Capítulo Único

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— Eu te odeio por isto, você sabe, não é? — Foi o que disse Steve Harrington ao telefone na manhã em que abriu a sorveteria e deparou-se sozinho para enfrentar um longo turno de servir guloseimas geladas durante o dia.

Ainda que tarde na noite, mesmo após as luzes das lojas se apagarem, Harrington continuara a amaldiçoar Robin e sua doença que, coincidentemente, surgira em uma sexta-feira de verão onde os mais frios sorvetes derretiam pelos dedos e seus miolos de sorveteiro pouco se contentavam com a corrente do duto de ar.

Steve tocou o interruptor, deu à luz a escuridão local, e nela, feito cria do Mundo Invertido, surgiu Billy Hargrove, que atravessava o assoalho rumo ao balcão como se estivesse em uma secreta urgência de refrescar-se em uma tarde quente. E mesmo à noite, quando a brisa começara a derramar final frescor sob o clima, o excêntrico Hargrove preferia exibir seu "discreto" uniforme de trabalho como salva-vidas.

Quão irônico era aquele encontro! Um marinheiro sorveteiro e um salva-vidas arrogante, ambos filhos da água, em direta colisão feito ondas de tsunami.

Se uma enchente ocorresse, salvariam um ao outro, o marinheiro e o salva-vidas? Ou se afogariam na vaidade, na arrogância de indiferença, na negação de magnetismo feito ondas a se cruzarem por atração marítima?

A verdade é que ali, sozinhos, em única companhia um ao outro, permaneciam em deriva feito dois náufragos agarrados no mesmo pedaço de madeira do barco.

Talvez não fosse uma grande aventura como pudesse ter sido em outra dimensão, pois a incerteza do Marinheiro Steve quanto ao Salva-vidas seminu o fizera exibir a ponta de sua espada afiada:

— Desculpe, estamos fechan... — Interrompera-se ao abrir a pequena janela e espiar a figura do salva-vidas borbulhante de frente ao balcão cândido.

— Harrington! Eu não sabia que trabalhava como marinheiro. A faculdade não aceitou seus dotes? — Provocara Billy submerso em uma risada maléfica.

Steve bufou, fechou a janela e abrira a porta. Uau! Que susto não tomara ao bisbilhotar discretamente a silhueta exposta do Salva-vidas, feito um modelo de cera em uma vitrine de loja de sungas. Era Hargrove e a droga de seu corpo perfeito, seu sorriso cafajeste e seu short avermelhado feito as bochechas do envergonhado Steve que ralhou antes de responder ao cliente:

— Não enche, Hargrove. Estou indo embora. Que tal voltar outro dia? Quer dizer, o shopping todo está fechando. O que você quer aqui, afinal?

— Harrington, Harrington... deveriam te dar um tapa-olho e uma garrafa de rum para se tornar o Capitão Resmungão. — Considerou Billy com o peitoral bronzeado repousado no balcão. - Qual é, cara, não vai me vender uma casquinha? Vai mesmo desperdiçar a chance de uma gorjeta?

— Sim, eu vou. Agora dê o fora daqui. — Manifestou Steven com os olhos fulminantes. O sorriso de Hargrove o irritava, o punia, o atingia de uma forma que desconsiderava considerar como a mais ideal para si mesmo. Como era odioso aquele maldito sorriso!

Steve quisera ignorar qualquer outra troca de olhares com o maluco vestido apenas de short escarlate que zombava de seus trajes de trabalho. Contornou o balcão, deixou Billy a fitar a pequena janela e foi-se para arrumar as mesas.

Billy riu, seu humor ácido em ação. Tivera agora a maior prova de que Harrington era um covarde. Um covarde que não era capaz de seguir seus instintos atrativos e tomar a coragem de puxar o rosto de Hargrove e experimentar o calor de seus lábios. Billy sabia que toda a timidez de Steve não passava de uma cortina de fumaça para encobrir a verdadeira putinha que ele era. Harrington clamava, ah como clamava, através seu olhar, sua falsa indiferença, a tensão sexual que o invadia e implorava em mente que Billy o estapeasse o traseiro no balcão da sorveteria.

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⏰ Última atualização: Jun 22, 2022 ⏰

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