5. Recepção hostil

3 1 0
                                    

Estávamos a caminho de Ardis, em busca da serpente branca que refletia em um dos pequenos espelhos que Edric carregava pendurados ao pescoço. Durante o trajeto, continuei mantendo distância do luzido, enquanto ele pensava coisas como "Porque uma lúrida? Eu devo estar ficando louco..." Ele já estava me irritando com isso e com aqueles olhares de soslaio que me fitavam o tempo todo, tentando sem sucesso serem discretos. Ouvir alguns dos pensamentos dele era algo estranho, mas preferi manter isso em sigilo. Era a minha vantagem sobre ele, apesar de que eu não sabia explicar como isso era de fato possível acontecer.
Aos poucos eu fui percebendo, que eu não ouvia tudo o que ele estava pensando, apenas frases curtas, que de alguma forma estava direcionadas a mim. Como uma freqüência, que eu apenas captasse quando fosse enviada para mim.

O sol já estava se pondo no horizonte, e isso não era um bom presságio em minha opinião, pois entrar em um ninho de serpentes à noite e aparentemente sem ser convidado, era o mesmo que chegarmos lá nos oferecendo como jantar. Conforme o sol se escondia entre as árvores a nossa frente, e a cor laranjada se tornava cada vez mais fraca, a visão polida da floresta ia se esvaecendo, deixando tudo escuro. Enormes sequóias se reuniam em Ardis, formando uma floresta imponente diante de nós, fazendo com que eu me sentisse minúscula, quase como animal de pequeno porte.
Ao redor delas, se amontoava muito mato, e com isso, a cada passo que eu dava, sentia como se o chão estivesse engolindo os meus pés. Apesar da pouca claridade, dava para ver uma neblina densa entrelaçando-se entre as árvores de raízes grossas cobertas por musgo verde. Não havia nenhum tipo de barulho, era como se o lugar estivesse completamente deserto.

Aelle mantinha uma expressão de indiferença no rosto, como se ser atacado ou não por uma serpente traiçoeira fosse algo irrelevante. Tirando o fato de sua espada de cristal estar firmemente empunhada nas mãos, eu me recusava a acreditar que ele não estava nem um pouco apreensivo. Nerian vinha ao meu lado, seus olhos violetas pareciam brilhar no escuro ao perscrutar cada detalhe a nossa volta. Estar com ele, realmente me dava uma sensação de segurança naquele lugar.

O pêlo caramelo de Kayne brilhava no escuro, contrastando com o pêlo negro e prateado de Edric, enquanto Kayne estava montado sobre o lobo, que andava vagarosamente mais a frente, liderando a expedição por Ardis. Éramos uma espécie bem distinta de grupo, formada por um lobo misterioso, um garoto semi-gato de pêlos ouriçados e medroso, e três anjos, sendo que um de nós era Aelle, e eu ainda não conseguia defini-lo em minha mente. Ele instigava a minha curiosidade, talvez por sermos tão semelhantes e ao mesmo tempo tão diferentes.

Tentei me aproximar dele para ouvi-lo pensar, mas com o ruído das folhas secas abaixo de meus pés alertando-o de minha aproximação, ele acabou me fitando de imediato com seus belos e brilhantes olhos azuis, que firmes sustentaram o meu olhar.

Me senti imediatamente constrangida por ter sido tão descuidada alertando-o de minha aproximação, que até senti o sangue quente invadir minha face.
"O que ela quer? "
a voz dele perguntou em minha mente.
-Desculpe. –murmurei sem graça –Eu não quis te assustar.
-Está tudo bem. –Aelle sorriu o canto dos lábios –Seu nome é Eileen, certo?!
-Sim. –Sorri. –Gostei da sua espada.
-E eu gostei dos seus olhos. –Ele me fitou com curiosidade –Eles brilham bastante no escuro.
-Os seus também. –sorri meia boca, o garoto parecia ser gentil.

Nerian surgiu logo atrás de mim, e ao passar por Aelle, esbarrou propositalmente nele, tirando-o do caminho.

Aelle franziu o cenho mais não disse nada. Nem pensou algo que eu pudesse ouvir.

Vendo isso, me afastei de Aelle e segui Nerian, andando próxima á ele. O lobo que trazia Kayne em suas costas veio e se juntou a mim e a Nerian, e eu tive a impressão de tê-lo visto rindo disfarçadamente. Aelle ficou parado lá atrás, sozinho.

Mais alguns passos e comecei a sentir várias vibrações pulsando e se aproximando lentamente de onde estávamos.
-Fique atrás de mim, Eileen. –Nerian avisou, parando abruptamente, me fazendo parar estratégicamente atrás dele.

Pela força em que as artérias se contraiam, pude perceber que eram artérias maiores do que eu. Trêmula hesitei a dar um passo à frente, era uma questão de tempo para que chegassem até nós. Nerian ainda parado em minha frente sacou duas adagas, uma adaga em cada mão, e esperou.

Eileen, O despertar de um Anjo (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora