008.

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— Oi. — Falei baixinho.
— Oi... — Ele falou suave. Porém conseguia detectar a dor em sua voz.

— Eu... eu fiquei preocupada com você. — Nossa como era difícil dizer aquilo em voz alta. Seus olhos se arregalaram de leve e quando voltaram ao normal ele disse:

— Quer entrar? — Assenti. Ele abriu mais a porta e eu entrei, seu quarto estaria em completa escuridão se não fosse pela única vela acesa ao lado de sua cama.

— Eu pensei muito antes de vir. — Ele estava encostado na porta, com seu olhar ainda distante porém ao mesmo concentrado em tudo o que eu dizia. — Não sabia se você queria um tempo sozinho ou... ou alguma companhia. — Meu corpo estremeceu quando ele desencostou da porta e veio lentamente em minha direção. Acho que nunca me acostumaria com seu tamanho e seus fortes músculos, ele parecia uma parede enorme em minha frente.

— Eu gosto muito da sua companhia, Celeste. — Um canto de seus lábios levantou quase imperceptivelmente. Eu sorri um pouco envergonhada.

Eu sabia que ele não iria falar muito agora, sabia que ele ainda estava processando toda aquela bomba jogada em seu colo, então apenas avancei em seu pescoço e a rodeei, apertando forte. Ele automaticamente me envolveu em seus braços, eu nas pontas dos pés para que o alcançasse.

— Eu tenho um filho... — Ele sussurrou. Eu balancei minha cabeça e falei perto de sua orelha.

— Sim, você tem. Mas seja o que for de ruim que está pensando ou se culpando, pare. Apenas pare, ok? Você não teve culpa alguma, você ao menos sequer sabia. — Eu larguei seu pescoço e coloquei minhas mãos em seu rosto, elas pareciam pequenas nele. Fixei meu olhar naqueles olhos dourados — Eu te conheço há mais de duzentos anos e sei o suficiente para saber que você faria o que fosse preciso para protegê-lo, Gavriel. — Seus olhos fecharam por alguns segundos — Se ele te conhecer nem que seja um pouco, ele vai te querer por perto, vai recompensar todo o tempo perdido... — Ele abriu os olhos e me olhava intensamente — Não se culpe por isso, ok? Eu tenho certeza que se Maeve não fosse essa desgraçada que é, Rosaline teria te falado, tenho certeza que ela fez isso pensando no melhor para vocês dois. — Meu dedo alisava sua bochecha. — Apenas, não se culpe, tá? Me promete?

— Eu prometo. — Ele sussurrou e então Gavriel me abraçou novamente. Ele veio me abraçar.

— Você deveria descansar. — Baixei minhas mãos, elas repousaram em seu peito e pude ver o arrepio que causou no corpo de Gavriel. Ele pôs suas mãos em cima das minhas e apertou de leve, não pude deixar de ficar surpresa quando ele disse:

— Fica. — Olhei para ele — Fica... por favor. — Eu tentei ignorar aquela sensação esquisita que apenas aquela frase me causou e balancei minha cabeça positivamente.

— Eu só vou pegar água para você, já volto ok?

— Use meu casaco. — Ele me deu seu casaco e eu me vesti com ele.
— Já volto. — Ele sorriu e balançou a cabeça. Quando saí do quarto fui até a recepção e antes que chegasse lá, uma voz que conhecia muito bem falou atrás de mim.

— Você e Gavriel estão mais próximos ou é impressão minha? — Quando virei vi Rowan andando até minha direção.

— Não é da sua conta. — Me virei e antes que eu conseguisse andar, ele segurou meu ombro.

— Celeste, me desculpa. — Pude ver o arrependimento pairando em seu olhar. — Você e Gavriel são como irmãos para mim e...
— Não é para mim que você precisa pedir desculpas. — Ele balançou a cabeça de leve.
— Como ele está?

— Mal. — falei secamente — mas irá ficar bem.
— Obrigado por se preocupar com ele.
— Eu sempre me preocupei com vocês três.

— Eu sei, mas eu percebo os olhares que vocês trocam. — Um sorriso malicioso surge em seu rosto e quando sinto uma vermelhidão em meu rosto, ele ri baixo.

— Cale a boca, sua pomba branca velha e desgraçada. — O empurro com o ombro e ele gargalha.

— Enfim, amanhã vou falar com ele... me desculpar.
— Acho bom, se não faço você se transformar e arranco suas penas uma por uma. — Ele riu novamente.

— Boa noite, Celeste.
— Boa noite, seu fofoqueiro. — Sua risada vai diminuindo de volume cada vez que ele entra mais no corredor.

Pego uma jarra d' água e dois copos com a recepcionista e volto para o quarto. Gavriel está deitado, seus braços atrás da cabeça e seu olhar ainda distante, porém bem menos que antes.

— Beba. — Lhe estendi o copo com água e ele bebeu tudo. — Bom Leãozinho. — Ele riu baixo e se afastou para que eu deitasse. Me virei para encará-lo, ele fez o mesmo. — Está se sentindo melhor?

— Sim, graças a você. — Sorri envergonhada. Minha respiração prendeu na garganta quando seu dedo colocou uma mecha de cabelo meu atrás da cabeça. — Obrigado, Celeste. Por tudo.

— Não faço nada demais. — Seu dedo cai para minha bochecha.
— Faz sim, e muito. Não é qualquer um que tem coragem de insultar Rowan.
— Aquele velhote sabe que não ganha nos argumentos comigo, e ele sabe que errou.

— Obrigado por me defender, mesmo sem eu precisar pedir. Isso significa muito para mim, principalmente vindo de você.— Minha barriga parecia que estava em um circo. Dando cambalhotas e piruetas, aquele olhar tão suave, mas ao mesmo tempo tão predatório fazia vibrações elétricas atravessarem por todo meu corpo. Meus olhos recaíram em sua boca. Ela parecia tão macia.

Eu queria beijá-lo

Eu queria que ele me beijasse.

Mas parecia ser algo diferente de como foi com Fenrys e Rowan. Não era apenas prazer.

Era algo mais forte

Porém antes de eu conseguir dizer ou fazer algo, ele franziu o cenho e me olhou mais fundo.

— O que é isso em seus olhos? — Minha sobrancelha arqueou e coloquei minha mão no olho, não parecia ter nada.
— Como assim?

— Eles estão... roxos.

— Quê? — Me levantei rapidamente, atravessei sua cama para pegar a vela e fui até o espelho do quarto. Poucos segundos depois ele estava atrás de mim.

— Está vendo? Eles estão roxos. — Eles estavam mesmo. Um violeta tão brilhante e lindo. Mas por quê?

— Que porra é essa? — Me virei para Gavriel que parecia se perguntar a mesma coisa.
— Amanhã vamos perguntar se alguém sabe de algo.

— Ok... — Tentei ignorar isso. Não estava doendo nem nada, nem teria percebido se Gavriel não tivesse falado. — Ok, amanhã penso sobre isso. — Nos deitamos novamente na cama e Gavriel apagou a vela.

— Boa noite, Celeste. — Sentia sua respiração próxima a minha, estavamos muito próximos.
— Boa noite, Gavriel. — E então, não relutei quando seu braço me rodeou, me trazendo mais próxima a ele. E pareceu normal quando minha mão se colocou em seu peito.

Podia sentir as batidas calmas de seu coração, e para minha surpresa, as minhas também estavam.

𝐂𝐄𝐋𝐄𝐒𝐓𝐄 - GavrielOnde histórias criam vida. Descubra agora