Capitulo 14

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Respirei fundo e olhei nos olhos de Harry, que graças a iluminação fraca do ambiente, estavam escuros mas exibiam a mesma preocupavam que aparentariam com a luz do Sol.

- Pra você poder entender o que aconteceu eu vou ter que te contar duas historias e você vai ter que ouvir tudo primeiro e provavelmente vai achar que eu sou algum tipo de monstro no final então o que eu te peço é que você tente entender o meu ponto de vista.

Ele assentiu e segurou as minhas mãos, virando o tronco para mim enquanto dava um sorriso quase imperceptível me encorajando a começar.

- Eu moro aqui desde que eu consigo me lembrar e nunca me mudei, ou seja, criei raízes aqui, amizades. - Fiz uma pausa para pigarrear. - Stan foi o meu melhor amigo de infância, nós fazíamos tudo juntos, desde brincar até ir pra escola e é claro que eu tinha outros amigos, nós dois tínhamos, mas não nos dávamos tão bem com os outros, e a melhor parte: nossos pais gostavam do fato de nós sermos amigos e nossas famílias se conheciam, o que nos proporcionava mais tempos juntos.

Acho que Harry percebeu a dor e o pesar na minha voz porque sua ação no segundo em que eu fiquei em silêncio foi segurar minhas mãos e apertá-las em sinal de apoio.

- Foi... foi ótimo até termos 10 anos de idade. Tudo aconteceu na minha casa, estávamos brincando no chão da sala e empolgados com os carrinhos de madeira que estavam voando graças às nossas mãos que não demos conta de que minha mãe estava na porta do quarto dela nos observando. Eu tinha deixado meu carrinho cair no chão acidentalmente e Stan se abaixou para pegá-lo para mim no mesmo momento em que eu me abaixei. É claro que ele deixou eu pegar o brinquedo mas quando nos levantamos... era como se tudo estivesse diferente e Harry, por Deus, eu era uma criança e nunca tinha sentido aquilo antes, aquela sensação que se acendeu dentro do meu peito quando nossos rostos estavam próximos e eu podia ter certeza de que Stan tinha sentido aquilo também porque a intensidade do seu olhar era...

Fiquei sem palavras para descrever e Harry pareceu entender porque acenou com a cabeça e deu um leve sorriso de lado.

- Só que naquele momento minha mãe saiu de onde estava e começou a gritar, ela tinha percebido o que tinha acontecido, algo que nenhum de nós dois tinha porque como poderíamos? Éramos dois garotinhos. Enfim, não importa mais, nada pode mudar o que foi feito. Minha mãe não só expulsou Stan de nossa casa, mas fez questão de levá-lo até a sua casa para contar o acontecido. Eu nunca soube o que aconteceu quando ele chegou em casa mas, assim que minha mãe voltou pra casa me encontrou na sala chorando desesperadamente me perguntando o que eu tinha feito de errado até que ela me arrastou para o meu quarto e me fez prometer que eu nunca falaria nem olharia para Stan de novo na minha vida e eu não queria fazê-lo mas não tive outra escolha porque sabia que se dissesse não as consequências seriam severas.

Fechei meus olhos por um instante e forcei minha memória de se lembrar de algo que eu tinha me forçado a esquecer.

- Quando meu pai chegou em casa naquela noite, ele e minha mãe tiveram uma discussão na sala, só não gritavam porque os vizinhos poderiam escutar. Eu não me lembro o que eles diziam, só me lembro de meu pai entrando no meu quarto depois que aquilo tinha acabado, se ajoelhar ao meu lado na cama e dizer essas palavras: "Filho, um dia na sua vida você terá que escolher entre o que os outros acham que é certo para você e o que você acha que é certo para você mesmo. Não deixe as pessoas te controlarem. Seja quem você é e, acima de tudo, seja feliz. Não cometa o mesmo erro que eu cometi." Na época não entendi sobre o que ele dizia e quando disse isso a ele, meu pai respondeu apenas com um clássico "Você entenderá na hora certa." Logo depois disso me deu um beijo de boa noite e saiu do meu quarto, sem ao menos gritar comigo.

Senti uma lágrima escorrer na minha bochecha e Harry deu um beijo ali, tirando a lágrima e fazendo carinho com o nariz na minha pele.

- Depois daquele dia minha mãe me obrigou a ir na igreja todo final de semana e não me deixava chegar perto de ninguém da família de Stan, incluindo ele próprio. Depois de um tempo acabei desistindo de lutar por aquilo é só acatei as decisões da minha mãe e fiz outros amigos, incluindo Zayn. Vários anos se passaram desde aquilo, vi meu pai ir à guerra e não retornar, vi ele ser enterrado e vi minha mãe fingindo chorar na ocasião. Algum tempo depois eu mesmo me alistei para a guerra com o intuito de ajudar a minha família por causa da morte do meu pai. Eu devia estar usando o uniforme nazista por duas semanas quando uma senhora veio até mim numa manhã e disse que tinha uma família de judeus vivendo escondida em uma das casas na vizinhança, não hesitei em ir correndo e contar para o meu superior. O pior erro que eu já cometi. O mesmo disse que eu poderia participar do processo de captura da tal família e eu fiquei animado de ter sido designado para aquela tarefa mas toda a agitação foi embora quando paramos em frente à casa de um velho conhecido meu. Stan.

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