𝗖𝗔𝗣.𝟭 - 𝗔𝘀 𝘀𝘂𝗿𝗽𝗿𝗲𝘀𝗮𝘀 𝗱𝗼 𝗱𝗶𝗮

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Mais um passo e saio desse maldito colégio. Mais um passo e finalmente vou poder ir pra casa. Mais um passo e só volto para uma escola daqui três meses para iniciar a merda do ensino médio.

Não é como se muita coisa fosse mudar, eu sei, mas a sensação de sair do tormento que é esse colégio já me faz suspirar aliviada. Eu segui caminho a pé até minha casa sozinha, pois fui burra de esquecer meu skate. Coloquei meus fones e a música começou a tocar, é uma ótima válvula de escape, uso ela todos os dias. Um vício.

Talvez houvesse uma despedida dos alunos do último ano após o término das aulas, mas eu não iria comparecer. Entre ficar na minha casa, no meu conforto, com tudo que eu preciso, a fazer parte de uma festa com vários adolescentes querendo trocar saliva com hálito de esgoto, qual escolheria? É, ficar com casa 1, festas 0.

Minha mãe vive dizendo para eu aproveitar minha adolescência de um jeito legal, que não me arrume problemas, então eu optei por ficar trancada dentro da minha casa e só ver a luz do dia algumas vezes. Fala sério, é muito melhor maratonar algum filme, série, um livro ou um mangá do que gastar minhas energias saindo por lugares onde as pessoas são invasivas e julgadoras. E eu não digo isso para parecer diferente dos outros, só que socializar é difícil e eu não tive essa aula enquanto crescia.

Eu finalmente chego e entro na minha casa, mas vejo minha mãe subindo as escadas com algumas malas e eu me pergunto se ela já estava inventando alguma coisa com elas. Normalmente, a senhora Naomi sempre estava fazendo alguma coisa em casa, decorando os cômodos com coisas recicláveis que eu com certeza jogaria fora, mas que ela conseguia ver beleza em tudo. Costumava dizer que minha mãe é arte ambulante.

— Vai fazer o que com essas malas, mãe? — Disse fechando a porta. Joguei minha mochila no sofá e me deitei nele, afundando minha cara numa almofada que tinha cheiro de lavanda. Ela lavou recentemente.

— Posso ter esquecido que em três dias nós vamos viajar para o Japão. — Quando ela falou isso, eu me levantei tão rápido que me deitei no sofá novamente, muito fraca e sem enxergar as coisas nitidamente.

Nós vamos para onde? Em quantos dias? Eu estou ouvindo mal, só pode ser isso.

— Me diga que eu ouvi errado e que nós não vamos ter que passar doze horas em um avião, por favor. — Juntei minhas mãos implorando para que fosse mentira. Meu cronograma de férias seria destruído. Como eu passaria 22 horas dentro do meu quarto e as outras 2 fora dele apenas para minha mãe não me puxar pelos cabelos para comer alguma coisa, exercitar as pernas e pegar um pouco de melanina?

— Eu sei que você tinha planos para se enfurnar no seu quarto durante as férias e só sair de lá quando eu te obrigasse, mas houve... Algumas coisas de adultos e eu preciso viajar para o Japão e eu não sou louca de deixar você sozinha aqui.

Ela tinha razão, não era uma boa viajar e deixar uma adolescente em casa, sozinha, sem ter um responsável para pôr limites. Eu provavelmente colocaria fogo em algum cômodo num período de intensa raiva.

Aí surge o questionamento: "Mas onde está seu pai, você não pode ficar com ele?". Talvez ele esteja muito ocupado cuidando de outras coisas num outro lado do continente americano. Ele e minha mãe não estão juntos, como era antes. Eles mudaram bastante desde a separação, o motivo eu não sei, eles nunca fizeram questão de me contar. Mas não demonstram terem raiva um do outro, ou então eles disfarçam muito bem.

Meu pai era um homem bastante ocupado, ou pelo menos se tornou de uns anos para cá, pouco tempo depois eles vieram me amolando para falar do divórcio deles. Foi um baque na época ouvi com todas as palavras, porque desconfiança eu já tinha.

𝐅𝐫𝐮𝐢 𝐕𝐢𝐭𝐚 - 𝗥𝗼𝗺𝗮𝗻𝗰𝗲 𝗰𝗼𝗺 𝗠𝗶𝘆𝗮 𝗖𝗵𝗶𝗻𝗲𝗻Onde histórias criam vida. Descubra agora