3- Visitando gatos

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Havíamos voado em alta velocidade, durante toda a manhã. Enquanto Édric corria pela floresta de quadripétalas abaixo de nós. Édric sugeriu que fossemos mais depressa, na esperança de chegar até Mimoso antes do final do primeiro dia.
Então voamos o mais depressa possível, sem parar para descansar. Édric era surpreendentemente veloz. Acompanhando nosso ritmo de vôo sem dificuldade alguma, apesar dos obstáculos pelo meio da floresta, como ter que desviar árvores, barrancos, pedras e as próprias quadripétalas que se balançavam enquanto cantarolavam sonoramente.
- Nerian! -Eu chamei. Ele estava voando á cerca de uns seis metros na minha frente. –Estou com fome.
-O que quer comer? –Ele sorriu, diminuindo a velocidade para emparelhar comigo. Seus olhos violetas se estreitaram para me observar.
-Qualquer coisa. –Dei de ombros, estendendo minhas asas para relaxar os músculos –Estou com sede também, você trouxe água?
-Sim. –Nerian se aproximou de mim, e puxou um cantil de couro, que estava preso envolta de sua cintura.
-Obrigada. –Eu disse quando ele me entregou o cantil.
-De nada. –Nerian sorriu o canto dos lábios, enquanto eu bebia a água gelada de dentro do cantil –Você não duraria um dia longe de mim, Eileen.
-Talvez... –estreitei os olhos, encarando-o com preguiça enquanto lhe devolvia o cantil –O que vamos comer?
- Também estou faminto! – De repente o lobo exclamou, parado em baixo da sombra de uma quadripétala gigante, pela qual estávamos sobrevoando vagarosamente. Eu e Nerian então pousamos perto de onde Édric estava.
-Por esta floresta deve haver árvores frutíferas. –Nerian observou, enquanto Édric se deitava na grama rasteira.
-Esperarei aqui, enquanto vocês vão atrás de comida. –Èdric bocejou, deitando a cabeça sobre as patas dianteiras.
- Hein? – Eu olhei indignada na direção daquele lobo – Como assim "vão atrás de comida"?
- Você não está com fome? – Èdric perguntou franzindo o cenho de um jeito debochado.
- Sim, mas... –bufei indignada –Ah, deixa prá lá.
- Não se preocupe, Eileen.–Nerian se aproximou mais de mim, e passou o braço sobre os meus ombros. –A gente acha alguma coisa, e logo seguiremos nossa viagem.
-Você realmente vai ficar ai parado? –Eu olhei para Édric, que não fazia menção de se levantar de onde estava. Nerian ficou tenso.
- Sim, e não demorem, pois estou faminto! – aquele lobo disse entremeio outro bocejo antes de fechar os olhos.
-Vamos, Eileen! –Nerian balançou a cabeça, sinalizando para que eu ficasse quieta. Logo ele se desvencilhou de mim, e seguiu pela floresta.
- Para onde estamos indo? – perguntei, ao segui-lo.
- Caçar! – Nerian disse simplesmente.
- Caçar? – eu repeti espantada, ao olhar fixamente para as costas dele, á alguns centímetros de distancia – Vamos caçar?!
-Sim.– ele sorriu, me olhando por cima dos ombros, seus olhos violetas se estreitaram –Não era isso que você queria?
Eu sorri, levando a mão para pegar uma de minhas adagas no coldre da perna direita.
-Estou adorando essa viagem! –exclamei animada, sorrindo para Nerian, que me observava de um jeito estranho.
-A propósito... –Ele parou se voltando de frente para mim –Você é péssima nisso. Nunca vi você conseguir se aproximar de algum animal sem ser percebida.
-Como assim "nunca vi"? –repliquei fitando-o nos olhos violetas –Você fica me vigiando até de madrugada?!
-Claro! –Nerian gargalhou alto me dando as costas novamente –Caso contrario, você já teria morrido, Eileen.
Nerian continuou andando, me deixando para trás. Então eu andei depressa para alcançá-lo e ficar lado a lado com ele.
-Como assim, "você já teria morrido"? –repliquei mais uma vez, ao encará-lo com indignação. –Não sou tão ruim assim.
-Eileen... –Nerian suspirou, ao me encarar de volta enquanto ainda caminhávamos pela floresta de quadripetalas –Você brinca de caçar alguns animais pequenos , e eu admito, sua mira é boa e você é bem forte, posso até ressaltar sua agilidade, mas você paralisa quando esta com medo de alguma coisa, e quando isso acontece, eu tenho que intervir. Quem você acha que espanta os animais de grande porte, antes que eles devorem você viva?!
-Você esta se referindo á Teiarius... –abaixei a cabeça olhando o gramado rasteiro abaixo de meus pés enquanto caminhava.
-Não. –Nerian de repente pegou a adaga que estava em minha mão direita, me fazendo voltar à atenção para ele.
-Claro que está! –fiz uma careta.
-Quer uma fruta? –Ele puxou uma laranja de uma arvore próxima e então começou a descascá-la enquanto eu o observava.
-Obrigada. –sorri, pegando a laranja descascada.
-Acho que deve ter morangos silvestres perto do riacho que esta fazendo barulho á alguns metros daqui. –Nerian pousou seu olhar em mim, observando a expressão do meu rosto. –São seus favoritos ainda?
-Sim. –acenei com a cabeça, ao comentar com sarcasmo –Você é tão observador.
-Sou sim. –Nerian deu de ombros ignorando minha observação sarcástica e continuou andando em direção ao tal riacho. –Ainda mais quando se trata de você.
-De mim? –esquivei uma das sobrancelhas e o fitei com curiosidade.
-Sim. –Nerian se voltou para mim, seus olhos violetas me fitaram com extrema atenção –Você ainda é uma criança Eileen, o que me obriga a cuidar de você.
-Já tenho dezoito anos Nerian. Não sou mais criança. –Balancei as mãos para cima e fiz uma careta –Não percebeu que eu já cresci?!
-Percebi... –Nerian ponderou por um segundo, me observando dos pés a cabeça –E isso me deixa preocupado.
-Com o quê? –Chacoalhei a cabeça indignada.
-Você não entenderia. –Nerian balançou a cabeça suspirando pesadamente, enquanto me dava às costas.
-Você é um carma na minha vida. –murmurei enquanto mordia a laranja.
-Um carma particular. –Nerian riu divertido, sem olhar na minha direção, o que me permitiu observá-lo. O sol deixava seu rosto com um leve e belo tom de âmbar. Seus lábios de um vermelho perfeito se abriram em um sorriso, mostrando os dentes brancos, e alcançando os brilhantes olhos violetas. Definitivamente, era justificável a atenção extra que as lúridas lhe davam. Talvez, se eu não o visse como uma espécie de irmão mais velho, também me derreteria por ele.
Ele tinha um jeito de arrumar os cabelos negros, que surtiam um pouco de charme, um gesto nitidamente inconsciente, mas que chamava bastante a atenção de quem o estava observando. Principalmente se o observador em questão fosse uma fêmea.
Quando chegamos à beirada do riacho, paramos para observá-lo. A superfície ondulante brilhava como um espelho de diamantes, devido ao reflexo do sol na água cristalina, que permitia que víssemos vários peixes mergulhando livremente, seguindo a água corrente.
- Está pronta pra caçar? – Nerian sorriu ainda segurando a minha adaga nas mãos. – Ou melhor, está pronta para pescar? –Ele olhou para o riacho a nossa frente –Porque essa é a única opção que esta tendo por aqui agora á tarde.
- Não sei pescar. – resmunguei enquanto via-o entrar no riacho –E essa água deve estar fria, não pretendo entrar aí.
Nerian caminhou até o meio do riacho, onde ficou imerso até a cintura, se mantendo imóvel dentro da água enquanto os peixes passeavam bem próximos a ele.
-Venha! – ele chamou quase sussurrando.
-Não, obrigada. –Fiz uma careta –Prefiro ficar só olhando.
-A água esta na temperatura ambiente. –Nerian disse ainda observando os peixes ao redor dele. –Confie em mim.
Tirei minhas botas, e me sentei na beirada, colocando os pés dentro da água, enquanto Nerian me observava.
-Não vi nenhum morango silvestre aqui. –Olhei em volta, observando o gramado cheio de flores coloridas, e algumas árvores.
-Acho que me enganei. –Nerian sorriu de um jeito malicioso, e se aproximou de onde eu estava, e esticou os braços sobre o gramado, um de cada lado do meu corpo.
-Você é um mentiroso! –baguncei o cabelo dele, que era macio como o veludo. Ele riu e chacoalhou a cabeça, tentando arrumar o cabelo. Eu não podia negar. Nerian era realmente muito bonito.
-E você é linda. –Nerian se aproximou mais de mim, me olhando nos olhos, de um jeito que me deixou estranhamente constrangida.
-E você é horroroso! –Eu ri empurrando-o para longe de mim. Ele sorriu e se afastou, retirando seus braços da minha volta.
-Vou pegar alguns peixes. –ele caminhou para o meio do riacho e ficou observando a água. –Para podermos almoçar logo.
Eu me levantei, e comecei a andar descalça, nas proximidades do riacho.
-Aonde você vai? –Nerian gritou quando eu me afastei.
-Não vou sair da sua vista –Brinquei, olhando para ele, que estava parcialmente encharcado. –Ainda estou com fome, anda logo com isso.
-Estou tentando... –Nerian voltou a prestar atenção nos peixes dentro da água.
Enquanto Nerian pescava os peixes, eu colhia algumas laranjas, apenas o bastante para comermos e seguirmos viagem. O lugar era calmo e tranqüilo, a grama rasteira abaixo dos meus pés era fofinha e macia. Sem duvida, aquele era um lugar agradável.
Depois de algum tempo, Nerian já havia pegado cerca de cinco peixes de tamanho mediano, então voltamos para aonde Edric estava. Nerian buscou gravetos e ateou fogo, fazendo uma pequena fogueira para poder assar os peixes que havia pescado. Nós almoçamos, e logo partimos para o distrito de Mimoso.

- Bem vindos a Mimoso. – disse um pequeno semi-gato a nossa espreita quando chegamos. – Eu sou Lionel.
Ele era um garoto pequeno, certamente filhote, a pelugem sobre a pele era de cor acobreada, seus grandes e arredondados olhos, eram de um tom verde amarelado, e suas pupilas eram um pouco dilatadas, o que sugeriam um semblante infantil ao pequeno semi- gato. O focinho estava franzido enquanto encarava o lobo, a impressão que eu tive, era de que Édric deveria ter um cheiro ruim ao olfato do pequeno semi-gato.
- Eu sou Edric – o lobo disse friamente para o pequeno semi-gato, que continuava contente. – Esses lúridos comigo são, Nerian e Eileen. – Edric completou ao apontar em nossa direção. Nerian acenou com a cabeça ao segurar em minha mão com força. Então eu acenei com a cabeça também.
- O que trazem vocês á Mimoso? – Lionel perguntou educadamente.
-Atalaia precisa da ajuda de vocês para resolver um problema. –Édric se limitou a dizer.
Eu e Nerian nos entreolhamos desconfiados. Havia algo de suspeito naquele lobo.
-Ficaremos muito felizes em ajudar no que for preciso. –Disse Lionel altivo, indicando com uma das patas para que nós o seguíssemos.
Lionel nos levou por dentro da floresta secreta de mimoso. Como eu nunca havia ido muito longe de Quartzo, era tudo novo pra mim, e eu estava verdadeiramente encantada.
No começo era tudo verde, a claridade do sol quase não passava pelas folhas das copas das arvores que fechavam o alto sobre nossas cabeças. Andamos mais um pouco e então vimos borboletas douradas, com asas perfeitamente curvilíneas e espessas, voando livres de um lado para o outro, deixando uma poeira brilhante e dourada no seu rastro, era definitivamente algo lindo de se olhar. Elas iam à nossa frente como se instintivamente nos mostrassem o caminho, em que Lionel deveria abrir passagem entre os arbustos, que tomavam conta da quase imperceptível trilha no chão, após alguns minutos de caminhada, as árvores e arbustos variados foram desaparecendo, até que chegamos a um lugar totalmente aberto, onde se dava para ver o esplendor de mimoso. Havia varias cachoeiras de águas cristalinas, que deslizavam entre inúmeras e variadas pedras de topázio azul. Iluminadas pelo sol âmbar de um fim de tarde, tanto a água quanto as pedras, brilhavam lindamente.
Pulando nas pedras de topázio azul, também se podia contemplar uma mistura de cores adorável. Um verdadeiro arco-íris felino. Semi-gatos de distintas cores, pulavam sobre as pedras, outros se arriscavam na água, e outros apenas descansavam nos bancos cobertos por flores que balançavam suspensos no ar, acima da superfície da água. Eu fitei admirada a beleza singular do lugar. Continuamos andando por um jardim de tulipas amarelas, que assim como as quadripetalas, também cantarolavam, mas apenas canções de ninar, enquanto aquelas borboletas douradas continuavam a abrir caminho entre elas.
Aquele caminho nos levou então, a uma espécie de colônia, onde havia grandes cogumelos, de superfície alaranjada com bolinhas brancas, de onde saíram vários semi-gatos que se juntaram a nós, fazendo um círculo enquanto nos encaravam curiosos, cheirando nossas roupas e cabelos, como se nos avaliassem. Após esse rito estranho e incômodo, alguns deles começaram a "miar" deslumbrados para o alto. Alguns semi-gatinhos ficavam ronronando enquanto se enroscavam em nossas pernas, eu já estava ficando irritada com isso, prestes a chutá-los para longe, mas ao olhar para o alto procurando o que todos os outros semi-gatos estavam admirando, eu me esqueci dos gatinhos.
Descendo hábil e vagarosamente do alto das copas das arvores, haviam três capas amarelas, que pareciam contornar silhuetas invisíveis enquanto se esgueiravam pelos troncos das arvores. Quando chegaram ao chão, três semi-gatos surgiram vestidos nas capas, como se houvessem se materializado em segundos, eu logo reconheci um deles. Kayne. O semi-gato que refletia em um daqueles pequenos espelhos envolta do pescoço de Édric.
-O que querem aqui? –Um semi-gato de pelugem cinza se pôs a nossa frente.
Então Édric contou-lhe a mesma história que nos contou em Quartzo, o que deixou os adoráveis semi-gatos empolgados. Em seguida, Édric balançou o pescoço para que um dos colares caísse no gramado rasteiro, virando o espelho para cima e analisando a imagem do reflexo por um demorado tempo.
- É você! – Édric disse seguro nas palavras, olhando para um dos gatos, o mesmo que eu já havia reconhecido. Os outros semi-gatos de mimoso, se alegraram e cercaram Kayne, esquecendo-se de que estávamos lá também.
- Como se chama? – perguntou o lobo para o semi-gato.
- Kayne, senhor. – respondeu o gato lisonjeiro. – Estou satisfeito por ter sido escolhido, é uma honra.
- Por que ele perguntou o nome de Kayne se ele já sabia? – sibilei baixinho para Nerian que deu de ombros.
- Belas palavras. – alfinetou Edric estreitando os olhos e dando um sorriso meia boca ao olhar para mim e Nerian –Seria bom se todos reconhecessem que ser escolhido para essa jornada é algo honrado.
Indiferente à impertinência de Edric, fiquei quieta só observando a alegria dos semi-gatos por mandar um dos seus para uma possível enrascada.
De repente, Kayne olhou para mim. Seus arredondados e esverdeados olhos fosforescentes, me analisavam dos pés a cabeça. Eu o fitei de volta, observando enquanto ele se aproximava. Atrevidamente, o semi-gato de pêlos caramelos pegou uma mexa do meu cabelo e começou a cheirar.
- Desencosta. – rosnou Nerian baixinho entre os dentes para o garoto.
- És bela, minha donzela – Kayne ronronou próximo ao meu pescoço, ignorando Nerian.
- Sai! – falou Nerian ringindo os dentes ao contrair o maxilar. Encarando Kayne com certa repugnância. Eu permaneci em silencio, ao me divertir com o pequeno momento de estresse de Nerian.
- Vocês estão juntos? – Kayne atrevidamente recostou o queixo sobre meu ombro olhando para Nerian.
-Sim. –Nerian fechou a cara para o semi-gato.
Mas antes que Nerian pudesse encostar no garoto semi-gato, soprei a palma de minha mão, liberando varias faíscas violetas na direção do focinho de Kayne. Obrigando-o a se afastar um pouco de mim.
-Entendi. –Kayne sorriu divertido para mim, mas um tanto sem graça ao anuir com a cabeça, se afastando de mim e de Nerian.
-Achei que você tinha medo de que eu fosse à irresponsável para incitar uma guerra entre distritos. –Balancei a cabeça olhando para Nerian.
-Existe uma grande diferença entre incitar uma guerra e impor limites –Nerian sorriu para mim –Eu apenas queria mostrar para aquele garoto que não havíamos dado a ele tal liberdade de aproximação, Eileen.
-Entendo. –anui com a cabeça, enquanto Nerian se afastava, indo em direção a onde Édric estava junto de outros semi-gatos.

Quando anoiteceu, os semi-gatos enfeitaram as árvores com luminárias de octógonos coloridos pendurados por todo o lugar, e envolta das casas de cogumelo alaranjados, pousavam pequenos vaga-lumes piscando periodicamente. Também estenderam fitas de cetim nos troncos das árvores e para se acomodar se agrupavam nos bancos que se balançavam no ar. As borboletas douradas brilhavam como estrelas durante á noite, voando de um lado para o outro. Enquanto as tulipas amarelas espalhadas pelo chão sibilavam canções de ninar. Serviram como banquete, tigelas de leite com pãezinhos em forma de peixe. O leite parecia embriagar os semigatos rapidamente, fazendo-os cantar e dançar em grupos, saltando de banco em banco. Eles pareciam realmente saber se divertir.

Já era mais de meia noite quando Kayne veio novamente para o meu lado como quem não queria nada, e se aproximou, deitando com a cabeça em meu colo, aninhando-se para dormir. As orelhas felpudas dele tão aveludadas faziam cócegas em minha pele.
- Senhorita – Kayne disse preguiçosamente ao fechar os olhos – Tens aroma de leite fresco.
- Humpf – bufei ao apertar de leve seu focinho marrom. –Mais um que acha que eu ainda sou uma criança.
- Não te zangues senhorita. – ele pediu se espreguiçando para dormir. Eu ergui uma de minhas sobrancelhas e ele continuou ronronando baixinho.
Assim que disse isso, ele caiu em sono profundo aconchegando-se no meu colo. Eu até pensei em novamente jogá-lo longe, mas deixei de lado, o garoto de aproximadamente um metro e meio de altura, parecia cansado, e depois de beber tanto leite, certamente só despertaria pela manhã. Mas Nerian, contrariando minha vontade, se aproximou e empurrou Kayne do meu colo para a grama, antes de se acomodar ao meu lado.
- Tudo bem? – ele olhou para mim ao se deitar na grama, prestes a fechar os olhos.
- Sim – respondi ao observar que Kayne nem se quer percebeu quando Nerian tocou nele.
-Acho que teremos que dormir ao relento por alguns dias –Nerian observou já de olhos fechados.
-Não tem importância. –Olhei na direção dele, que estava imóvel –Acho que será divertido.
-Boa noite, Eileen. –Nerian sorriu ainda de olhos fechados.
-Boa noite, Nerian.

Os outros gatosdebruçavam-se uns nos outros rindo e cantarolando em coro, caindo no gramado ese aconchegando para dormir. Estava um clima fresco, já anunciando o inicio doverão. A época que eu mais gostava. Então me deitei ao lado de Nerian, eadormeci também.

Um tom de rosa cercou a imensabola meio laranja que nascia além do horizonte multicores de Mimoso. Estavaamanhecendo. A claridade do sol vinha se aproximando para desfazer a escuridãoque nos cercava. Nerian ainda estava deitado ao meu lado, mas seus olhosestavam bem abertos, olhando para mim de um jeito pensativo.
-Bom dia. –murmurei ao olhar para ele.
-Bom dia. –Nerian sorriu o canto dos lábios, e então se levantou.
Édric também já estava acordado, conversando com alguns semigatos de Mimoso. Eume levantei então e caminhei até ele.
- Hora de partir. - exclamou o lobo baixinho pra mim.
- Para onde vamos agora? –perguntei ao me espreguiçar, esticando bem as minhasasas.
- Impoluto. –Édric respondeu ao me fitar com o canto dos olhos.
Eu apenas assenti com a cabeça, fingindo desinteresse. Mas na verdade eu estavaansiosa para conhecer aquele luzido pessoalmente.
-Eileen! –Nerian me chamou de repente, gesticulando para que eu fosse até ele,que estava conversando com três semigatos distintos.
-Olá. –Eu disse quando me aproximei deles.
-Quer uma maçã? –Nerian esticou a mão para oferecê-la para mim, que a peguei.
-Obrigada. –Sorri.
-Estes são, Inek, Dilion e Adnam. –Nerian apontou para os semigatos a suafrente que anuíram a cabeça para me cumprimentar. –Eles nos ofereceram algunsfrascos de uma poção feita por eles, que curam todos os tipos de ferimentosinternos e externos.
-Chamamos de Analu. Mas lembrem-se, esta poção só tem poderes curativos se foringerida pouco tempo depois de serem feridos. –Disse Dilion, o semigato depelugem acinzentada.
-A regeneração é quase instantânea. Mas causa uma súbita inconsciência em quema beber. –Acrescentou Adnam, o outro semigato de pelugem amarelada. –Entregamosvários frascos para Kayne e para o lobo. O suficiente para que vocês possampassar pelo menos um mês.
-Se tudo correr bem voltaremos para casa em poucos dias. –Nerian riu balançandoa cabeça.
-Tomara. –Inek, o outro semigato de pelugem acobreada riu também.
Mas logo eles foram interrompidos pelaalgazarra dos gatos, que se juntaram orgulhosos em volta de Kayne para sedespedir. Kayne se despediu de todos os semi-gatos de Mimoso, abraçando cada umdeles. E então se juntou ao lobo, Nerian e a mim. Saímos de Mimoso ao som de"miaus" estrondeantes, recheados de desejos de boa sorte.

Eileen, O despertar de um Anjo (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora