Verdades (Capítulo 02)

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        Dizem que estou sempre de cara fechada e dura, isso é verdade, é uma técnica "anti-idiotas e suas idiotices". Eu não sou uma pessoa fácil de lidar, estou sempre mudando, em todos os sentidos.


        O mundo está cheio de adolescentes que acham serem superiores e se gabarem por consumir bebidas alcoólicas ou fumar (como se isso fosse a coisa mais sensacional do mundo), que acham que se não falarem sobre sexo e quem e tem corpo sarado ou não tende a ser idiota, criança e uma enciclopédia de ofensas criadas por eles mesmo.    
        Eles dizem que o orgasmo possuí a sensação mais prazerosa do mundo? Sério? Diário, eu já tive uma sensação muito mais prazerosa, daquela de soar, melhor até que o próprio sexo. 

        Dia 22 de maio, ainda me lembro (mentira, vou até conferir o calendário pra ver se essa data não caiu em um fim de semana ou feriado), um dos meus maiores ídolos estava muito mal, e eu escrevi com corretivo escolar em uma camisa preta uma mensagem para ele, e fui para a escola me sentindo o garoto mais feliz do mundo, passei pelo portão numa boa, numa boa que quase fiquei surdo com um grito.

— Ei, você sem farda, você não pode assistir aula sem farda! — O coordenador gritou.

Eu virei a cabeça do mesmo jeito de Emily em o exorcismo e falei o que eu passei a manhã toda treinando de frente ao espelho.

— É que quando estava saindo de casa derramarei suco e sujei toda a minha farda, se você quiser pode até ligar e perguntar a minha mãe. — Eu basicamente miei de tão baixo que falei.

Uma dica: nunca dê o número de algum parente seu, façam como eu, eu dou o meu próprio, daí quando eles ligam eu desligo ou deixo eles ligando até ficarem cansados (isso é melhor que ver um pornô, prometo).

— Sinto muito mas você não pode assistir aula. — Ele tentou uma cara de " eu realmente sinto muito, não é da boca para fora", mas falhou.

       Eu nem insisti ou implorei, mas fiquei muito puto de raiva. Fiquei na porta com aquele olhar de quando um cão quer algo. Os professores passavam por mim e eu logo fingia um olhar tão triste capaz de causar depressão em uma pessoa completamente sã. Mas era como se eu fosse invisível, eles passavam e nem para mim olhavam, eu pensei em entrar pela porta abaixo onde os trabalhadores entravam e saíam, mas logo surgiu uma lâmpada na minha cabeça, com um letreiro enorme e brilhante escrito "POR QUAL MOTIVO EU NÃO FUI RECLAMAR NA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO?"

        Um sorriso maléfico brotou no meu rosto e eu me transformei em um cavalo de carruagem a ser chicoteado para ir mais depressa, eu basicamente voei.


        Quando cheguei de frente a famosa CREDE, os portões estavam abertos, eu entrei e fui até a recepcionista.

— Boa tarde! Eu queria fazer uma queixa. — Falei trêmulo.

— Há duas pessoas a frente, vou informar que você está aqui. De que Colégio você é?
— Berrou a recepcionista com sua voz anasalada.

— Colégio Xavier! — Falei.

— Tudo bem! Sente-se e aguarde sua vez.

— Obrigado!

        Sentei no sofá, e observei as pessoas que lá estavam também. À esquerda, uma garota chorando, à direita uma mulher soprando de raiva. Não devo ocultar o fato de que eu estava super curioso para saber o motivo delas estarem ali, mas nem precisei perguntar, o telefone da mulher tocou e ela começou a contar para a pessoa que estava através do telefone.

— Eu saí mesmo, eles acham que só porquê me pegaram com o Daniel é motivo de me chamarem de galinha... — Ela parou e percebeu que eu a encarava atentamente. — Não é verdade? Eu estou certa ou errada? Quando um pitéu de mulher que nem eu trai o namorado, ela não pode ser chamada de galinha né? Mas se fosse só galinha, eu estava feliz. Me chamaram de rapariga, e isso eu não sou. — Ela me perguntou.

— Concordo plenamente! — Respondi sem pensar e dei de ombros.

Alguns minutos depois chegou minha vez, de ir falar com a... acho que secretaria, sei lá.

— Boa tarde! — Falei enquanto sentava. — Quero deixar bem claro que o motivo para estar aqui é que não me deixaram entrar sem farda na escola, o que eu acho injusto, agora terei que esperar até as 5:30 para pegar o ônibus escolar por morar longe ( mentira, eu moro perto do Colégio).

— Eu entendo. — Ela falou calma. — Mas por qual motivo não veio de farda?

— Quando eu estava saindo, eu derramarei suco, acidentes acontecem... Mas sabe o que eu acho mais errado? O fato de estudar a dois anos na escola e quando vou uma vez sem farda eu não posso assistir aula? Eu sei que eu estou errado, mas isso não convém, eles devem ter algum preconceito comigo, só pode ser porque sou pobre, nossa, nunca me senti tão humilhado... Engraçado mesmo é que milhares de pessoas vão sem farda e fazem coisas bem piores, mas quando é comigo é essa besteira toda. Os professores tentam descontar seus problemas pessoais nos alunos, e acha que temos que engolir isso numa boa, eu estou cansado, acho que alguém precisa realmente abrir a boca e falar tudo que anda acontecendo naquela escola, eu fico me perguntando, por qual motivo algumas pessoas se preocupam tanto enquanto outras não estão nem aí, você acha que eu realmente não me importo? Óbvio que eu me importo, se eu não fosse um bom aluno eu não teria vindo até aqui fazer uma queixa. — Respirei fundo e afundei na cadeira.

A secretária arregalou os olhos, e não sabia o que falar.

— Isso é injusto, eles devem saber que acidentes acontecem mesmo, você disse que acontecem coisas piores? Que tipo de coisas piores são essas? — Ela perguntou.

— Então né, vamos começar por maconha nos banheiros e...

        Depois de alguns minutos, fizemos um acordo de acabar a conversa por telefone, porém ela notou meu nome e minha série, e disse que iria me mencionar nas conversa com diretor da escola. Quando eu saí da sala, eu estava totalmente suado e cansado, mas foi uma sensação tão prazerosa, voltei feliz da vida.
        Como me trataram no dia posterior? Eu me tornei um aluno bem popular para os professores e para a direção da escola, só para eles mesmo, quando terminou a aula um cara esbarrou em mim que quase levou meu braço junto com ele, continuo sendo o mesmo perdedor.

O DIÁRIO DE MARVIN ANDRADEOnde histórias criam vida. Descubra agora