O DIÁRIO DE MARVIN ANDRADE

(Desa)Broxando (Capítulo 10)

        Olá diário, finalmente te encontrei, e adivinha só? Minha irmã acabou te jogando no lixo e quando fui amarrar as sacolas eu te encontrei. E segredo, aqui entre nós, eu acho que finalmente vou perder a virgindade hoje. Mas calma, vou te explicar como tudo aconteceu.

Eu estava indo ao banheiro da escola durante a troca de professores entre a primeira e segunda aula, e o inesperado aconteceu. O professor me pegou fora de sala, e disse que eu não entrava mais na aula dele. JURO que eu tentei ao máximo reverter a situação, explicando o motivo. EU ESTAVA QUASE FAZENDO XIXI NAS CALÇAS. Ele não pareceu dar a mínima para o que eu falei, disse que, ele quem mandava na sala dele, eu não iria assistir aquela aula. Tudo que eu mais queria era não ter ido fazer xixi naquela hora e ter mijado nesse professor. Foda-se os modos, mijado mesmo. XIXI é uma forma muito afrescalhada de falar MIJAR. MIJAR.

P da vida por ter que ficar fora de sala em pleno conteúdo de prova, fui me esconder, já que ser pego fora de sala era ocorrência garantida. A biblioteca estava fechada. Na área de esportes havia uma turma tendo aula. Fui me esconder no banheiro, mas estava tão fedorento que tive que me trancar em uma cabine. (E se algum dia eu tiver alguma deficiência, qualquer que seja, eu irei culpar aquele banheiro. Não, aquela escola. Depois de hoje se um membro começar a nascer em um lugar indevido, ou sei lá, deixo aqui esclarecido o motivo)

Isso foi o ponto mais baixo do meu dia, mas só estou narrando dessa forma, por ser uma ocasião em que LITERALMENTE estou por baixo. Das vezes em que tive que me esconder em uma cabine para não apanhar na escola, eu não julgo como ponto baixo, mas como o ponto mais alto numa escala evolucional da minha espécie como ser oprimido. É só ler o que dizia Darwin que você vai entender. Não era o mais forte que vencia, e sim, os que possuíam melhores habilidades. ME ESCONDER NUMA CABINE FEDORENTA ME POSSIBILITOU CHEGAR A ESSA REPRODUÇÃO DE ESPÉCIE QUE SE LOGRARÁ ESSA NOITE. SHIIIT.

Alguns minutos depois, cansado de ver tanto pênis e triângulos com traços no meio nas paredes, nas portas e até no teto do banheiro (mantenha a calma, só estou fazendo esse suspense em revelar que eram vaginas porque quero crédito em canais do Youtube que buscam fatos que ninguém conhece e usa como forma de ganhar dinheiro. Se um dia eles gravarem um vídeo alegando que os triângulos nos banheiros das escolas significava, na verdade, algum símbolo Illuminati ou logo de alguma sociedade secreta, tudo já está registrado aqui. O processo por direitos autorais virá mais rápido do que o meu amigo Daniel indo ao banheiro depois de comer cachorro quente ao meio dia na feira de troca.) eu resolvi tomar um ar fresco, quarenta minutos de aula perdida demorava muito a passar. E se eu passasse mais tempo ali, sinto que meu nariz poderia correr o risco de entrar em estado de putrefação espontânea e cair. Gógol, me desculpa, mas eu não queria ser o Kovaliov numa versão cearense. Fora de cogitação. Um,um. (emoji de cabeça balançando de um lado para o outro)

Eu fui para o laboratório de informática, disse para o menino que eu era da turma da manhã e tava ali para fazer uma pesquisa, mas não tinha computador em casa. Finalizei essa mentira com um doloroso "glória a Deus meu irmão, graças a Deus", e o menino respondeu "graças a Deus, amém". (Minha conta com Deus só cresce, acho que vou ter que parcelar meu sofrimento em vinte reencarnações. O tio Luci deve tá fazendo pirocóptero com o rabo de felicidade, só esperando eu bater as botas pra poder vestir prada e ser o burguês safado que na cama vai me dar murro nas costas para manchar meu pulmão e me chamar de operário de uma sociedade capitalista.)

Assim que o sinal tocou eu corri desesperadamente para a porta da sala, e quando o professor saiu, eu estava do lado de fora olhando pra ele com uma cara de orgulho. Orgulho esse que foi para o ralo com apenas três palavras ditas pelo professor:

— Prova, próxima semana.

O professor de química explicava sobre ligações covalentes quando eu fui pegar o livro e notei que na parede estava escrito o número de uma pessoa e abaixo do número estava o nome da pessoa que era proprietária do número. E se fosse quem realmente dizia ser, eu sabia quem era e tinha até certa admiração por esta pessoa.