𝗖𝗔𝗣. 𝟰 - 𝗨𝗺𝗮 𝘃𝗼𝗴𝗮𝗹 𝗱𝗼 𝗮𝗹𝗳𝗮𝗯𝗲𝘁𝗼 𝗲 𝗺𝗮𝗶𝘀

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O ruim de ser filha única é que você não tem companhia nenhuma. Ok, tudo bem que isso às vezes pode ser legal, mas na maior parte do tempo é meio solitário.

Minha mãe está resolvendo as "coisas de adultos" dela e não conheço ninguém, não sei a maioria dos lugares e...

E nada, eu já tava numa pista de skate em plena duas horas da tarde, já tinha jogado a jaqueta que por algum motivo latino eu trouxe, fiquei apenas com uma camisa sem mangas e calça folgada fazendo algumas manobras pra cima e pra baixo na pista.

Lembrava das que meu pai fazia e tentava replicar e acabava caindo de bunda no chão, algumas vezes rindo, outras com raiva da minha burrice.

Eu tinha acabado de me levantar de outra queda quando a voz de um garoto soou atrás de mim, não muito longe.

— Você não tá bem posicionada, é por isso que caí tanto, até mais que slimes iniciantes.

Eu me virei e vi um garotinho com uniforme de colégio que só depois de fechar um pouco os olhos percebi se tratar de Miya Chinen. Sim, aquele skatista profissional famoso, o que pareceu detestar minha presença.

Ergui uma sobrancelha desconfiada.

— Como é que é?

Ele se aproximou um pouco mas ainda manteve uma boa distância.

— Suas pernas além de estarem juntas demais, não estão firmes, é por isso que você cai toda mísera vez que sobe nesse skate. Seu equilíbrio é de uma slime, slime.

Slime? Que onda é essa?

Olhei para meus pés e tentei recobrar na memória como estava fazendo a manobra e realmente... Eu deixei esses erros passarem. Ergui meu olhar para ele, que já estava indo embora jogando um nintendo.

— Valeu, aí.

Foi a única coisa que disse antes de continuar com o meu skate e ficar mais uma hora e meia ali, isso claro porque eu fiquei morrendo de fome.

Pesquisei por um restaurante perto de onde eu estava e o GPS me informou um que ficava a 5 minutos de caminhada e três de skate, levando em conta que eu já tinha me cansado. Fraca? talvez, mas eu iria dizer sedentarismo mesmo.

No fone, que nunca ficava separado de mim, tocava "Breakin' Dishes" da Rihanna, o que ficava uma vibe boa para o dia, ou tarde. Remei desviando de pessoas, cachorros e outros obstáculos, alguns skatistas estavam fugindo de alguns policiais, o que fazia ficar divertido de assistir enquanto Rihanna cantava:

"I'm breaking dishes up in here, all night (uh-hum)
I ain't gon' stop until I see police and lights (uh-hum)"

Pode não ter muita coincidência a letra com a situação atual, exceto a parte da polícia, mas de todo jeito ficava legal. Remei até chegar a um lugar que vende lamen em cabines individuais, que você só senta lá e não é incomodado por ninguém, o que pra mim é algo muito bem pensado, você come sua comida, ninguém fala com você, ninguém te olha e bisbilhota. Genial!

Quando me sentei, levantaram uma cortina pequena à minha frente, me passando um questionário de como eu queria meu lamen, me surpreendi pela facilidade que entendi tudo em japonês. Respondi e entreguei, pra comer o tempo fiquei no celular até que a cortina foi levantada novamente passando meu prato quentinho.

O cheiro era tão bom quanto o gosto, o que me fez devorar igual uma pessoa em cativeiro sem comida e nem água.

Quando terminei, tive a opção de ter outra remessa sem pagar, mas quis deixar o estômago um pouco livre. Passei os mil e quinhentos ienes e saí pegando meu skate.

𝐅𝐫𝐮𝐢 𝐕𝐢𝐭𝐚 - 𝗥𝗼𝗺𝗮𝗻𝗰𝗲 𝗰𝗼𝗺 𝗠𝗶𝘆𝗮 𝗖𝗵𝗶𝗻𝗲𝗻Onde histórias criam vida. Descubra agora