34. Vai embora?

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Camila caminhava sem parar, e ia acabar fazendo um buraco no soalho de madeira do quarto de hóspedes.

Como pude ser tão idiota?

Shawn não a amava e, por mais que doesse, ela já conhecia essa sensação. Sabia com certeza do que se tratava. O sofrimento que viria depois tinha um nome. Amor não correspondido. Já passara por isso e poderia dizer com certeza: parti porque meu amor não foi correspondido. Ele não ia dizer o que eu queria ouvir, e eu já disse o que sentia, então tive que partir. Como uma mulher pode recolher as palavras que já disse?

Seus amigos responderiam a isso: não pode recolher essas palavras. Só pode ir embora, de cabeça erguida e dignidade intacta. E Camila sorriria porque fizera a coisa certa. Mesmo que desmoronasse por dentro, partir era a única possibilidade.

Porém, Oliver era outra coisa. Camila já estava destruída pela ideia de deixá-lo. Ele sempre ficaria em seu coração. Era o amor mais puro e correspondido que ela já sentira, além do de sua família. Podia ver isso nos olhos dele quando acordava pela manhã ou após uma soneca.

Quando estava aborrecido e ela o segurava. Os dois se abraçando juntinhos. E quando ele ria. O amor de Oliver a dominara em um mês apenas, e sua ausência deixaria um vazio terrível. Mas nada havia a fazer. Oliver pertencia ao pai, e o pai dele não a amava.

Ela se deixou cair na banqueta aos pés da cama.

– E agora? – disse em voz alta.

Não podia descer e voltar a falar no assunto. Isso só a faria sofrer. E não tentaria convencer Shawn que ele a amava. Isso precisava ser espontâneo.

Também não gostava da ideia de se esconder no quarto até o dia seguinte, então só restava uma opção, aquela que Shawn sugerira tão generosamente depois de se decidir pela babá: partiria nesse mesmo dia.

Não estava pronta para se despedir de Oliver, porém nunca estaria. Poderia passar a vida toda se preparando para isso e jamais chegaria o momento certo.

Seu celular tocou com uma mensagem. Olhou a tela no criado-mudo... um e-mail de Katie.

Camila, Apesar das lacunas em suas previsões financeiras, Sylvia gostaria de continuar com as negociações sobre a compra da Kama. Sylvia e eu gostaríamos de ir a Boston cedo pela manhã na segunda-feira para um giro pelas suas instalações, examinar as criações para o próximo ano e discutir nossas opções. Às 9 horas? Sei que estamos em cima da hora (hoje é sábado), mas preciso de uma resposta logo.

Atenciosamente, Katie.

Quantos sinais Camila precisaria receber do destino até parar de lutar? Shawn não dissera amo você. Sylvia Hodge a queria de volta a Boston para discutir negócios. E ela já instalara Oliver na vida que ele merecia, o que significava que devia dizer adeus, pegar o próximo trem e não olhar para trás.

Digitou a resposta:

Katie, Muito obrigada. Diga a Sylvia que verei vocês duas na segunda-feira, pela manhã. Estou ansiosa.

Camila.

Sem pensar mais, começou a fazer a mala. Quanto mais cedo partisse, melhor. Por sorte tinha pouca coisa, e logo estava pronta. Depois tomou banho e vestiu o eterno vestido de verão que usara ao conhecer Shawn. Parecia que já se passara um século desde então.

Enquanto descia a escada, lágrimas ameaçaram cair. Refletiu que era como tentar escapar de um súbito temporal no meio do oceano. As ondas não a deixavam avançar, a maré a puxando para trás, a água molhando seu rosto, porém ela lutava porque precisava chegar à praia. Precisava se salvar, embora não soubesse com que propósito. Apenas seu instinto lhe dizia para sobreviver. E ela iria sobreviver.

Chegou com a mala no último degrau e a puxou pelas rodinhas até a entrada.

A voz de Shawn na cozinha a deteve: – Vai embora?

Oliver brincava no chão com tigelas de plástico e colheres de pau. Camila mordeu o lábio.

Você consegue, Camila.

– Sim, devo ir. Recebi um e-mail do escritório de Sylvia Hodge. Quer que esteja em Boston segunda-feira de manhã. Preciso de tempo para me preparar, e você não precisa mais de mim, então é melhor eu ir e deixar que aproveite o fim de semana com Oliver.

– Camila. Nós nem terminamos de conversar. – Ele emergiu da cozinha, mas graças a Deus não a tocou, apenas cruzou os braços sobre o peito. – Vamos deixar tudo inacabado?

Ela forçou um sorriso e um aceno decidido.

– Acho que não precisamos mais conversar sobre o que aconteceu. Não vou forçá-lo a dizer coisas que não sente. E você não fez nada de errado.

– Só queria que me desse tempo para pôr as ideias no lugar.

Porém... ela não precisava de mais tempo. Sabia o quanto o amava. Sabia como seria duro entrar naquele elevador. Mas não dava para esperar e dar outra chance a ele. Shawn provavelmente nunca faria o que ela esperava. Não era sua culpa ter sido muito magoado na vida. Mas ele era sempre muito franco... e precisava de espaço.

– Tudo bem. Eu não devia ter dito nada. Esqueça. – Camila correu para Oliver, se ajoelhou no chão e ergueu seu rostinho com um dedo. – Adeus, amorzinho... –Sua voz falhou. Seu peito ardia. Já não conseguia falar. Inclinou-se e depositou um beijo na cabeça do menino, tentando memorizar seu cheirinho e a maciez do cabelo. Ia sentir tanta saudade. Sempre.

Levantou-se e deu as costas para Shawn. As lágrimas corriam por suas faces, mas ela não queria demonstrar tanta fraqueza.

– Preciso ir, senão perco o trem.

– Tem certeza? – Shawn perguntou, fazendo o que ela temia... segurando seu braço.

Camila não olhou para trás.

– Sim, tenho.

– Pelo menos deixe que John a leve para a estação. Como agradecimento por tudo.

Não lute. Apenas vá. Salve-se. Ela aquiesceu.

– OK. Obrigada.

Correu para o elevador, abaixando a cabeça quando as portas se fecharam e as lágrimas rolaram livremente. Tudo que amava estava desaparecendo.

Camila colocou os óculos escuros. Como sempre, John estava a postos.

– Senhorita Cabello. Penn Station?

– Sim, John. Obrigada. – Subiu no assento de trás e respirou fundo. Só me leve até o trem. Estarei bem.

O celular tocou com mensagem de Shawn:

Isso é tolice. Volte. Precisamos conversar.

A conversa hoje não foi suficiente. Não sei se alguma coisa mudou agora. Mas preciso de tempo. Desculpe.

Ela respondeu: Tudo bem.

Deteve-se para não digitar ainda amo você mesmo assim.

– Senhorita Cabello? – chamou John. – O sr. Mendes está me pedindo pelo celular para levá-la de volta ao apartamento.

Era a cara de Shawn estalar os dedos e esperar que o mundo o obedecesse.

– Não, por favor. Pare e pegarei um táxi.

– Não vou deixar a senhorita.

– Então mandarei uma mensagem para o sr. Mendes. Continue dirigindo.

Por favor, não meta John nisso.

Esperar a resposta foi terrível. Não estava pronta para o fim.

OK.

Foi a resposta.

Ela guardou o celular na bolsa.

– Tudo esclarecido, John. Foi um mal-entendido.

– Certo. Vou levá-la à estação.

– Quanto mais rápido, melhor.

Dez dias para conquistar (repostagem)  | ShawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora