4- O luzido de Impoluto

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Chegamos a Impoluto ao meio dia. Quando o sol estava atingindo o seu ápice no céu. Mas antes de entrarmos no distrito, uma escolta de luzidos apareceu para nos receber. Anjos de asas brancas, apontando espadas de cristal incolor em nossa direção. Definitivamente, fomos abordados de uma maneira hostil, evidenciando que nossa presença não era esperada, e muito menos estimada.
-Atalaia mandou-me aqui. –Essa foi a primeira frase que Édric disse ao analisar a hostilidade dos nossos anfitriões –Os lúridos e o semigato estão comigo.
-O que vocês vieram fazer aqui exatamente? –Um anjo robusto, com o semblante áspero apontou sua espada de cristal para mim e Nerian, o que fez com que Nerian instintivamente se colocasse a minha frente.
-Abreacan fugiu de Atalaia. –Édric disse um pouco apreensivo, chamando a atenção dos luzidos exclusivamente para ele. –Atalaia está um caos. Temos urgência para recuperar as jóias espalhadas por Carbert, antes que Abreacan faça isso.
-Como é possível que Abreacan tenha conseguido escapar daquele castelo depois de tantos anos?! –O robusto luzido exclamou indignado, ao estreitar seu olhar azul para Édric. –Tínhamos certeza de que isso seria impossível, levando em consideração a estrutura gélida daquele lugar.
-Misteriosamente, depois de longos anos, parece que ele conseguiu uma maneira de enganar um de nossos sentinelas. –Édric comentou com um tom de voz brando ao se sentar sobre as duas patas traseiras e analisar as expressões de espanto dos luzidos a nossa volta.
-Existem traidores em Atalaia? –O robusto luzido de asas brancas estreitou os olhos azuis para Édric mais uma vez.
-Não. –O robusto lobo negro ponderou por um segundo ao observar a maneira desconfiada com que o luzido a sua frente o encarava –Apesar de inicialmente termos presumido que sim, mas então encontramos um de nossos sentinelas desacordado dentro de uma cela. A mesma que Abreacan estava aprisionado á anos. –Édric balançou a cabeça devagar. –Então, a explicação mais sensata para esta situação, seria a de que Abreacan tenha, de alguma forma, aperfeiçoado os seus poderes durante o seu tempo de exílio.
-Ele usou a substituição de corpo? –O anjo robusto inquiriu, gesticulando para que os outros luzidos guardassem suas espadas.
-Acreditamos que sim. –Édric limpou a garganta. –Mas não sabemos exatamente quanto tempo levou para que pudéssemos perceber isso.
-Geralmente uma substituição dura três dias. –O luzido ponderou por um segundo, suas sobrancelhas grossas se juntaram –O único jeito de que ele pudesse prolongar isso, seria se houvesse um fornecedor de energia junto ao seu corpo original.
-Isso é uma coisa muito improvável de ter acontecido. Mesmo assim, não podemos subestimá-lo outra vez. –Édric suspirou pesadamente, seus olhos cinza estavam apreensivos. –Achamos que Abreacan ainda esteja no distrito de Atalaia, caso contrario, alguém já o teria visto e nos notificado. –O lobo negro continuou suspirando pesadamente ao balançar a cabeça devagar –O que de certa forma é um alivio, já que não queremos que um alvoroço seja causado em Carbert devido á expansão de noticias ruins e até mesmo distorcidas dependendo da forma como forem repassadas.
-Um luzido fica muito fraco após fazer uma substituição. –O luzido observou ao olhar para os outros luzidos a sua volta –Provavelmente ele precisará de tempo para poder se recuperar, o que pode nos dar a chance de capturá-lo o mais depressa possível.
-Não queremos correr riscos quanto as possibilidades de Abreacan estando livre por Carbert. –Édric disse com tom de impaciência –Precisamos garantir que ele não chegue perto das jóias, e isso só será possível se elas forem destruídas.
-Mesmo assim, Abreacan ainda é um luzido... –O anjo de asas brancas e robusto ponderou por um segundo, como se estivesse refletindo sobre algo em particular –Para que ele pudesse fazer uma substituição de corpo, ele precisaria ter drenado muita energia, e mesmo que Atalaia fosse ensolarado e ele pudesse absorver toda a energia solar de que precisasse, não seria possível que ele fizesse uma substituição sem a ajuda de um outro fornecedor de energia poderoso.
-Bom, nós não sabemos como ele poderia ter drenado energia suficiente para fazer o que fez... –Édric pareceu estar desconfortável por um momento –Mas acreditamos que ele fez, e temos que agir depressa.
-Se a substituição demora três dias para ser descoberta, e Édric levou cerca de um dia para chegar até Quartzo, e mais um dia para chegar a Mimoso e mais um dia para chegarmos a Impoluto... –De repente Nerian falou, fazendo com que todos os luzidos lhe olhassem com desdém. –Provavelmente ele já se recuperou... Ou não?
-Provavelmente não, caso ele realmente ainda esteja em Atalaia... –O anjo robusto respondeu sem vontade. –Pois como eu havia dito ao lobo, Abreacan precisaria de outra fonte de energia poderosa para se fortalecer. Á menos que ele já possua uma.
-E o que seria esse outro fornecedor de energia? –Nerian continuou, obviamente ele estava tentando assimilar alguns pontos importantes.
-Além dos pequenos condutores de energia em nossas asas, que absorvem os raios ultra violetas do sol durante o dia ... –O luzido estreitou seus olhos azuis para Nerian que o encarava. –Também podemos absorver energia lunar, só que em baixa quantidade, apenas o suficiente para nos manter de pé caso estejamos esgotados, e outra forma seria...
-Em Atalaia não ha sol. Lá é um inverno constante, e o castelo além de gélido, é totalmente fechado, sem qualquer luz do luar entrando pela cela. –Édric se levantou, dando um sorrisinho meia boca ao olhar para o luzido –Então se Abreacan ainda estiver por lá, está muito fraco.
-Ele não seria tão ingênuo de ficar em Atalaia. –Nerian comentou ainda olhando diretamente para o luzido a sua frente.
-É por isso que suspeito de que Abreacan obteve ajuda interna para conseguir escapar do Castelo –O luzido devolveu o olhar desconfiado de Nerian –A única explicação plausível para sua fuga seria se ele tivesse acesso a um poderoso condutor de energia.
-Um escaldante banho de sol? –Nerian perguntou com ar de deboche.
-Um lúrido... –O robusto luzido deu um sorriso malicioso para Nerian que ainda o encarava –Abreacan poderia drenar a energia de um lúrido. Mas isso iria totalmente contra as leis de Carbert, e poderia resultar em outra guerra entre os distritos, após uma longa década de paz.
-Drenar um Lúrido?! –Nerian arregalou os olhos para o luzido a sua frente, e então fechou a cara de repente.
-Chega desse assunto! –Édric grunhiu, olhando para Nerian e para o luzido, de forma alternada –Eu vim buscar um luzido e estamos perdendo muito tempo aqui com conversinhas desnecessárias.
O luzido olhou para Édric por um breve momento, antes de assentir com a cabeça.
-Vamos, mandarei que preparem algo para que vocês comam e bebam, até que um de nossos luzidos seja escolhido. –O luzido disse com um tom de voz brando ao gesticular para que entrássemos em Impoluto.
Nerian passou o braço sobre os meus ombros quando começamos a andar entre os luzidos. Ele estava nitidamente inquieto depois do que o luzido havia dito.
-Assim como nós ou os semi-gatos, estes luzidos também não sabiam da vinda de Édric... –Nerian sibilou próximo ao meu ouvido, fazendo com que eu o olhasse. –Precisamos ficar atentos com esse lobo, Eileen.
-Esta suspeitando de algo? –murmurei baixinho olhando diretamente para seus olhos violetas.
-Não confio nele. –Nerian continuou sibilando baixinho –Apenas fique atenta, Eileen.
-Tubo bem. –assenti com a cabeça, e fitei os olhos violetas de Nerian com preocupação –Esses luzidos podem realmente drenar a gente?
-Eu não sei. –Nerian suspirou baixinho devolvendo o meu olhar. –Mas estou aqui para garantir que ninguém toque em um só fio dos seus cabelos, Eileen.
-Obrigada. –assenti com a cabeça e então voltei minha atenção aos luzidos ao nosso redor. Eu estava muito ansiosa para conhecê-los, curiosa na verdade, principalmente quanto ao luzido do espelho de Édric. Entretanto, essa idéia de ser drenada por um deles também me deixou inquieta.
Ao caminhar pelas ruas de Impoluto, notava-se uma incrível semelhança entre nós lúridos e aqueles luzidos. Apesar de sermos de naturezas completamente distintas, ainda assim éramos demasiadamente parecidos.
Impoluto era totalmente feita de vidro incolor. Desde o chão, até o teto das casas, em formato de meia lua. Os luzidos eram criaturas angelicais assim como nós os lúridos, mas com as maças do rosto um pouco mais coradas, como se aparentassem um constante e perfeito aspecto saudável.
Seus olhos eram azuis como um oceano límpido e claro, e seus lábios eram de um vermelho cereja bastante convidativo. Em suas asas brancas, haviam pequenos cristais incrustados entre as plumas delicadas, onde refletiam os raios do sol, evidenciando pequeninos pontos de luz. Eles eram de uma beleza doce e delicada, mas ao mesmo tempo, exalavam certo ar de agressividade.
Todos os luzidos ficaram alvoroçados ao nos ver caminhando pelo distrito límpido. Os olhares de curiosidade se misturavam perfeitamente com um ligeiro burburinho de indignação, que juntos se espalhavam por Impoluto.
A tensão criada por aqueles olhares azuis, fez com que a pequena caminhada até a maior meia lua de pé no meio do distrito, parecesse incrivelmente longa. Enfrente á ela, estava um luzido alto e musculoso, de cabelo loiro escuro, curto e um pouco arrepiado para cima. Assim como todos os outros anjos de Impoluto, ele usava roupas claras. Uma camisa de botões com a gola circular, e uma calça de algodão de corte reto.
-Álvaro? –o luzido alto e musculoso estreitou os olhos para o luzido robusto que nos escoltava. –Pode me explicar o que esta acontecendo aqui?
-Tenho más noticias Zaki... Abreacan fugiu de Atalaia. –O luzido com quem Édric conversou quando chegamos, falou de uma forma alta e clara, para que todos ao nosso redor pudessem ouvir. O que deixou os luzidos de Impoluto, nitidamente alarmados e inquietos. –Deve ser por isso que Beacan foi chamado em Atalaia, para ter noticias do irmão fugitivo.
-Precisamos recuperar as jóias que manipulam o cristal de Lisimba. –Édric disse ainda apreensivo. –Já que Abreacan é o único que sabe do seu paradeiro.
-O que Lisimba esta pretendendo fazer com elas? –Zaki, o anjo alto e musculoso perguntou enquanto nos observava com cautela.
-Destruí-las imediatamente. –Édric disse ao observar todos os luzidos a nossa volta.
-De quantos luzidos você precisa? –Zaki inquiriu olhando para mim e Nerian.
-Apenas um. –Édric respondeu.
-Um? –Zaki esquivou as sobrancelhas ainda olhando para mim e Nerian.
-Nós só precisamos da lúrida. –Édric seguiu o olhar do luzido –O lúrido veio apenas para escoltá-la, já que trata-se de uma fêmea com pouca idade.
-Entendi. –Zaki ponderou por um segundo.
Édric então abaixou a cabeça e deixou cair às quatro correntes de seu pescoço. Zaki as pegou, analisando-as com atenção.
-Vocês vieram atrás de Aelle?! –O luzido riu debochadamente –Deve haver algum erro nisto.
-O que está errado? –Édric sentou-se sobre as patas traseiras ao olhar para o luzido com curiosidade.
-Olhe isto Álvaro... –Zaki entregou um dos espelhos para que o luzido que nos escoltou por Impoluto olhasse.
-Realmente deve haver algum equivoco nisso. –Álvaro devolveu o espelho para Zaki. –Obviamente Atalaia não se informou sobre os escolhidos para essa tarefa.
-Porque estão dizendo isto? –Édric maneou a cabeça analisando os dois luzidos a sua frente. –O que há de errado com esse garoto?
-Aelle é um rapaz rebelde. –Zaki voltou-se para Édric –Ele não se importa com nada além do que lhe interessa. Sem contar que seu desprezo por Atalaia é legitimo.
-Onde ele está agora? –Édric olhou envolta.
-Deve estar se escondendo com alguma luzida por aí. –Zaki riu chacoalhando a cabeça. –Definitivamente Aelle é a pior escolha de Impoluto.
-Temos luzidos mais responsáveis do que Aelle. –Alvaro gesticulou com a mão, apontando para toda a multidão de luzidos a nossa volta. –Luzidos que possuem bom senso e também são ótimos caçadores.
-Ouvi dizer que este Aelle, apesar da pouca idade, é um dos seus melhores caçadores. –Édric suspirou pesadamente.
-Digamos que ele é habilidoso... –Álvaro disse, ao vagar com seu olhar azul por todos nós –Mas Aelle é egoísta, marrento, irônico, debochado e potencialmente inconseqüente ... –Álvaro ponderou por um momento olhando para mim e Nerian –Temo que a companhia dele seja inconveniente para todos vocês.
-Eu quero o luzido cuja a imagem esta sendo refletida neste espelho. Ou então entenderei que Impoluto esta contrariando as ordens expressas de Atalaia, o que causará conseqüências á este distrito. –Édric rosnou com impaciência.
-Chame-o aqui. –Zaki, o luzido alto e músculo, estreitou seus olhos azuis para o outro luzido que parecia relutante. Os dois anjos se entreolharam em silencio por alguns segundos.
"Aelle não virá até aqui. Você sabe como ele é." –A voz de Álvaro de repente invadiu a minha mente, o que me fez fitá-lo assustada.
"Mande luzidos atrás dele e tragam-no aqui, nem que seja a força." –A voz de Zaki também entrou em minha mente.
-Ouviu isso Nerian? –Sussurrei para Nerian ao me sentir confusa.
-O quê? –Nerian se voltou para mim.
-Os luzidos conversando... –balancei a cabeça.
-Sobre o luzido ser uma criatura complicada? –Nerian sorriu o canto dos lábios –Vamos apenas ignorá-lo, Eileen, assim voltaremos logo para casa.
-Não. –murmurei enquanto analisava os luzidos ao nosso redor, tentando assimilar o que havia acabado de acontecer.
-Não precisa mandar ninguém me chamar. –O luzido do reflexo de Édric, de repente saiu do meio da multidão fazendo com que todos nós olhássemos para ele. –Eu estava aqui o tempo todo, apenas observando enquanto vocês diziam maravilhas a meu respeito.
Álvaro suspirou pesadamente ao observar o sorriso cínico no rosto de Aelle.
-Ai esta o seu luzido. –Zaki balançou a cabeça para Édric de um jeito debochado.
-Sim, aqui estou eu. –O jovem luzido se aproximou de onde nós estávamos.
-Olá garoto. –Édric sorriu para o luzido que nos observava.
-Olá. –Aelle fez um singelo gesto para Édric.
Aelle tinha uma aparência juvenil. Ele era alto e meio musculoso. Tinha cabelos lisos, de um tom escuro, que caiam bagunçados sobre os estreitos olhos azuis. Seu nariz era pequeno e bem desenhado. Seus lábios eram muito vermelhos, quase vinho, e um pouco carnudos. Os traços retos e angulares de seu rosto pareciam se harmonizar perfeitamente. Ele era incrivelmente bonito. Seu rosto parecia ter sido desenhado à mão, de tão perfeito que era.
"Dois lúridos?! Isso pode ser muito interessante, Álvaro..." a voz de Aelle resmungou dentro da minha cabeça mesmo enquanto ele nos observava em silencio, e isso me fez olhá-lo diretamente nos olhos. Aelle devolveu meu olhar, com um pouco de curiosidade.
-Olá criaturas estranhas com quem irei passar alguns dias. –Aelle sorriu para nós educadamente.
-Olá! –Kayne acenou para ele, todo empolgado.
-Um semigato?! –Aelle balançou a cabeça devagar como se estivesse achando algo engraçado, e então logo olhou para mim e Nerian de uma maneira desconfiada –Vocês são um casal?
-Não. –Respondi brandamente ao fitá-lo com curiosidade, o que fez com que ele me observasse de maneira especulativa.
-Qual o seu nome? –Ele arqueou as sobrancelhas, seus olhos azuis estavam atentos aos meus.
-Eileen. –respondi educadamente.
-Seus olhos são cativantes, Eileen... –Aelle sorriu o canto dos lábios cor de vinho. –E me parecem estranhamente familiares.
-Aff... –Nerian bufou ao meu lado, fazendo com que o jovem luzido imediatamente olhasse em sua direção. Houve uma ligeira e hostil troca de olhares entre os dois. –Eu sou Nerian, líder de Quartzo.
-Herdeiro do Claus? –De repente Zaki se aproximou de Nerian, olhando com curiosidade.
-Sim. –Nerian limitou-se a dizer, ao encarar Beacan com atenção.
-E a Eileen... –Aelle perguntou de um jeito divertido, voltando-se para mim com seus belos olhos azuis –Você é filha de quem?
Por um momento eu fiquei em silencio, me sentindo ligeiramente constrangida por não ter uma resposta para aquela pergunta.
-Ela é a minha irmã mais nova. –Nerian respondeu com voz grave ao passar o braço por cima dos meus ombros me puxando para perto do peito dele.
-Ah sim. –Zaki disse brandamente ao nos observar com curiosidade. –Eu não sabia que Claus havia tido filhos, muito menos que eram dois.
Eu e Nerian fizemos uma ligeira troca de olhares, mas ficamos em silencio. Se Nerian que era o líder estava mentindo para aqueles luzidos, quem era eu, para desmentir alguma coisa.
-Eu sou Édric, e acredito que você já soube o motivo de eu estar aqui. –O lobo negro se colocou a frente de Aelle, observando-o divertidamente –Algo me diz que nós nos daremos muito bem.
-Pode ser que sim. –Aelle deu de ombros enquanto seus olhos ainda passeavam por todos nós –Eu vou ter que matar alguma coisa?
-Espero que não. –Édric riu e então se voltou na direção de Zaki, o anjo alto e musculoso. –Estamos precisando descansar um pouco.
-Entrem na sede de Impoluto, pedirei que preparem algo para que vocês comam antes de partir. –Zaki gesticulou para que entrássemos na meia lua, logo atrás dele.
Nerian passou o braço pelos meus ombros quando passamos enfrente a Aelle. Houve uma hostil e rápida troca de olhares entre eles novamente. Aelle não entrou na meia lua.
A sede dos luzidos era gigantesca por dentro. Era ampla, espaçosa e muito iluminada pela claridade do dia. As paredes de vidro eram cobertas por extensas cortinas brancas, protegendo-nos dos diversos olhares curiosos que haviam ficado ao lado de fora.
No centro da sala havia uma larga e cumprida mesa de mármore branco, onde algumas luzidas já estavam preenchendo com vários cestos de frutas, pães e carne. Nós todos nos sentamos ao redor da mesa para comer. Kayne foi o primeiro a começar a se servir.
Édric conversou brandamente com Zaki e Álvaro, explicando-lhes toda a situação envolvendo Abreacan e as jóias espalhadas por Carbert. Depois que nós comemos e descansamos por cerca de meia hora dentro da sede de Impoluto, Édric decidiu que já era hora de partir.
Aelle nos encontrou na entrada do distrito, ele carregava uma brilhante e incolor espada de cristal entre meio suas asas brancas. A qual chamou a minha atenção, pelo errôneo cabo transparente, no qual haviam quatro furos circulares, para que seus dedos pudessem se encaixar para manuseá-la. A lâmina era larga e espessa, e possivelmente pesada. Junto dele estavam duas luzidas, com as quais ele conversava calorosamente. Elas o abraçavam, e acariciavam seu rosto, despedindo-se com um pouco de melancolia. Quando Aelle percebeu nossa presença, ele abraçou as duas de uma só vez, agarrando uma em cada braço, o que fez com elas dessem um delicado beijo em suas bochechas simultaneamente. Então se desvencilhou delas e juntou uma robusta mochila que estava no chão próximo á eles, jogando-a sobre os ombros, enquanto as luzidas se afastavam, voltando para o centro de Impoluto.
-Está ansioso para essa jornada garoto? –Édric parecia estar realmente entusiasmado com a presença de Aelle.
-Acho que estou curioso. –Aelle respondeu a Édric ao lançar um olhar estranho na minha direção.
-Entendi. –Édric riu ao balançar a cabeça enquanto observava o luzido de olhos azuis.
-Nós iremos para Ardis agora? –Kayne perguntou com um tom tremulo. Seus olhos esverdeados e fosforescentes denunciavam seu pavor.
-O distrito das serpentes? –Aelle ponderou por um segundo.
-Não se afaste de mim, Eileen. –Nerian murmurou perto de mim. –Ardis não é um lugar seguro.
Eu assenti com a cabeça, enquanto olhava em seus olhos violetas.
-Eu estava pensando... –Aelle disse ao observar eu e Nerian –Se esse cara veio só para escoltar a garota, ele já pode voltar para casa.
-Como é? –Nerian se irritou, encarando Aelle nos olhos.
-Eu posso protegê-la. –Aelle deu de ombros, desviando o olhar furioso de Nerian –Além do mais, até onde eu entendi, você não tem nenhuma função nesse grupo.
-Seu idiota! –Nerian esbravejou ao se inclinar na direção de Aelle, que agora o fitava desafiadoramente.
-Calma rapazes! –Édric se pôs entre eles. –Não podemos perder tempo com discussões desnecessárias. Não seria prudente chegar a Ardis após o pôr do sol.
-Tanto faz. –Aelle disse com um tom de voz arrogante, enquanto seus olhos azuis ainda olhavam para Nerian.
-Ótimo! –Édric comemorou com satisfação ao caminhar em direção a floresta de quadripétalas –Vamos andando então.
Aelle desviou o olhar raivoso de Nerian e seguiu caminhando atrás de Édric e Kayne que já se adiantavam na nossa frente para fora de Impoluto.
-Não gostei desse luzido. –Nerian comentou ao se aproximar de mim, enquanto nós os seguíamos.
-Achei ele bonitinho. –Eu sorri ao observar os pontinhos luminosos entre as asas brancas de Aelle.
-Bonitinho?! –Nerian inquiriu com deboche ao olhar para mim –Nunca se esqueça de que ele é um luzido, Eileen.
-Relaxa, Nerian. –fiz uma careta olhando para seus olhos violetas –Só disse que achei ele atraente.
-Atraente? –Nerian bufou, seus olhos violetas brilhavam de irritação –Achei que tinha dito "bonitinho"?
-Tanto faz... –sorri o canto dos lábios, ao olhar novamente para o luzido a nossa frente –Bonitinho ou atraente... ele se encaixa em qualquer descrição.
-Não acredito que estou ouvindo isso?! –Nerian bufou ao acompanhar o meu olhar para as asas de Aelle.
-Está com ciúmes?! –esquivei as sobrancelhas ao olhar para o semblante impaciente de Nerian.
-Não me provoque, Eileen! –Nerian exclamou irritado revirando os olhos violetas.

Eileen, O despertar de um Anjo (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora