O Beijo

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         S/N fica paralisada por um tempo, estupefata com a ligação. A primeira coisa que passa na cabeça da moça é falar com Jake. Logo, repreende-se, afinal situação agora é diferente, já que ela estava noiva justamente do Chefe de Polícia. Certamente, Alan pensará em algo para protegê-la, portanto, o melhor que ela tem a fazer é confiar no noivo.

       No entanto, encontra-se indecisa entre aguardar Alan chegar do Distrito Policia ou telefonar para ele. Por fim, devido ao nervosismo, acha melhor não perder tempo, resolvendo ligar. Por coincidência, no momento em que manuseia o celular, depara-se com a ligação do noivo:

      - Que bom que é você! - Ela diz aliviada.

        - Por que? Estava esperando por outra pessoa?

        S/N, surpresa com a animosidade do noivo, que sempre era tão calmo, justifica-se.

      - É claro que não... é que...

        Todavia, Alan não a deixa terminar a frase.

      - Eu fui à padaria comprar uns donuts e encontrei a Sra. Sully...

         Confusa, sem compreender o porquê de o noivo citar a fofoqueira da cidade, fica sem palavras:

       - Ela disse que te viu saindo do Aurora, antes do bar abrir - irritado, Alan continua a falar - Conversando com o cafajeste do Phil. Tem alguma coisa para me dizer, S/N?

        Que cretina! Pragueja, S/N. As fofoqueiras da cidade eram uma das poucas coisas que ela detestava em Duskwood.

      - Primeiro, Phil não é um cafajeste! Eu nunca entendi a sua implicância com ele, que além de ser um bom amigo, é irmão de minha melhor amiga Jessy. Em segundo lugar, não foi nada demais - respirando fundo, a moça tenta se controlar. Está se sentindo tão exausta, mas tão exausta, que procura evitar uma discussão com Alan, pelo menos, neste momento. - Eu só fui perguntar se a Lilly havia aparecido por lá. Só isso!

       - Por que então você aceitou a garrafa de vinho que ele te deu?

         Até isso não passou despercebido por aquela velha!? Ela não devia prestar satisfações para ninguém! Por mais que estivesse evitando um conflito com o noivo, a reação dele estava sendo descabida.

        - É melhor pararmos por aqui, Alan. - a moça tenta encerrar a conversa - Vamos nos falar mais tarde, por favor.

       - S/N, parece que você não confia no meu trabalho.

         Alan suspira. Não era apenas o ciúme de Phil ou o fato de por S/N não confiar no trabalho da Polícia, que o incomoda. Existe uma outra razão para a excessiva proteção do chefe de polícia em relação à noiva. Há um ano e meio, enfrentando crises severas de dor e fadiga, ela foi diagnosticada com doença autoimune. Após uma verdadeira peregrinação a hospitais, felizmente, mediante o tratamento com imunossupressores e corticoides, a enfermidade entrou em remissão e a moça passou a ter uma qualidade de vida relativamente normal. Todavia, a recomendação dos médicos é que ela evite situações de muito estresse. Na cabeça do noivo, obviamente o envolvimento em uma investigação de sequestro poderá ativar a moléstia, então, ele fará qualquer coisa para que a noiva seja poupada.

       - Olha, Alan.... - chateada, S/N desiste de conversar com o noivo. - Ah, quer saber? Acho melhor você nem vir aqui hoje. Preciso ficar sozinha!

       - Você que sabe... - diz um pouco aborrecido, esperando que a noiva, cabeça-dura, um dia compreenda que ele está zelando por ela.

        S/N desliga o telefone, chateada. A vontade é de ofender a Sra. Sully com os piores palavrões possíveis, todavia, ela tinha algo mais sério para lidar agora. Sem perder muito tempo, começa a digitar uma mensagem no celular:

O Retorno do Homem Sem RostoOnde histórias criam vida. Descubra agora