Capitulo 4

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POV Harry

Depois de passar a tarde toda estudando pras provas que eu teria durante a semana, troquei a roupa e avisei pra minha mãe que ia dar uma volta, uma das vantagens de não contar nada pra ela era que ela não ficava tão preocupada com isso e achava que eu ia me encontrar com alguma garota ou algo do tipo - já ouvi ela e Gemma conversando sobre isso.

Sai de casa e enrolei o cachecol no pescoço por causa do vento frio que vinha na minha direção e comecei a caminhar sem um destino em mente, eu só precisava esfriar a cabeça. Acabei sendo atraído pra uma cafeteria que achei no caminho devido ao cheiro delicioso de chocolate quente que vinha lá de dentro. Entrei e fui até o balcão pedir um copo do líquido dos deuses e um muffin que estava com uma aparência deliciosa.

Enquanto aguardava meu pedido ficar pronto fui procurar uma mesa pra me sentar e acabei achando quem estava nos meus pensamentos durante o dia inteiro.

- Saudações, Louis Tomlinson - Falei me curvando um pouco dando um sorriso.

- Harry, oi - Ele virou para me cumprimentar e seu olhar se resumia em surpresa com um pouco de espanto.

- Se sente melhor? Ontem parecia que seu estômago estava tentando sair de você - Falei puxando a cadeira na sua frente - Posso?

- Claro e sim, me sinto bem melhor hoje, obrigada. Só a dor de cabeça que ainda tá incomodando bastante.

- Já experimentou o chá verde daqui? Me ajuda bastante na dor de cabeça. - Falei enquanto a garçonete me entregava meus pedidos, antes de deixar a mesa ela piscou de leve para Louis.

- Por que você tá com essa cara?

- Ela piscou pra você. - Apontei com o queixo para a garçonete.

- Ah, não diga! - Ele riu fraco e me fez rir também - Não tenho tempo pra isso.

- Ser um soldado ocupa tanto o seu tempo que não tem espaço nem para mulheres? Olha, talvez você devesse trocar de profissão.

- Mais ou menos isso, vou ter tempo pra isso assim que nós vencermos a guerra. - A garçonete voltou pra perguntar se queríamos algo a mais e Louis pediu o chá verde.

Ficamos ali conversando por algumas horas até que Louis se deu conta de que tinha que voltar pra casa e saiu apressado dizendo alguma coisa sobre a mãe dele matar ele e me deixou rindo sozinho de seu desespero. Eu estava amando o fato da conversa entre nós dois fluir tão fácil, eu já podia chamá-lo de amigo e não podia negar que não parava de pensar nele desde a noite anterior. Justo ele, um nazista que tinha todos aqueles ideais repugnantes sobre as pessoas, Louis parecia ser uma pessoa tão boa pra ser um deles.

Apenas fiquei sentado ali lembrando da conversa que tinha acabado de ter, do sorriso de Louis e de como sua gargalhada era musica pros meus ouvidos. Eu estava me odiando por estar pensando nele daquele jeito. Sacudi levemente a cabeca e foquei em achar dinheiro na minha carteira para pagar a conta, aproveitando para levar um muffin para casa, depois me levantei e fui andando lentamente de volta pra casa.

Durante o caminho fui lembrando de que aquele era meu último ano no colégio, depois poderia seguir a minha vida sem ter que pisar naquele lugar de novo. A escola já foi um lugar bom de passar o dia, porque além de ter Niall, tinham várias outras pessoas e todos eram amigáveis e faziam qualquer pessoa se sentir confortável entre eles. Então a guerra começou. No começo eram so professores sendo trocados por pessoas rígidas e com cara de poucas amigas, mas quando começaram a fazer os judeus a quase se humilharem publicamente, se "marcando" como diferentes as coisas mudaram. Meus amigos pararam de aparecer para as aulas e o clima ficou hostil e frio, tirando todo e qualquer resquício da juventude e alegria que um dia estiveram presentes ali.

- Saia daqui, judeu imundo! Não me faça chamar as autoridades!

Olhei para o lado e vi a cena mais desalmada que poderia existir. Uma mulher de meia idade chutava um garoto que não deveria ter mais de 10 anos de sua porta, o garoto estava com as roupas sujas de terra e lama, era muito magro e seus olhos não tinham brilho algum, apenas tristeza e medo. Ele estava abraçando a própria barriga e aparentava estar morrendo de fome.

Olhei pra sacola em minha mão com o muffin ainda quente e olhei de volta pro garoto, tirei o bolinho da sacola e estendi a mão para ele.

- Você quer? - Ele assentiu e veio na minha direção lentamente, desconfiado - Pode pegar, está tudo bem.

- Muito obrigado - Ele agradeceu pegando o muffin e mordendo como se não comesse a dias - O senhor é muito bom.

- Você não deveria ter feito isso, garoto. - A senhora disse apontando para mim.

- Ele é so um menino! - protestei - Como a senhora pode negar comida a uma pessoa assim? Ele é humano igual a todos nós, ninguém deve ser tratado assim!

- Ele é um judeu, rapaz - Ela disse desafiadora caminhando ate mim - Judeus não merecem viver, não lê os jornais? Não sabe o que falam dessa gente? Eles não são seres humanos, não são gente como eu e você.

- Não é porque eles acreditam em uma coisa que nós não acreditamos que podemos maltratá-los - Falei num sussurro -, um dia a senhora vai entender isso.

Assim, virei de costas e continuei a caminhar, com o sangue fervendo em minhas veias com ódio e indignação, como aquela mulher poderia dizer aquelas coisas sobre aquelas pessoas? Acho que eu nunca vou compreender isso. Era arriscado me impor contra Hitler daquele jeito mas eu não estava suportando ver aquela mulher falar daquele jeito com o menino, como se ele fosse um animal. Não, até animais são mais bem tratados do que aquele menino estava sendo.

Cheguei em casa e minha mãe e Gemma estavam conversando na sala, me aproximei sem fazer barulho para ouvir o assunto.

- Mae, ele era meu amigo, nunca imaginaria que ele era...

- Não diga, filha, não diga - Minha mãe disse, alarmada - Oh céus, qual o problema desses garotos? Eles não enxergam que essa idéia pode matar eles, isso tudo deve ser para chamar a atenção dos pais, não tem como uma pessoa amar outra do mesmo sexo.

Soltei o ar, que eu nem sabia que estava prendendo, pesadamente e entrei na sala, fingindo que não tinha escutado uma palavra sequer sobre o, aparentemente, amigo gay de Gemma. Cumprimentei as duas, peguei um copo de água na cozinha e fui pro meu quarto com a intenção de estudar mais um pouco mas assim que fechei a porta relaxei meus ombros e meus olhos se encheram de água.

A pressão nos meus ombros estava me destruindo, não so pelo que eu tinha presenciado na rua mas como a conversa que ouvi a momentos atrás. Estava com medo, muito medo de alguém descobrir sobre mim, se minha mãe descobrisse ela com certeza me expulsaria de casa ou me entregaria para as autoridades. Ela era uma mulher doce e não apoiava a violência quando o motivo da violência não morava sobre o mesmo teto que ela e estava afim de um soldado nazista.

Arregalei meus olhos com o pensamento, aquilo não podia estar acontecendo, justo com Louis, uma das pessoas que eu nunca na minha vida poderia sentir qualquer tipo de atração estava nos meus pensamentos de novo. As vezes eu desejava que Jack viesse até mim e dissesse que queria voltar a namorar comigo e que ele se arrependia de tudo que disse, mas eu sabia que aquilo não ia acontecer.

Passei as mãos no rosto enxugando minhas lágrimas que agora rolavam sem parar e me forcei a controla-las, eu não podia ser tão fraco assim, não agora. A minha vontade em alguns momentos era só me entregar as autoridades, uma bala no meio da minha testa resolveria todos os meus problemas, entao não existiria mais guerra, família, amigos ou Louis com quem eu deveria me preocupar, so puxar o gatilho que toda aquela dor acabaria e o peso nos meus ombros iria embora, sem mais mentiras nem medo dentro de mim, só a paz de poder finalmente descansar. Mas, por enquanto, eu era fraco demais pra isso.

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