A primeira vez que nos beijamos

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[...]

- Você já tentava me beijar desde aquela época, vê se pode... - Kaoru dizia só para implicar.

- Só eu quem tentava? - o mais forte perguntou erguendo uma sobrancelha.

- Tá bom... Talvez eu tenha tentado algumas vezes também... - admitiu.

- Se lembra do dia em que eu consegui?

- Claro que eu me lembro. - Cherry respondeu deixando um sorriso leve se formar em seu rosto.

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Quarta-feira, 2012

No pier abandonado, um skatista de vinte anos sentia seu próprio corpo inflar de ódio. Grande parte dos demais skatistas haviam ido embora só de sentir o clima pesado que se instalou no local. Sakurayashiki estava irritado como nunca estivera em toda a sua vida. Todos já tinham dado o fora do local, com exceção de Kojiro, que tentava conversar com o rapaz, apesar da raiva.

O motivo da raiva? Ainosuke Shindo.

Tinha acabado de ser tratado como lixo na frente de todos os outros. Sequer conseguiu se defender e o de cabelos azuis ainda saiu em grande estilo.

- Kaoru, se acalma... - o esverdeado pedia, mantendo certa distância.

- Me acalmar!? Você não tem o direito de pedir 'pra eu me acalmar! Você não sabe o que é passar dias tentando impressionar alguém e ser rejeitado e tratado como lixo. Você nunca precisou impressionar alguém, você tem dezenas de garotas aos seus pés todos os dias!!

- Eu entendo que você esteja chateado mas...

- Você não entende! - ele interrompeu aos berros.

Kojiro se aproximou depressa e o envolveu em seus braços, tentando fazer com que ele se acalmasse. Kaoru estava à beira de se debulhar em lágrimas, mas não iria fazer isso na frente de outras pessoas, nem mesmo Kojiro. Empurrou o rapaz para longe de si e, sem pensar duas vezes, cerrou seu punho e terminou por dar o primeiro e único soco no rosto alheio que dera em todos aqueles anos.

Não foi um soco muito forte, nem ao menos acertou de forma correta, mas o simbolismo do ato tinha uma profundidade bem maior do que o soco em si. Kojiro não foi o único surpreso, Sakurayashiki estava igualmente boquiaberto, sem acreditar no que tinha feito. Queria pedir desculpas. Se redimir de qualquer forma, colocar um curativo no local ou algo do gênero, mas assim que sentiu as lágrimas se aproximando, não se deixou dar o braço a torcer.

- Vai embora. - ele disse quase sem voz. - Eu quero ficar sozinho.

Kaoru se afastou até a beira do pier, ficando de costas para Kojiro. Não ouviu mais nada por parte do outro. A única coisa que ouviu foram rodinhas de skate rolando para longe, seguido do mais completo silêncio. Estava sozinho, como queria. Ou como mentiu que queria. Se apoiou sobre as grades do pier e permitiu que a torneira de seus olhos se abrisse. Chorou como não chorava há tempos. Sentiu seus pulmões esvaziarem por completo. Sentiu sua garganta queimar ao puxar o ar frio. Sentiu sua cabeça latejar.
...
Também sentiu dois braços envolverem seu tronco, em um abraço, por trás. Olhou assustado, mas reconheceu aquelas mãos. Sabia de quem eram.

- Vai precisar de bem mais do que isso 'pra me fazer ir embora. - Kojiro sussurrou.

Bom, já estava naquela situação, chorar já não era mais uma questão. As lágrimas do de cabelos cor de rosa continuaram escorrendo, acompanhadas de soluços. O esverdeado voltou a falar:

- E você errou quando disse que nunca precisei impressionar alguém. - ele disse se referindo a todas as vezes que tentava chamar a atenção do rapaz desde que Shindo aparecera, e Sakurayashiki sabia disso. - Senti sua falta, Kaoru. - o mais forte sussurrou. - Não vou te abandonar agora.

O japonês se virou bruscamente, surpreendendo o esverdeado ao envolver seu pescoço, em um abraço.

- Eu sinto muito, Kojiro. P-Por tudo o que eu fiz... Eu...

Sua fala foi cortada assim que o rapaz o abraçou de volta, com força. Kojiro tinha algumas poucas lágrimas nos olhos, mas não iria deixar que atrapalhassem o momento.

- Tudo bem, Kaoru. - ele disse. - 'Tá tudo bem agora.

Após alguns minutos juntos, o esverdeado se afastou e segurou o rosto do que chorava com as duas mãos. Observou o tom avermelhado em seus olhos e limpou as lágrimas que umideciam as bochechas de Cherry. O último desviava o olhar, mas Kojiro se agachou sutilmente, atraindo a atenção do rapaz para si.

- Eu não vou sair do seu lado. - ele disse, transmitindo uma estranha sensação de calma ao rosado. Kaoru respirou fundo e o acompanhou com os olhos enquanto Nanjo voltava a sua altura normal e se aproximou do rapaz, selando seus lábios.

Kaoru tinha alguma dificuldade para controlar sua respiração. Suas mãos ainda tremiam, mas procuraram apoio nos braços alheios. Não foi um beijo tão luxuoso, mas foi carregado de sentimentos, que durou um pouco mais de tempo do que um beijo costuma levar. Kojiro se distanciou, um tanto quanto receoso e incerto de qual seria a reação do outro. Observou Kaoru desviar o olhar e respirar fundo, como quem tenta repassar em sua mente o que acabara de acontecer. Esperou em silêncio, ainda com as mãos tocando suavemente o rosto do rosado, até que o rapaz levantou a cabeça e o fitou com a imensidão amarelada de suas orbes. 

Kojiro engoliu seco, imaginando o que o rapaz planejava fazer. Se preparou até mesmo para levar um novo soco em seu rosto, mas, ao invés disso, sentiu a gola de sua camisa ser segurada e puxada na direção do outro. Seus lábios novamente colidiram. Não era um beijo calmo como o anterior. Era necessitado, era quente. Kojiro pediu passagem com a língua e se surpreendeu quando Kaoru respondeu de forma dominante, disputando espaço. Seus hálitos se misturavam conforme a troca de saliva ficava cada vez mais intensa. Ansiavam um pelo outro há tempos e o momento finalmente havia chegado. Suas mãos começaram a passear pelo corpo um do outro, até o momento em que Sakurayashiki empurrou o rosto do esverdeado um pouco para longe, como quem exige um tempo para respirar. Se entreolharam, ambos ofegantes. Kaoru fechou os olhos e abaixou sua cabeça, deixando com que ela descansasse no ombro de Kojiro. O peito do mais forte subia e descia em função da respiração descordenada. Seus batimentos cardíacos estavam alterados e ele sabia disso, mas continuava a envolver o rosado em seus braços.

Sentiu as costas de Sakurayashiki tremerem, como se sua respiração estivesse diferente. Imaginou que o rapaz estivesse chorando de novo.

- Kaoru? - Nanjo perguntou preocupado, se aproximando do rosto alheio e se surpreendeu quando o de cabelos cor de rosa levantou novamente sua cabeça e começou a rir alto.

Kaoru levou as mãos ao rosto, limpando a umidade que restava no local e riu até suas bochechas ficarem levemente coradas. Nanjo não tinha total certeza do que estava acontecendo, nem do que aquela risada significava, mas a risada de Kaoru era seu som favorito e vê-lo feliz era bem melhor do que vê-lo chorar.

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- Obrigado por ter ficado do meu lado. - o rosado disse acariciando o rosto alheio, a poucos centímetros do seu. - Eu precisava daquilo.

Nanjo sorriu e lhe deu um beijo calmo, permanecendo próximo após o fim.

- Mas então... - o rosado voltou a falar, provocativo. - Como foi a sensação de me beijar pela primeira vez?

- Foi melhor do que eu imaginei.

- Oh, então você imaginava cenas comigo? Seu pervertido.

- Você se acha demais, sabia?

- O que eu posso fazer, Kojiro? Não tenho culpa se você sempre foi apaixonadinho por mim. Tentando me beijar desde que tínhamos dezoito anos, imaginando cenas comigo...

- Posso até ter feito tudo isso, mas não fui eu quem ficou todo vermelho na vez que eu caí em cima de você. E você só tinha dezesseis. - ele disse fazendo o rosado revirar os olhos. - Nem fui eu quem fez o pedido de namoro.

[Continua]

First Times (Matchablossom)Onde histórias criam vida. Descubra agora