai ser fácil, mas você pode. Todos cometemos erros em nossas vidas, é isso que nos faz humanos." Hermione parou por um instante. "O que você pensou enquanto recebia a marca?"
"Isso não vai ajudar, Granger." Disse Malfoy.
"Responda." Insistiu ela.
"Eu dizia para mim mesmo que era certo, mas eu sabia que não era. No entanto, eu recebi a marca mesmo assim. Eu queria vingança de Potter pela prisão do meu pai. Eu tinha uma visão deturpada sobre restaurar a glória do nome Malfoy." Disse Draco com a voz trêmula. "Voldemort estava com ódio do meu pai e estava disposto a descontar isso em mim e na minha mãe. Ele me passou a missão de matar Dumbledore crente de que eu ia falhar, assim ele teria desculpas para me punir, para punir minha mãe. Eu não podia falhar, tinha que fazer o que ele queria. Eu não queria morrer e, acima de tudo, eu não poderia suportar a vida se minha mãe sofresse, se ela morresse." Contou ele.
"Você fez isso para proteger sua família, Draco. E é por isso que eu não te julgo, eu faria qualquer coisa para proteger a minha." Hermione respirou fundo antes de dizer as próximas palavras. "Antes de sair com Harry e Ron em busca das Horcruxes, eu apaguei a memória dos meus pais, os fiz se esquecerem de mim e os mandei para viver na Austrália." Contou ela. "Eles ficaram devastados quando retirei o feitiço e descobriram tudo. Me culpei muito por isso, por causar tamanho sofrimento às pessoas que eu mais amo nessa vida. Era por isso que eu estava alugando um quarto no Caldeirão Furado, para fugir da culpa que eu sentia ao olhá-los nos olhos. Mas eu estou finalmente conseguindo me perdoar, porque agora eles estão vivos e saudáveis e poderiam não estar se eu tivesse feito diferente." Relatou ela.
Draco colocou a mão sobre a dela em uma tentativa de consolá-la. Foi um gesto simples e rápido, mas aqueceu o coração de Hermione por um momento. Ele ficou em silêncio por um minuto inteiro antes de falar.
"Eu vou tentar." Disse ele. "Vou tentar me perdoar."
"Transforme sua culpa em aprendizado." Disse Hermione. "E não se culpe por coisas que você não é responsável. Foi Bellatrix que me machucou, não você. Foi Voldemort que matou pessoas, não você."
Draco a olhou por um instante antes de assentir secando uma lágrima que escorria por sua bochecha.
"Você é uma boa pessoa, Granger." Disse ele.
"Você também é." Disse ela e Draco riu como se ela tivesse dito algo absurdo. "Você é. Só precisa começar a agir de acordo." Quando Malfoy não respondeu ela pegou sua varinha sussurrou. "Accio whisky de fogo."
"É contra as regras beber em Hogwarts, Granger. Você, como monitora chefe, deveria dar o exemplo." Zombou Draco.
"Não começa." Disse Hermione abrindo a garrafa e bebendo direto do gargalo fazendo Draco rir. Ela o passou a bebida e ele deu um longo gole.
Eles revezaram a garrafa em um silêncio confortável. Ficaram ali, sentados no chão, compartilhando não só uma bebida, mas seus demônios também.
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Paradoxo (Dramione)
FanficAo ser azarado acidentalmente por Hermione Granger, Draco Malfoy começa a prestar atenção na garota que tanto machucou. Em meio a brigas e discussões, os dois acabam se aproximando e descobrindo que estão ambos quebrados, mas que juntos, podem se co...