7- Pérola venenosa

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  O cheiro salgado fazia as minhas narinas inflarem, estávamos à beira mar. O sol de um tom laranja dourado se deitava no horizonte, e as águas cristalinas refletiam uma cor cobre reluzente, enquanto se moviam em ondas tranqüilas, que deslizavam calmamente até a areia branca. Era fim de tarde e todos nós estávamos exaustos e famintos.
Há poucos quilômetros de onde estávamos na praia, havia um aglomerado de criaturas semi-aquáticas, com guelras e escamas coloridas espalhadas por quase todo o corpo.

Aparentemente, eles estavam organizando uma festa, com várias fogueiras pequenas e largas esteiras de palha que se estendiam pela areia, acomodando algumas almofadas coloridas sobre elas. Havia também varias tendas de cor marfim, sendo montadas aleatoriamente pela extensa faixa de areia límpida.

O luzido não disfarçou o brilho nos claríssimos olhos azuis ao constatar que estávamos diante dos arranjos de alguma comemoração. Na qual, ele nitidamente já havia decidido participar com ou sem convite.

Conforme nos aproximamos mais, algo capturou não só a minha atenção, mas a de Aelle e Kayne também.
Comida.
Havia uma variedade absurda de frutas e outras especiarias sobre uma extensa plataforma de madeira alta, sobre a areia á poucos metros á nossa frente.
-Essa é a praia de Tâmia, a maior serpente marinha de Carbert. –Edric disse enquanto nos aproximávamos devagar –Ela prefere que as criaturas que vivem aqui sejam livres e se divirtam. Acredito que está será a jóia mais fácil de reivindicar.
-Gostei da maneira com que essa serpente administra esta praia. –Aelle observou ao redor, havia um sorriso malicioso se estendendo pelos lábios vermelhos.
-Estou faminto. –Kayne não tirava os olhos verdes da plataforma de frutas, quando disse isso. Suas orelhas felpudas estavam evidentemente eriçadas, denunciando sua ansiedade –Seria inconveniente se eu me servisse daquelas frutas, senhor Edric?
-Espere até que alguém nos recepcione. –Edric disse, caminhando até as criaturas a nossa frente. O pêlo negro de Edric brilhava sob a luz de um por do sol perfeito. Seus olhos cinza opacos ganharam uma sombra acobreada sobre eles, enquanto ele observava astutamente toda a movimentação na praia. Por uma fração de segundos, eu tive a impressão de ter visto as pupilas dos olhos dele oscilarem.

Anabel parecia agitada, olhando de um lado para o outro, como se buscasse por algo. Seus olhos dourados eram atraídos principalmente para a imensidão do mar a nossa frente, como se algo nele á estivesse deixando ansiosa.
-Ficaremos por aqui esta noite? –Nerian estava ao meu lado, com as asas negras recolhidas rentes as costas.
-Provavelmente. –Edric murmurou baixo, fazendo menção para que continuássemos andando.

Uma das criaturas semi-aquáticas, rapidamente se aproximou de onde estávamos, no momento em que percebeu nossa sutil aproximação.
-Boa noite. –A criatura nos cumprimentou com um enorme sorriso no rosto. A criatura tinha a maior parte da pele brilhante, abarrotada de escamas fruta cor, e seus arredondados olhos dourados brilhavam vigorosamente, muito parecidos com os de Anabel. A criatura tinha cabelos longos e ondulados que caiam graciosamente pelas costas, em um tom de verde desbotado.
Era um macho, eu tinha certeza disso, devido ao peito reto e desnudo, e as feições do rosto mais severas. Entretanto, seus gestos eram mais femininos. Mais delicados e gentis.
Ele era alto e um pouco robusto. Suas pernas e braços eram musculosos. Ele trajava apenas uma espécie de manta, cravejada de pérolas, que circundava ao redor de seu quadril, descendo até o meio das coxas. Os pés estavam descalços.

-Boa noite –todos nós respondemos em uníssono, observando a criatura simpática á nossa frente. .
-Bem vindos á nossa praia. –A criatura semi-aquática estendeu a mão, indicando para a festa que estava sendo organizada diante de nós. –Meu nome é Cris. Espero que comam, bebam e se divirtam conosco está noite, estrangeiros.
-Fácil assim?! –Aelle alargou o sorriso nos lábios, sussurrando para Nerian.
Mas Nerian não olhou na direção de Aelle. Seus olhos violetas estavam atentos as criaturas ao nosso redor.

Sem precisar de um novo convite, Kayne correu apressadamente para a mesa de frutas, agarrando-se a uma cesta cheia de maças. Cris sorriu satisfeito ao observar a voracidade com que Kayne se agarrava ao cesto.
-Agradecemos a hospitalidade. –Edric maneou a cabeça, sentando-se sobre as patas traseiras –Estamos procurando por Tâmia.
-Acredito que ela virá mais tarde. –Cris disse com entusiasmo, as guelras de seu pescoço se movimentaram devagar –Pedirei que alguém a avise sobre a chegada de vocês.
-Eu novamente agradeço. –Edric sorriu cordialmente. Seus olhos cinza, observaram ao nosso redor –Estão comemorando algo?
-A vida. –Cris sorriu afetuosamente –Sempre comemoramos a vida aqui.
-Isso é... interessante. –Aelle estendeu as asas branco prateadas, em um movimento espalhafatoso –Acho que eu me adaptaria facilmente nesse lugar.
Cris sorriu para Aelle, lançando-lhe um olhar extremamente interessado, mas o luzido não percebeu.
-Se não for incomodo, nós gostaríamos de passar esta noite aqui. –Edric voltou a chamar a atenção de Cris para ele.
-Fiquem o quanto quiserem, e se precisarem de algo, apenas me digam e eu providenciarei se estiver ao meu alcance. –Cris gesticulou com as mãos ao redor, apontando para uma tenda feita de madeira e coberta por tecidos de cor marfim –Podem ocupar aquela tenda se quiserem, acredito que seja ampla o suficiente para acomodar todos vocês de forma confortável.
-Obrigado. –Edric olhou para a tenda e depois voltou a olhar para Cris –Por favor, nos avise assim que Tâmia puder nos receber.
-Avisarei. –Cris anuiu com a cabeça.
-Tudo certo! –Exclamou o luzido com um brilho no olhar azul, enquanto observava ao nosso redor. Isso fez com que Cris voltasse sua atenção para ele novamente.
O olhar dourado de Cris percorreu primeiramente pelas extensas asas branco prateadas de Aelle, admirando-as com satisfação. E então seguiram para o rosto perfeito, demorando-se nos lábios cor de cereja do luzido.
-Eu nunca havia visto uma criatura tão bela antes. –Cris comentou com deslumbramento.
-Obrigado. –Aelle olhou na direção de Cris, com um sorriso convencido estampado no rosto. E então seus olhos azuis recaíram sobre mim, quando ele murmurou baixinho perto de mim –É uma pena que a lúrida não tenha tido a mesma impressão quando me conheceu.
Eu ri, revirando os olhos para o luzido ao meu lado. Aelle apenas sorriu divertido.

-Aproveitem á festa. –Cris fez menção de se afastar, mas Anabel gesticulou com as mãos no ar por alguns segundos, e antes que Edric pudesse dizer o que a garotinha havia comunicado, a criatura semi-aquática estendeu o braço para Anabel.
-Me acompanhe. –Cris disse, e Anabel se aproximou, e segurou em seu braço escamoso –Sinta-se a vontade para desfrutar desse mar maravilhoso. A água agora á noite é morna e reconfortante, posso lhe fazer companhia se quiser...

Anabel apenas assentiu e os dois saíram andando de encontro às ondas tranqüilas, deixando-nos para trás.
-Bom, –Edric passeou o olhar por mim, Nerian e Aelle –Ficaremos aqui esta noite, estão livres para aproveitarem á festa.
Logo o lobo se afastou, indo se deitar na areia, junto a uma das fogueiras acesas sobre a areia ao lado da tenda que Cris havia nos oferecido.
-Eu realmente preciso me deitar um pouco. –Nerian estendeu totalmente as asas negras atrás das costas, inclinando-se para trás –Sinto tanto a falta da minha cama nos últimos dias.
-Sinceramente, eu também sinto falta da minha. –Eu sorri e olhei para a plataforma de frutas.
-Eu vou ir comer. –Aelle acompanhou o meu olhar –Vem comigo, Eileen?
-Sim. Estou faminta há algumas horas. –Eu disse e olhei na direção de Nerian, que já estava se acomodando sobre a areia límpida –Quer que eu traga alguma fruta para você comer?
-Se tiver abacate... –Nerian bocejou, deitando-se na areia com as mãos abaixo da cabeça. –Mas qualquer outra fruta serve também.
Eu assenti e acompanhei Aelle até a plataforma.
A tigela com morangos maduros chamou a minha atenção imediatamente. Enquanto isso, Aelle se deteve ao lado de Kayne, pegando uma maçã vermelha.

Conforme o tempo passava e á noite se estendia, inúmeras criaturas semi-aquaticas emergiam do mar e se aglomeravam na extensa areia branca.
Não demorou muito para que Aelle se misturasse, dançando e conversando com um grupo de fêmeas semi-aquáticas. Edric, aparentemente havia dormido sobre a areia, ao lado da fogueira mais distante possível da festa. Anabel havia mergulhado no mar junto com Cris, e eu não os vira mais depois disso.
Eu e Nerian estávamos sentados a poucos metros de distancia de onde as ondas alcançavam na areia, enquanto observávamos alguns flautistas tocarem animadamente. Em minhas mãos eu segurava uma travessa com morangos maduros, os quais eu e Nerian dividíamos.
Enquanto eu olhava para as criaturas semi-aquáticas dançando na areia, Nerian me observou, seus olhos violetas brilhavam refletindo a luz da fogueira há cerca de uns três metros de distancia.
-Porque está me encarando? –Eu perguntei olhando de volta para ele.
-Estou curioso... –Nerian sorriu, inclinando o queixo para as criaturas dançando á nossa frente –Porque não vai se divertir com eles?
-Está sugerindo para que eu vá dançar? –Olhei para onde Nerian apontou.
-Sim. –ele voltou a olhar para mim –Adolescentes gostam disso, certo?
-Adolescentes?! –eu gargalhei, jogando a cabeça para trás.
-O que foi? –Ele sorriu o canto dos lábios, e arqueou as sobrancelhas –Você tem dezoito anos, ainda é uma adolescente.
-Até parece que você é um ancião de meia idade, para se referir á mim dessa maneira. –Eu fiz uma careta para ele.
-Sou cinco anos mais velho do que você. –Nerian estreitou os olhos violetas, mas o sorriso não deixou os lábios –Sou forçado a falar assim.
-Forçado?! –Eu o encarei franzindo o cenho de forma interrogativa. Nerian suspirou, balançando a cabeça e depois sorriu de novo.
-Você quer aproveitar a festa ou não? –Ele passou a mão pelo pescoço como se estivesse com algum músculo tensionado.
-Não vai tentar me deter? –Provoquei lançando á ele um olhar acusador.
-Eu nunca tento "deter" você, senhorita adolescente. –Ele riu, gesticulando com a mão para que eu me levantasse. –Eu tenho o "dever" de proteger você.
-Tudo bem, senhor ancião de vinte e três anos. –Eu me levantei gargalhando, dando as costas á Nerian e indo para o encontro das criaturas semi-aquáticas que dançavam alegremente pela areia. –Me proteja.
-Divirta-se. –Ele disse atrás de mim, com um tom de voz afetuoso.
-Pode apostar que eu vou. –Eu lancei a ele um olhar sugestivo por sobre o ombro direito.
-Eileen... –Nerian inspirou em advertência. Seus olhos violetas me observavam com insegurança –Precisamos voltar vivos e inteiros para casa.
-Relaxa. –Eu pisquei para ele, e voltei a olhar para frente, caminhando até onde Aelle dançava em um circulo, junto com outras cinco criaturas semi-aquáticas.

Haviam tantas cores florescentes pintadas em seus corpos parcialmente escamosos, que eu mal conseguia distingui-las. Os flautistas se misturavam pela multidão semi-aquática, fazendo com que eu mal reparasse neles. O céu estava avassaladoramente estrelado sobre nossas cabeças, e a lua ainda era minguante, o que explicava a maré baixa.

Uma criatura semi-aquática chamada Kim, me serviu uma pequena cumbuca com um liquido azul, e algumas frutinhas arroxeadas boiando dentro.
-O que é isso? –Eu gritei por sobre a música alta.
-Licor. –Kim gritou quase aos meus ouvidos. Seus olhos eram azuis prateados, e piscavam freqüentemente –É doce, você vai gostar.
Rapidamente desviei meus olhos para Aelle, que me encarava. Ao perceber meu olhar inseguro, Aelle se aproximou sem dizer nada, e pegou gentilmente a cumbuca da minha mão, e ingeriu todo o liquido azul dela.
-Ela é uma criança ainda. –Aelle sorriu amigavelmente para Kim, enquanto me oferecia uma das frutinhas embevecidas de licor azul –Tem que experimentar essas coisas devagar.
-Entendi. –Kim sorriu compreensivo levando a cumbuca que ele segurava aos próprios lábios prateados.
Eu comi a frutinha que Aelle me ofereceu e senti o sabor adocicado e suave do licor nele.
-É bom. –Eu olhei para Kim, que dançava em minha frente, ele apenas balançou a cabeça concordando.

De repente Aelle envolveu um braço ao redor da minha cintura, me puxando para perto dele enquanto dançávamos.
-Kayne dormiu na areia ao lado da plataforma das frutas. –Aelle gritou, apontando para a plataforma de frutas. Eu olhei, e vi Kayne aninhado na areia macia, dormindo pesadamente.
-Ele deve estar muito cansado. –Voltei a olhar para Aelle, muito ciente da aproximação dele.
-Ele bebeu duas cumbucas de licor, Eileen. –Aelle gargalhou próximo ao meu ouvido. –Por isso é melhor você tomar cuidado quando te oferecerem algo para beber aqui.
-Mas você também bebeu. –Eu acusei lançando um olhar estreito para o luzido que estava quase me abraçando.
-Eu sei. –ele riu aproximando o rosto do meu –E já estou um pouco alterado.
Eu apenas ri olhando diretamente nos olhos azuis dele.
-Aparentemente, eu não sou a única 'criança" aqui. –Eu comentei de forma provocativa, ainda sorrindo para o luzido.
-Quantos anos você acha que eu tenho? –Ele estreitou os olhos azuis, segurando-me pela cintura.
-Deve ter a minha idade... –comentei analisando rosto dele. Tão jovem quanto o meu. –Um ou dois anos mais velho talvez...
O sorriso satisfeito do luzido alcançou os seus belos olhos azuis.
-Eu sou muito mais velho do que você pensa, Eileen! –Ele exclamou, me girando em seus braços –Agora vamos dançar lúrida!

Eu e Aelle dançamos por um longo momento, às vezes afastados, e às vezes próximos demais. Arrisquei olhar para Nerian algumas dessas vezes, mas ele mal nos observava, ou fingia não nos observar.

Á noite seguia animada, conversei e dancei com várias criaturas semi-aquáticas, mas me mantive longe de qualquer bebida colorida que me ofereciam. O clima estava quente, apesar da brisa fresca próximo ao mar calmo, o suor escorria furtivamente pelo meu pescoço.

Olhei na direção de Nerian, ele havia deitado sobre a areia e estava absorto em pensamentos enquanto olhava para as estrelas acima. Suas extensas asas negras estavam totalmente estendidas sobre a areia, e as mãos estavam cruzadas atrás da cabeça servindo-lhe de apoio. Caminhei até ele, estendendo a minha mão na sua frente.
-Vamos dançar? –Eu sorri divertida –Ou sua coluna anciã não agüenta nem isso?
Nerian olhou para mim, e gargalhou, mas não se moveu da posição em que estava.
-Agradeço o convite, mas não estou no clima das festividades. –Seus olhos violetas observaram o meu rosto –Você parece estar se divertindo.
-E estou! –Eu sorri e recolhi minha mão estendida.
-Observei que o luzido esta cuidando de você. –Nerian lançou um olhar na direção de Aelle e depois voltou a olhar para mim. –Vocês parecem estar se dando bem.
-Por que você não vem dançar comigo? –Eu fiz beicinho, estendendo a mão para ele mais uma vez.
Nerian olhou para o meu rosto e depois para a minha mão estendida, mas continuou sem se mover.
-Eu adoraria fazer isso. Acredite em mim. –Nerian exalou com pesar –Mas eu não posso.
-Por que não pode? –Eu fiz uma careta, recolhendo minha mão mais uma vez.
-Porque preciso manter a cabeça no lugar. –Nerian riu sem humor, seus olhos violetas me observaram com relutância. –Preciso manter sua integridade, e a minha também.
Eu fiquei em silencio, apenas olhando para ele. Sem compreender exatamente o que ele tentando me dizer.
-Aproveite a festa Eileen. –Nerian suspirou forçando um sorriso simpático nos lábios –Estou cuidando de você á distancia, se for preciso eu vou interferir, caso contrário, quero apenas que você se divirta está noite.
-E você? Não pode se divertir também?
-Aqui não. –Nerian disse com um pouco de seriedade. –Estamos longe do nosso distrito, rodeados de desconhecidos, seria imprudente de minha parte não ficar em alerta.
-Você não precisa agir como o líder do nosso distrito aqui, Nerian. –Eu dei de ombros, fazendo uma careta infantil, apesar de compreender a postura dele.
-Mas é exatamente isso o que eu sou, Eileen. E isso agrega uma responsabilidade enorme sobre os meus ombros, estando ou não no nosso próprio distrito. –Nerian me lançou um olhar pensativo. Como se houvesse mais significados diante do que ele disse.
-E eu vou continuar sendo tratada como a irmãzinha imatura dele?! –Brinquei tentando dissipar o momento de seriedade.
Nerian não respondeu de imediato. Primeiro ele me olhou como se eu tivesse dito algo que ele precisasse reconsiderar, e depois ele suspirou profundamente.
-Volte a dançar, Eileen. –Os olhos violetas de Nerian se desviaram de mim para a festa ao nosso redor –Aproveite á noite antes que a tal da Tâmia chegue e resolva abocanhar todos nós.
-Fiquei apreensiva agora. –Olhei na direção do mar calmo.
Nerian riu.
-Ah Eileen. –Ele revirou os olhos violetas e sorriu –Quando estiver cansada, me avise para irmos dormir debaixo daquela tenda que Cris indicou.
-Tudo bem. –Eu acenei para Nerian, e caminhei em direção a plataforma de frutas.

Enquanto comia um morango, eu vi Cris e Anabel em sua forma de serpente branca, emergirem da água. Conforme Anabel se arrastava pela areia, seu corpo ia sofrendo a metamorfose, entretanto, dessa vez não foi em uma menininha delicada em que ela se transformou.
Anabel se transformou em um macho loiro, de olhos dourados. Musculoso e seminu. Ao perceber que eu os observava, Cris e Anabel acenaram para mim de longe.
-Eu gostava de Anabel sendo uma garotinha. –Aelle surgiu ao meu lado, acenando para Anabel e Cris, que caminhavam pela areia, há vários metros de distancia.
-Eu gostei dela assim. –Eu observei os cabelos loiros e o peito musculoso.
Aelle riu, pegando o morango da minha mão, fazendo com que eu olhasse na direção dele.
-Quem é mais atraente agora? –Os olhos azuis do luzido se estreitaram –Eu ou a cobra?
-Nenhum dos dois faz o meu tipo. –Dei de ombros.
-Isso foi cruel. –Aelle riu, fingindo estar decepcionado, enquanto comia o morango que ele havia pegado da minha mão.
Continuei andando envolta da plataforma de frutas, enquanto ele me acompanhava.
-Como você acha que a Tâmia é? –Eu perguntei distraidamente enquanto observava as frutas.
-Como uma serpente. –Aelle deu de ombros, pegando alguns grãos de uva.
-E se ela resolver nos abocanhar? –Eu ri sem humor, pegando umas frutinhas de um tom rosa escuro, e enfiei um punhado na boca.
-Eileen, cospe isso! –De repente, Aelle segurou a minha mão, puxando-a para longe da minha boca. No susto eu acabe engolindo algumas frutinhas daquelas sem mastigar.
-O que foi isso? –Eu tossi e cuspi o resto na areia.
-Essas frutinhas são framboemora. –Aelle franziu o cenho ao olhar para a minha boca.
-São venenosas? –Me desesperei, encarando o luzido –Eu engoli algumas.
-Não. –Aelle estendeu a mão e pegou quatro frutinhas e colocou na própria boca antes de continuar –Mas elas são entorpecentes.
-O quê?! –Eu arregalei os olhos, enquanto o luzido engolia todas as que ele havia colocado na boca –Nerian vai me matar!
-Relaxa, Eileen! –Aelle riu de um jeito malicioso –Talvez ele nem perceba se você continuar dançando.
-Por que você as comeu se sabia que elas eram entorpecentes?
-Para poder curtir isso com você. –Aelle segurou minha mão –Somos a equipe dois, lembra?!
Eu ri, jogando a cabeça para trás.
-Vamos nos manter longe das criaturas semi-aquáticas até o efeito das framboemoras passar, tudo bem?
-Tudo bem. –Eu deixei que Aelle me guiasse por entre as criaturas que dançavam pela praia, até ficarmos distantes de uma maneira que não chamasse a atenção.
Eu e Aelle começamos a dançar animadamente envolta de uma fogueira. Eu sentia minha garganta ficando seca. Meu coração parecia acelerado, eu estava agitada. Com vontade de dançar á noite toda.
-Eu já estou ficando alterado. –Aelle sorriu preguiçosamente para mim.
-Preciso de água! –eu sorri de volta para ele.
-Boa idéia! –Aelle ergueu um dedo para cima, e então saiu correndo até a plataforma de frutas. Quando voltou tinha um cantil nas mãos.
-Está tudo bem com você? –Aelle me lançou um olhar preguiçoso.
-Estou com muita sede. –Eu peguei o cantil que ele me ofereceu e bebi a água com voracidade. Aelle ficou me encarando.
Eu dei o cantil para ele, e ele também bebeu.
-Pela quantidade que você deve ter ingerido, os efeitos devem ser leves em você. –Aelle tentou me tranqüilizar –Mas vai demorar um pouco para passar.
-Quais os estágios disso?
-Sede. –Ele ergueu o cantil em sua mão e sorriu o canto dos lábios –Depois vem o calor, ai sua mente fica um pouco lenta e confusa, e então você dorme.
-Eu acho que posso lidar com isso. –Eu ri dando de ombros.
-Eu sei que você pode. –Aelle jogou o cantil na areia longe de nós, e saltou para longe de mim –E por confiar nas suas capacidades, eu te desafio!
O sorriso que se alargou pelos meus lábios foi instintivo. Eu já sentia o meu corpo mais leve.
-Em quê você me desafia, luzido de Impoluto? –estreitei o olhar para ele.
Aelle sorriu satisfeito e se agachou no areia pegando uma concha branca com cerca de três centímetros.
-Eu te desafio a conseguir pegar isso de mim. –Aelle guardou a concha no bolso da calça branca, e estendeu a mão para mim, gesticulando-a em um convite.
-O quê eu ganho com isso? –encarei o luzido, eu podia sentir a temperatura do meu corpo aumentando e a adrenalina se expandindo pelas minhas veias.
-O que você quer de mim? –Aelle sorriu o canto dos lábios, seus olhos azuis brilharam no escuro. –Ou você quer a mim?
-Quero saber como vocês fazem para conversar por pensando. –Eu ergui as mãos para o alto indicando para a minha própria cabeça.
-Eu sabia que você podia me ouvir! –Aelle bateu palmas no ar e gargalhou de um jeito eufórico –Por isso bloqueei você da minha mente depois de Ardis.
-Vai me dar o que eu quero, ou não?
-Sim, mas se você perder... –Aelle sorriu o canto dos lábios vermelhos, e se aproximou alguns passos –Eu quero um beijo.
-Seu plano era me drogar, para depois me drenar luzido? –Eu fiz uma careta infantil, fingindo estar decepcionada.
-Primeiro... –Aelle deu mais um passo na minha direção –A senhorita comeu aquelas frutinhas por vontade própria, eu ainda tentei te impedir, sou totalmente inocente dessa acusação.
-Verdade. –Eu ri dando de ombros.
-Segundo... –Aelle sorriu de volta para mim –Qual seria o meu interesse em drenar você?
-Me conte você. –Provoquei. Eu podia sentir o fogo violetas queimando nos meus olhos.
-Nenhum, Eileen. –Aelle revirou os olhos azuis –Apesar de ver os olhos de uma lúrida na minha frente, fervilhando de fogo violeta, me convidando a tentar a sorte.
-Calor... –eu exalei pesadamente, estendendo totalmente as minhas asas.
Aelle me observou com genuína admiração.
-Em prol da sua confiança, vou te dizer antecipadamente sobre como consigo ler a mente de outro luzido. –Aelle fingiu fazer uma reverencia, e sorriu.
-Eu agradeço. –fingi fazer uma reverencia também. –Conte-me tudo.
-É algo natural para um luzido. –Aelle deu de ombros –Não há segredos, toda a minha espécie faz isso desde que nasce, mas depois de certa idade, aprendemos a filtrar, tanto os pensamentos que recebemos quanto os que enviamos.
"Seus olhos violetas são lindos quando estão incandescentes." –A voz de Aelle sussurrou em minha mente.
-Lúridos não fazem isso. –eu comentei pensativa.
-Exatamente. –Aelle se aproximou mais de mim, me observando com atenção exagerada –Mas por alguma razão, você me escuta.
-Você não consegue ouvir o que eu penso? –Perguntei curiosa.
-Não. –O olhar do luzido perscrutou o meu rosto, quando ele deu mais um passo em minha direção, ficando apenas alguns centímetros de distancia.
-Lurz, então?! –eu franzi o cenho, encarando o luzido nos olhos azuis.
-Improvável, já que infelizmente nossas espécies não podem coabitar, segundo a crença popular de carbert. –Aelle revirou os olhos azuis e sorriu maliciosamente –Tenho minhas suspeitas sobre você.
-E quais são? –eu me movi vagarosamente na direção dele, chegando perto o suficiente para que nossas respirações se misturassem.
-Segredo. –Aelle piscou para mim enquanto ainda sorria. O efeito das framboemoras estavam fazendo efeito nele mais rápido do que em mim, talvez fosse por causa do licor.
Tão rápido quando eu pude, estiquei meu braço para o bolso dele, e sorrateiramente peguei a concha branca.
-Isso foi trapaça. –Aelle resmungou ao olhar a concha entre os meus dedos.
-Não. –eu sorri divertida –Isso foi astucia.
Nos observamos em silencio por um longo momento, e então o luzido inesperadamente avançou sobre mim, derrubando-me sobre a areia. Eu gargalhei alto, minha cabeça girou por um momento. Aelle gargalhou também, rolando para o lado e se afastando de mim. Deitando-se ao meu lado, ele sorriu. Nossas asas estavam cobertas de areia.
-É sério que o lance entre você e Nerian é apenas de fraternidade? –Aelle se apoiou no cotovelo, levantando a parte superior do corpo para poder olhar para o meu rosto.
-Eu e Nerian sempre fomos próximos, ele sempre cuidou de mim, como se eu realmente fosse a irmã mais nova dele –Eu suspirei, desviando os olhos azuis do luzido e olhando para o céu estrelado acima de nós. –Mas já houve uma vez, no meu aniversário de quinze anos, que eu confundi as coisas.
-Confundiu como? –Aelle parecia realmente interessado.
-Nerian me deu esse anel. –Levantei a mão direita para o alto, a estrela de diamante brilhou pelo reflexo –E eu tentei beijá-lo depois disso.
Fechei os olhos com força por um breve momento, balançando a cabeça um pouco constrangida por contar aquilo ao luzido.
-E ele? –Aelle observou o anel em meu dedo.
-Me rejeitou. –Eu ri com ironia. –Ele disse que eu era apenas criança.
Aelle gargalhou ao meu lado, deitando a cabeça na areia novamente.
-E por que você usa o anel que ele te deu até hoje? –O luzido quis saber.
-Combina comigo. –Levei a mão até o lado direito do meu rosto, aproximando-o da estrela prateada abaixo do meu olho.
-De onde veio isso ai no seu rosto?
-Marca de nascença, eu acho.
-É estranho, mas eu sinto que eu já conhecia você antes mesmo de ter te visto em Impoluto.
-Talvez tenha me visto na floresta das quadripétalas.
-Talvez... –Ele comentou pensativo e então inspirou profundamente.
-Eu gostei de ter conhecido você, luzido de Impoluto. –Eu sorri divertida para Aelle.
-Eu sinto que nosso encontro foi algo predestinado. –Aelle alargou o sorriso nos lábios cor de cereja, e deu uma piscadela maliciosa para mim. –E você deveria me beijar agora.
Eu o observei em silencio por um breve momento, antes de gargalhar alto. Ele logo me acompanhou, gargalhando junto comigo.
-Estou morrendo de calor. –Aelle se levantou abruptamente, e estendeu a mão para mim. Eu aceitei, deixando que ele me puxasse para que eu pudesse ficar em pé.
-Suas asas são lindas. –Eu o observei com atenção.
-O meu rosto também. –Aelle apontou o dedo indicador para o próprio rosto.
-Você é atraente. –Eu revirei os olhos divertida.
-Eu sei disso. –Aelle sorriu malicioso –Mas é gratificante ouvir isso de uma lúrida, que foi rejeitada.
Nós dois rimos divertidamente com o comentário dele.
-Vamos nadar! –Aelle apontou para o mar e olhou para mim ansioso. Após um momento de hesitação, eu assenti.
Aelle arrancou a camisa tão rapidamente e saiu correndo pela areia se atirando no mar. Aelle era realmente lindo, dos pés a cabeça. E eu senti uma ligeira vontade de poder tocar nele, enquanto o observei se jogar na água salgada.
O suor escorria pela minha nuca, eu tomei coragem e rapidamente me livrei da minha calça e blusa, abandonando-as na areia. Olhei rapidamente para baixo, e conferi se estava mesmo de lingerie, como se a minha mente estivesse postergando o raciocino, por um breve momento eu não tive certeza se usava uma lingerie mesmo. Mas felizmente eu usava uma, ela era toda preta.
Era como se o meu corpo estivesse começando a ficar leve como o vento, e eu mal conseguisse assimilar meus movimentos enquanto corria ao encontro de Aelle. Em minha mente, o plano era me aproximar dele, tocar suas asas, talvez o beijo... minha mente parecia estar ficando arenosa. Com dificuldade para processar o pensamento de forma objetiva. Assim como o meu corpo, minha mente parecia querer se dissolver vagarosamente. Então eu estava seguindo o fluxo. Devia ser o efeito das framboemoras no meu organismo, mas eu já não conseguia distinguir com exatidão.

Enquanto eu corria na direção das ondas tranqüilas onde Aelle estava a minha espera, senti que ficava um pouco tonta, com a pressão baixa. O calor transbordava de dentro para fora do meu corpo, e eu começava a ansiar desesperadamente pelo encontro com a água fria.
Eu podia sentir meu fogo violeta se expandindo vagarosamente pela superfície da minha pele. Irradiando pela Iris dos meus olhos.

Mas antes que meus pés tocassem a água que deslizava habilmente pela areia fina diante de mim, Nerian pousou na minha frente como uma barreira entre mim e o mar. Entre eu e o luzido a minha espera.
E eu me choquei debilmente contra ele, perdendo totalmente o equilíbrio.
As mãos firmes de Nerian rapidamente circundaram o meu corpo, me mantendo em pé na frente dele. Eu pude sentir o toque com intensidade.
-O que acha que está fazendo? –Nerian esbravejou olhando diretamente para o meu rosto. Minha mente pareceu demorar um pouco para formular uma resposta para aquela pergunta.
-Nós vamos nadar. –Eu gritei sem necessidade, tentando me desvencilhar dele, sem sucesso, devido ao meu ligeiro estado de confusão.
Nerian percebeu a minha dificuldade em comandar meus movimentos, e algo como fúria se expandiu pelo rosto dele.
-O que fez com ela? –Nerian se virou para o mar onde o luzido estava pulando ondas.
-Eu? Nada. –Aelle começou a rir, e instintivamente eu comecei a rir também. Eu não conseguia controlar a risada enquanto minhas pernas sofriam para se lembrar de como ficar em pé.
-Nós comemos aquelas frutinhas cor de rosa. –Eu levantei a mão preguiçosamente no ar, na tentativa de mostrar com o dedo polegar e o indicador o tamanho da fruta, mas meus dedos não me obedeciam. Eu comecei a gargalhar sem motivo algum, e Nerian bufou meu nome com irritação.

Então Nerian me puxou tão rápido, me pegando no colo, e tudo pareceu girar ao meu redor, quando ele saltou comigo para o alto.
-Uhhhhhhh!! –Eu balbuciei divertida, e olhei para o céu estrelado girando sobre a minha cabeça.
-O céu esta piscando para mim! –Eu disse animada, e então eu pisquei de volta.

Quando Nerian pousou comigo na areia, eu observei os tecidos cor de marfim dançando com o vento, era tudo tão lindo. Assim que Nerian me soltou, eu corri entre as fitas dançantes, me enrolando entre elas.
-Ela está embriagada? –Ouvi a voz do lobo surgir atrás de mim, e me virei rapidamente para ele, que estava deitado sobre uma das esteiras da tenda.
-Édric! –Eu gritei animada, me aproximando dele e acariciando a cabeça felpuda dele –Obrigada por me trazer nessa viagem incrível.
-Ela comeu framboemora. –De repente o braço de Nerian circundou pela minha cintura me puxando para trás e me afastando do lobo.
Eu ri divertida.
Nerian me virou de frente para ele, e eu instintivamente me pendurei no pescoço dele, colando meu corpo quase despido no dele.
-Você tem um cheiro tão bom... –Eu cheirei o pescoço dele, encostando meu nariz contra sua pele. –Algo doce e amadeirado.
-Eileen... –Nerian grunhiu, empurrando-me delicadamente para que eu me desvencilhasse dele. Ele parecia nervoso.
Eu fiz biquinho de decepcionada.
-Eu odeio aquele luzido. –Nerian resmungou enquanto me olhava de cima á baixo. Então ele começou a desabotoar com pressa os botões da camisa preta de algodão, deixando a pele exposta.
Então meus olhos pairaram sobre o abdômen dele, tão definido, liso, havia uma infinidade de traços retos esculpindo-o minuciosamente.
Instintivamente estiquei a minha mão direita, no intuito de tocá-lo, mas Nerian rapidamente se esquivou do meu quase toque.
-Eileen! –havia um tom de advertência em sua voz, enquanto ele segurava a minha mão longe dele. Meus olhos subitamente procuraram os dele, e apesar da minha mente não reconhecer de imediato o sentimento, acho que eu fiquei constrangida.
Olhei para Nerian mais uma vez, a camisa estava aberta na frente, eu queria muito poder tocar a pele dele.
-Não olhe assim para mim! –Ele rosnou com raiva, soltando a minha mão para poder tirar a camisa.
-Eu quero tocar em você... –Confessei, minha garganta estava seca.
-Hoje não. –ele disse com um tom de resignação, se aproximando e forçando meus braços por dentro das mangas da camisa preta dele.
Eu fiquei parada observando enquanto ele apressadamente tentava fechar todos os botões da camisa.
O cheiro dele novamente invadiu o meu nariz, e eu fechei lentamente os olhos.
-Eu quero muito tocar em você. –Abri meus olhos e sorri divertida para ele. Os olhos de Nerian de repente ficaram de um tom violeta incandescente, enquanto ele fechava o ultimo botão da camisa em mim , quase rente ao meu pescoço.
-Se você soubesse o quanto isso é enlouquecedor... –Nerian suspirou pesadamente ao me encarar –Você não diria isso.
-Estou com calor, Nerian. –Eu balbuciei enquanto ele fechava o ultimo botão quase rente ao meu pescoço, Nerian continuou olhando para o meu rosto e então me analisou por um breve momento antes de se afastar de mim.
Eu me sentei descuidadamente sobre uma esteira perto de mim. Minha cabeça estava girando.
Quando Nerian voltou, ele estava usando outra camisa preta com botões na frente, idêntica a que eu agora usava também. Nas mãos, ele carregava uma botija de água.
-Beba! –Ele ordenou com impaciência. E eu apenas obedeci. A água desceu gelada pela minha garganta, mas não foi suficiente para aplacar o calor que irradiava pelo interior da minha pele.
-Vou ver como o luzido está. –O lobo caminhou pela tenda, olhando para nós de um jeito enigmático.
-Tomara que ele tenha se afogado. –Nerian murmurou com raiva ao olha para o lobo.
O lobo riu divertido e saiu da tenda deixando-nos sozinhos.
Devolvi a botija de água para Nerian e ele a colocou sobre a areia ao se sentar ao meu lado na esteira.
Meus olhos começavam a ficar pesados, então me acomodei na esteira junto às almofadas e deitei com a cabeça no colo de Nerian.
-Estou suando com essa camisa. –Eu resmunguei ao tentar lutar com os botões da gola para desabotoá-los.
Nerian rapidamente me impediu, segurando as minhas mãos entre as dele.
-Estou derretendo... –eu reclamei quase choramingando. Então Nerian começou a movimentar as asas dele no alto, abanando fortemente sobre mim.
-Obrigada... –balbuciei olhando para cima, ao observar o rosto dele.
-Durma, Eileen. –Ele exalou olhando para os meus olhos, mas eu olhei para os lábios dele. Tão vermelhos e fartos.
-Eu acho a sua boca tão bonita. –Eu estiquei a mão, colocando a ponta do meu dedo indicador no lábio inferior dele, apertando-o delicadamente. Nerian segurou a minha mão, e afastou o meu dedo de sua boca.
-Comporte-se, Eileen. –Ele pediu com impaciência, soltando um suspiro baixo, ao me lançar um olhar sofrido. –Você precisa dormir um pouco para que o entorpecente daquelas frutinhas deixem de fazer efeito.
-Eu não quero dormir... –Eu sussurrei debilmente, mas meus olhos já estavam ficando ligeiramente pesados.
Nerian pegou a botija de água ao lado dele e umedeceu uma das mãos com a água e passou pela minha testa. Eu suspirei.
Então Nerian pegou a botija e derramou pelo topo da minha cabeça em seu colo, espalhando a água fria pelos meus cabelos.
-Descanse. –ele disse afetuosamente e sorriu para mim –Vou cuidar de você.
-Porque você me rejeitou quando eu tinha quinze anos? –Eu perguntei subitamente, estreitando os olhos de maneira acusadora para ele –Você não faz idéia do quanto eu fiquei constrangida com aquilo!
Primeiro Nerian ficou em silencio, olhando para mim de um jeito estranho, como se ele estivesse tão constrangido quanto eu havia ficado naquele dia em questão. Mas logo ele sorriu o canto dos lábios, e acariciou vagarosamente os meus cabelos molhados.
-Aquele não era o momento certo. –ele disse simplesmente, havia um sorriso gentil se espalhando por seus lábios. –Agora feche os olhos e tente dormir.
-Eu já disse que não quero dormir... –Eu bocejei enquanto a inconsciente me dominava.  

Eileen, O despertar de um Anjo (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora