002.

332 36 4
                                    

— Hoje Maeve parece estar bem puta, não acha? — Estava deitada na cama de Fenrys, com minhas pernas escoradas na parede, e ele estava deitado ao meu lado com os braços atrás da cabeça.
— Quando ela não está?
— É, só que hoje ela está mais.

— Talvez Rowan apareça... — Umas batidas na porta alcançaram a gente. Connall apareceu com a cabeça dentro do quarto.

— Maeve está convocando todos, vamos. — Dei uma cambalhota de costas para sair daquela posição, com Fenrys me olhando torto.
— O quê? — Perguntei colocando minhas espadas e adagas de volta no corpo.
— As vezes você é estranha. — Bufei um riso.

— Olha quem fala. — Saímos do quarto e senti um puxão dentro de mim, Maeve estava realmente puta e querendo nos ver logo. Fomos os três em silêncio até chegar no salão do trono.

Chegando lá, Maeve estava em seu trono de pedra, com sua coruja ao lado. Só faltava eu, Fenrys e Connall, assim que me coloquei ao lado de Gavriel com Fenrys ao meu lado, Maeve começou.

— O príncipe Rowan e minha sobrinha chegaram aqui em Doranelle, é de espera que os dois venham até aqui... — Olhei para Fenrys, e pude ver que ele entendeu o que eu quis dizer.

"Seu boca de praga."

Quanto mais Maeve falava, mais eu sabia a merda que aquilo ia dar. Eu fumegava de raiva ao saber que Maeve nos obrigaria a machucar Rowan para atingir sua sobrinha. Infelizmente não conseguia fazer nada, ela comandava, eu fazia.

Momentos depois, me vi ao lado de Gavriel, os olhos amarelos vazios, e Lorcan, o rosto frio como pedra. Os gêmeos foram para cima de Rowan, que nem mesmo se debateu quando o seguraram pelos braços, obrigando-o a se ajoelhar de novo. E em nossas mãos... chicotes com ponta de ferro que cada um de nós segurava. Lorcan não hesitou, arrancando o casaco, a túnica e a camisa de Rowan.

— Até que ela me responda. Por favor, Celeste, comece. — falou Maeve, como se tivesse acabado de pedir uma xícara de chá. Ela sabia que aquilo me afetava mais do que qualquer um. Sabia que eu a odiava. Sabia que odiava fazer aquilo. Com o chicote, a ponta de ferro estalando contra as pedras, e angulei o braço. Não havia nada piedoso em meu rosto, como se parecesse que gostava de fazer aquilo.

— Por favor — sussurrou a garota, sentia seu desespero. Um estalo soou, Rowan se curvou no momento em que o chicote lhe cortou as costas. O guerreiro trincou os dentes, sibilando. —Por favor —repetiu. Gavriel estalou o chicote tão rápido que Rowan só teve tempo de inspirar uma vez para se recuperar. Do outro lado da varanda, Maeve falou:

— A duração disto depende totalmente de você, sobrinha.
— Pare — grunhiu a jovem.
— Nem pelo mundo todo, Aelin? Mas e por seu príncipe Rowan?

Outro golpe, agora de Lorcan, e sangue estava sobre as pedras.

— Diga onde está a terceira chave de Wyrd, Aelin.

Craque.

Rowan se contorceu contra as mãos dos gêmeos.

A portadora de fogo, Celaena, perdeu todo o seu controle com a última chicotada em Rowan. O calor radiou dela, aquecendo as pedras tão rapidamente que o sangue de Rowan se tornou vermelho

Palavras de xingamento saíram de todos nós, e escudos quase invisíveis irromperam ao redor de nós e da soberana. O olhar da garota havia se tornado chama, porque, quando olhou para Maeve, o rosto da rainha tinha olhos brancos como osso.

Aquilo estava mais divertido do que pensei, finalmente alguém que bateu de peito com Maeve, acho que gostei dessa garota.

O rio fumegava ao redor do palácio, gritos ao redor, conforme chamas, que não queimavam nem doíam fumegava ao redor. A ilha estava coberta por fogo. A rainha estava de pé agora e descia da plataforma. Celaena deixou que um pouco mais de calor escapasse pelas chamas, aquecendo a pele de Maeve conforme se aproximava da tia. De olhos arregalados, Rowan pendia dos braços de nós, o sangue fumegando sobre as pedras.

—Você quer uma demonstração —falou a assassina, voz baixa. —Com um pensamento meu, sua cidade vai queimar.

—É de pedra —disparou a soberana. Celaena sorriu.

—Seu povo não. — As narinas de Maeve se dilataram devagar. Um leve riso saiu de mim naquele momento.

Merda.

Maeve olhou para mim. Eu desviei do olhar que não só ela, como os outros tinham sob mim. Gavriel, que estava ao meu lado me olhou como se falasse

Você é louca, só pode.
Não me aguentei, desculpa.
Ela vai te machucar, Celeste.
Como se isso já não tivesse acontecido.

— Celeste. — A voz sombria e cheia de ódio de Maeve me chamou.
— Sim, majestade. — Falei como se não tivesse acabado de rir da rainha que eu tinha um juramento de sangue. Sabia que eu estava bem fodida.

— Ajoelhe-se. — A ordem verberou por todo meu corpo. Meus joelhos encontraram o chão. — Tire seu traje superior. — Engoli seco e fiz o que ela mandou, ficando apenas o tecido que cobria meus seios. Olhei de esguelha para Fenrys e Gavriel, ambos com desespero no olhar. — Gavriel.

— Sim, majestade. — Ele engoliu seco.
— Quero que dê cem chibatadas nas costas de Celeste, para que ela aprenda que não deve debochar ou me desrespeitar. — Meu corpo inteiro estremeceu e ar prendeu em meus pulmões. A sala ficou em silêncio, principalmente ao ver Gavriel saindo de trás de Rowan e vindo até mim. Seu olhar era cheio de culpa e ódio, como se pedisse desculpa. Eu apenas assenti e respirei fundo.

Um

A ponta de ferro fez um ardor latejar em minhas costas.

Dois

Três

Quatro

Cinco

Meus dentes trincaram com a dor...

Dez...

Quinze...

Minha vista estava embaçada com as lágrimas.

Vinte

Pude escutar a voz revoltada de Celaena ordenando a parar com aquela loucura.

Vinte e cinco...

A respiração ofegante de Gavriel atingiu meus ouvidos.

Quarenta

Sabia que ele estava forçando o máximo que podia para não ser forte.

Quarenta e seis...

Minha cabeça latejava de tanta força ao trincar meus dentes.

Sessenta e um...

Meus joelhos perderam a força e meu corpo encontrou o chão.

— Levante-se. — A ordem de Maeve obrigou meus joelhos e braços fracos voltarem a sustentar meu corpo.

Fenrys desviou o olhar de mim ao me ver naquele estado. Maeve sabia que não afetava só a mim ao fazer aquilo.

Oitenta e três

Meus gritos dominavam o salão inteiro.

— Chega. O show acabou, espero que tenha aprendido, Celeste. E quero que me agradeça pela misericórdia de tê-la poupado o resto das chibatadas merecidas. — Meu corpo desabou no chão. Todas as energias do meu corpo tinham se esgotado, minhas costas estavam em carne viva, o sangue ensopando e criando poças no chão de pedra.

— O... Obrigada... Majest... Majestade — O ar entrava em meus pulmões como espadas perfurando meu corpo — pela... p... pela misericórdia.

Quando senti minhas costas encontrarem o chão, minha vista embaçada me permitiu ver um grande macho loiro vindo em minha direção e me pondo nos braços. Antes de ver ou escutar mais algo, a escuridão inundou meu corpo.

𝐂𝐄𝐋𝐄𝐒𝐓𝐄 - GavrielOnde histórias criam vida. Descubra agora