Medo bobo

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Por Danilo
1 mês após o recebimento da carta que mudou a minha vida.
"Magareth Mesquita, você aceita se casar comigo?" Perguntei ajoelhado na frente de todos, estávamos na nossa festa de noivado. Eu finalmente havia aceitado ter algo a mais do que um simples namoro com Maggie.
"Eu aceito" Ela disse feliz, os olhos verdes reluzentes, brilhando de felicidade. Seu pai estava contente, sorrindo para nós. Todos pareciam felizes, menos eu. Coloquei a aliança em seu dedo anelar e, ela ficou alguns instantes olhando para ela. "Veja como brilha!" Falou sorrindo.
Os convidados vieram me cumprimentar, João, agora meu sogro parecia mais feliz do que nunca ao ver a filha noivando.
"E aí Danilão, quando será a festa?" Ele perguntou "Você já enrolou minha filha demais!" Falou
"Em breve" Disse com um falso sorriso. Droga, por que todos sorriem? Por que você vai casar, não está percebendo? Eu dizia para mim mesmo, enquanto via aqueles rostos emocionados pelo meu ato heroico de pedir minha namorada em casamento. Aquilo era para ser algo bonito, onde eu e Maggie troçaríamos juras de amor eterno e, todos nos aplaudiriam, todavia, eu não conseguia fazer aquilo. Muito menos ela.
Na noite anterior a festa de noivado tivemos uma longa conversa, ela disse que estava disposta a se casar para que o pai parasse de atormenta-la e, eu falei que me casaria para que pudesse finalmente colocar as mãos na presidência da empresa. Era algo planejado, onde existiam apenas negócios e, não amor.
Ah o amor, que para os outros é tão belo e puro, para mim era feio e sujo. A única mulher a quem amei usou-me por causa do meu dinheiro, esquecendo-se que por trás daquela fortuna imensa havia um coração, que batia de forma descompassada por ela e, que seria capaz de tudo para fazê-la feliz. Todavia, o destino decidiu tomar outros rumos, mostrando a mim que eu estava ao lado de uma mentirosa e interesseira. Ah, se ela soubesse o que eu seria capaz de fazer por ela, não teria agido dessa forma! Pensei enquanto tomava um cálice de vinho. O meu quarto da festa, diga-se de passagem, mas quem está contando?
Beber fazia com que as lembranças de Maraísa se esvaíssem e, por mais que eu tentasse loucamente esquecê-la aquilo era impossível. Eu já havia tentando imagina-lá como a pior das mulheres, uma ladra, que só pensa em extorquir homens, entretanto, meu coração continuava gostando dela, como se não conseguisse compreender o que ela fez comigo. Será que demoraria muito para cicatrizar?
"Pensando em Maraísa?" Uma Maggie colocou as mãos em meus ombros chamando-me a realidade, eu tentei disfarçar, não podia dar esse vexame na minha festa de noivado.
" Estava revivendo momentos da minha vida" Falei sincero, só omiti que esses momentos tinham nome e sobrenome e, cabelos negros longos que me deixavam maluco.
"As pessoas estão te achando apático" Ela falou acariciando meus cabelos "Você está magro, pálido e, sem vida" Ela falou me fitando. Eu usava um terno de cor negra e, uma gravata vermelha, meus cabelos haviam sido perfeitamente penteados com uma leve camada de gel para que não saíssem do lugar.
"Você sabe que eu emagreci e, sabe também o motivo" Falou. Sim eu havia emagrecido alguns quilos e, perdido noites chorando por ela, havia ficado em estado catatônico por alguns dias, até que, cansado dessa situação comecei a reagir. Todavia, a lembrança dela era tão constante, fazendo-me sonhar que estávamos juntos, como se nunca tivéssemos nos separado.
E se, eu pensava. E se ela estivesse me esperando no hotel. E se aquela carta não existisse. E se ela me amasse. E se eu a tivesse pedido em casamento. Minha vida girava em torno dessa pergunta e, eu não tinha resposta para ela.
"Ela não te merece. Eu sim!" Maggie dizia aquilo tantas vezes que já havia virado um mantra
"Você sabe que eu sou agradecido por tudo que fez por mim, contudo, entende que eu não te amo e, estou fazendo isso para não ficar mais sozinho e, evitar o julgamento das pessoas por ser um homem de 30 anos que não casou. Certo?!" Falei a encarando. Ela havia sido crucial em minha vida, mostrando-me que a vida não iria acabar só porque uma mulher me deixou. Maggie ficou ao meu lado todos os dias, mostrando-me que há luz no fim do túnel. Todavia, eu deveria estar cego, pois não conseguia visualizar essa luz. Mesmo que eu quisesse. Droga, eu preciso de uma lanterna! Talvez ela possa me ajudar.
"Eu admiro o seu sacrifício" Ela disse "Vou te amar por nós dois" Falou "Quando você terminou comigo, percebi que eu te amava e, não quis te perder" Ela falou abraçando-me. Um fotógrafo parou em frente a nós tirando uma foto.
"Casal bonito" Ele disse e eu sorri sem graça. Se você acha isso bonito, espere até me ver com Maraísa! Aquilo é digno de uma capa da Vogue! Pensei. Maggie sorria abobalhadamente. O garçom me serviu com mais uma dose de vinho e,eu tomei sem reclamar.
"Obrigado pie cuidar de mim! Agora eu sou seu por toda a eternidade!" Disse tomando o último gole e, indo em direção ao bar. Eu precisava de mais bebidas.
De certa forma, beber fez com que eu me esquecesse a real situação, e a encarasse de outra forma, minha cabeça estava tão louca que, por um instante foi como se eu estivesse em outro lugar. Como se de algum modo, as coisas tivessem tomado outro rumo. Aquele poderia ser meu noivado com Maraísa. E ao invés dessas pessoas chatas e interesseiras eu teria Marília e Maiara para me alegrar. Maraísa cantaria e, eu declamaria um poema para ela. Sem entender muito bem, sentei-me no bar e comecei a chorar copiosamente, como um bêbado.
As pessoas me encaravam sem entender, algumas vinham até mim e perguntavam porque eu estava agindo daquele jeito e, eu só sabia responder "Por que eu a amo. Amo demais" Dizia e, todas sorriam contentes. Lógico, elas deviam achar que eu estava falando de Maggie e, achavam lindo eu sofrer por alguém que estava prestes a se casar comigo.
Será que elas ficariam muito tristes se descobrissem que eu não amava Maggie? Será que eu seria julgado por isso? Enfim, eu não estava nem aí para a opinião delas.
[...]
1 mês depois
Maggie queria se casar no verão, no Guarujá, pois ela amava praias, ela queria uma festa de arromba até o sol nascer, enquanto eu queria me casar no cartório e, acabar logo com isso. Que tortura meu Deus!
Nesse meio tempo, sou obrigado a admitir que pesquisei o nome de Maraísa no Google umas 700 vezes e, fui até o hotel umas 100 vezes para ver se ela tinha aparecido. Todos os funcionários já me conheciam e, eu tinha um apelido secreto " O homem que não superou a ex " era assim que eles me chamavam nas minhas costas. Eu não estava nem aí. Tudo bem que, havia tentando ligar para Marília algumas vezes, mas só dava caixa postal e, havia mandado uma solicitação para seguir Maiara no Instagram, mas a conta dela era privada e, ela nunca me aceitou. O que me levava a crer que as duas me odiavam, eu não entendia o motivo. Ei! É para eu odiar vocês, afinal de contas foi a amiga/irmã de vocês que me tratou como se eu fosse um cartão de crédito, a interesseira é ela! E não eu! Todavia, o meu coração ainda batia fora do eixo ao pensar nela.
Ok, eu admito, ainda gosto da Maraísa, mas é algo pequeno, do tamanho daquelas carretas que circulam nas rodovias. Algo tão simples que ninguém notava, a não ser Maggie que tinha medo que eu trocasse o nome dela pelo de Maraísa na cerimônia e, me fez ensaiar umas 20 vezes para que isso não ocorresse.
Falando nela, esqueci de mencionar que eu estou no altar, com um terno azul marinho, vendo minha noiva quase esposa entrando com um sorriso estonteante nos lábios. Acho que ela é a única feliz aqui! Ela vem acompanhada de João Mesquita que sorri. Ele me entrega a noiva e, eu só consigo pensar em como seria bom se o cabelo dela fosse negro e não loiro! Ah, ela ficaria tão linda! Ao invés daqueles olhos verdes, olhos pretos. Eu mataria para estar com uma mulher dessa. Mas eu tinha uma loira ao meu lado, quando eu preferia uma morena.
"Não erre meu nome!" Ela disse baixo. Maggie parecia ter algum medo que Maraísa aparecesse ou algo do tipo, como um fantasma que aparece para assustar a todos, pois, a todo momento, ela me lembrava da existência dela, mesmo em momentos que eu não queria me recordar.
"Eu não vou errar, Isa" Falei de sacanagem e, ela me beliscou.
[...]
Os votos dela foram tão lindos que, todos se emocionaram, ela falou algo sobre amar até depois da morte e que eu e ela fomos feitos um para o outro e, que nossa família seria a mais linda de todas, pois, éramos lindos. Eu achei brega, talvez se fosse Maraísa, ela não perderia tempo escrevendo votos e, sim cantando uma música. Talvez ela entrasse na igreja cantando também. Ah! Eu me derreteria completamente se ela entrasse cantando. Nós não tínhamos uma música para nós, não tivemos tempo de escolher, mas tenho certeza que, se dependesse dela, sua entrada seria ao ritmo de um bom sertanejo. Sorri ao me recordar dela e, percebi que todos me olhavam.
"Leia seus votos, amor" Maggie disse me trazendo de volta a realidade. Eu suspirei. Preciso dizer que fiz eles pensando em Maraísa? Acho que é desnecessário. Peguei a folha de papel com o nome de Maggie em letras garrafais, para que eu não cometesse nenhum vexame. Respirei fundo e, comecei a ler.
"Hoje é o dia em que o mundo curva-se diante da sua beleza e, eu me sinto envergonhado por ter uma pessoa como você ao meu lado. Pois eu não mereço tudo isso, você é um daqueles presentes que, não se encontram nem naquelas lojas mais caras. Tê-la ao meu lado significa sossego constante, como se o mundo de uma hora para outra deixasse de ser um lugar caótico para dar espaço a algo calmo, sereno e tranquilo. Estar com você faz com que eu esqueça os meus problemas, é como se estivesse acontecendo um grande terremoto do lado de fora, bem atrás da minha janela, mas eu estou tão ocupado em estar na sua companhia que não me preocupo, pois sei que, aconteça o que acontecer você estará ao meu lado. E eu te amo por isso, te amo por saber que eu posso contar com você para tudo, te amo por saber que você esteve ao meu lado no momento em que eu mais precisei. Te amo por saber que você seria incapaz de mentir para mim e, estar comigo por dinheiro, como outras o fizeram. E eu sei que, nosso amor será como uma flor, que necessita ser cuidada todo o dia e, como o melhor jardineiro eu cuidarei dele, para que ele floresça, gerando flores de todas as cores e tamanhos. Eu te amo Magareth Mesquita. " Falei e, lágrimas correram dos meus olhos, e eu não entendia o motivo. Não! Eu não a amava! Não! Eu não sentia tudo isso por ela! Mas aquilo era o que estava guardado em meu peito e, eu não sabia como omitir. Eu gostava de Maggie por ela ter cuidado de mim, ter se preocupado quando Maraísa simplesmente deu as costas, sendo egoísta ao ponto de não dizer adeus pessoalmente, ela preferiu ser fria a ponto de escrever uma carta! Uma mísera carta! Tudo bem que essa carta acabou com meus sentimentos, como uma bala que acerta de forma certeira o coração. Eu estava chorando não de alegria por estar me casando, mas de tristeza por ter sido usado daquela forma. Pela mulher que eu mais amei em toda a minha vida. Ou melhor, pela mulher que eu ainda amo com todo o meu coração, mesmo ela tendo estraçalhado ele e, feito picadinhos, eu ainda a considerava como a mulher da minha vida. Mas, o destino tinha outros planos e, era hora de beijar a noiva. Que não era de longe tão linda como minha morena.
Ah! Como o destinado podia ser cruel as vezes!
Uma ovação se fez presente e, eu senti o peso da aliança grossa em meu dedo, agora eu era casado, não podia mais me dar o luxo de olhar para outras, nem fingir que não me importava com Maggie. De agora em diante teríamos um compromisso, um contrato vitalício, para toda a eternidade. Seríamos felizes? Teríamos filhos? Eu a amaria com o passar do tempo? Bem, isso são cenas para os próximos capítulos.
[...]
4 meses depois
"Parabéns Danilo! Agora você é o presidente!" Um Murilo dizia feliz entrando em minha sala "E que luxo hein cara!" Ele falou olhando para o ambiente todo mobiliado em móveis pretos, os quais davam um ar requintado ao local "Só está faltando uma coisa" Ele falou
" O que?" Perguntei sem dar muita importância
"Você sair conosco para um Happy Hour" Ele disse "Você nunca sai cara! Estamos sentindo sua falta! Você é o chefe pode sair quando quiser" Continuou e eu suspirei pesadamente
"O que houve cara?" Perguntou "Problemas no paraíso?"
"Meu relacionamento com Maggie nunca foi um paraíso" Disse olhando fixamente para minha aliança.
"Por que? Ela é tão gostosa, com todo o respeito, chefinho" Falou e eu dei de ombros
" Beleza não é tudo, Murilo. Maggie é muito ciumenta, extremamente obsessiva, agora deu para controlar cada um dos meus passos, coisa que ela não fazia antigamente" Expliquei
" Você é tão feio, não sei porque ela tem tanto ciúmes" Ele brincou e eu dei um sorriso amarelo.
"Eu sinto que ela me esconde algo" Disse "E tem medo que, se eu descobrir, acabe terminando tudo com ela, todavia, eu não sei porque ela tem esse medo, não há segredos entre nós, somos marido e mulher" Disse
"Por que você acha que ela esconde algo?"Ele perguntou
"Não sei, na segunda feira, fomos ao shopping almoçar, eu estava comendo calmamente, quando uma moça morena passou por nós. Maggie quase teve uma síncope, dizendo que precisávamos ir embora dali, que ela estava passando mal. Só que eu não entendi o motivo. Por que ela ficou assim tão de repente?" Falei
"Vai ver ela achou que fosse alguma ex namorada sua" Disse
" Não era, a única morena na minha vida foi Maraísa e, ela não era tão alta quanto a mulher que vimos" Expliquei me recordando dela. Ela! Sempre ela nos meus pensamentos! Ela sempre ela, se metendo na minha vida! Ela sempre ela no meu caminho! "Ah, deixa para lá. Eu não quero mais falar sobre isso! Já está tarde e está na hora de ir para casa" Disse
"Danilo, essa tal Maraísa, é aquela mulher que te deixou em depressão há uns tempos atrás?" Ele perguntou e eu bufei. Ela não tinha me deixado em depressão! Eu havia desenvolvido um quadro depressivo por estar trabalhando demais na empresa, por isso me afastei por mais 15 dias com ordens do meu psiquiatra. Foi aí que Maggie e eu decidimos nos casar, para que ela me auxiliasse a lidar com toda a pressão.
"Maraísa não tem nada a ver com isso, ela foi uma namoradinha, só isso. Uma mulher wue eu dormi algumas vezes, mas não teve tanta importância na minha vida. Era interesseira e só queria meu dinheiro" Expliquei. Quem eu estava querendo enganar? Todos sabem que ela foi muito mais do que isso. Mas Murilo não precisava saber dos detalhes.
"Cara, acho que você está precisando beber. Anda! Maggie nem vai saber que você foi conosco. Tem uma chopearia maravilhosa que abriu aqui perto. Vamos, vai ser bom para você!" Murilo disse e, eu hesitei. Sabia que ao chegar em cada ouviria muito de Maggie, mas não me importei, peguei meu paletó e comecei a segui-lo.
" Tudo bem, eu aceito o convite, mas você paga a primeira rodada!" Falei "E chama o Léo Lins e aquela moça da recepção, a Melissa" Disse e, ele fez o que eu pedi "Diga que é uma ordem do chefe!" Finalizei, pensei em passar uma mensagem avisando Maggie que demoraria, todavia, decidi não falar nada. Era uma sexta feira e ela tinha uma festa de uma amiga para ir.
[...]
O caminho até o tal lugar foi regado a música eletrônica e charutos, eu gostava de usar alguns de vez em quando e, estava contente por Léo Lins, Murilo e, Melissa não se incomodarem, afinal de contas eu era o chefe.
Ao chegarmos estava cheio e, tivemos que ficar um tempo esperando até que uma mesa fosse liberada. Como prometido, Murilo pediu uma garrafa de cerveja, enquanto esperávamos e, a ofereceu a todos. Todavia, por algum motivo naquela noite eu não quis beber, algo em mim sentia que eu precisava de sobriedade para entender o que estava prestes a ocorrer, por isso não me incomodei ao ver eles bebericando e rindo. Pedi um refrigerante e, ficamos conversando.
" Seu brocha! Você deveria estar bebendo!" Murilo falou
"Eu vou dirigir, Murilo! Esqueceu!" Disse calmamente tomando um pouco do meu refrigerante e tragando o meu charuto.
Logo uma mesa vagou e, fomos convidados a entrar, eu já estava cansado, tínhamos ficado meia hora esperando uma mesa ser liberada, o que me gerou estresse. Todavia, os meninos não pareciam se incomodar e, riam como se nada tivesse acontecendo.
Quando entrei no restaurante decidi ir ao banheiro e, enquanto me dirigia até lá escutei uma conversa em uma das mesas, a voz me parecia familiar.
" Eu estou te dizendo, ela está grávida, quase ganhando o bebê e, simplesmente se recusa a parar de trabalhar! Diz que gravidez não é doença e que vai continuar trabalhando" A tal voz falou. A mesa em que a tal pessoa estava sentada era próxima de uma pilastra e, por algum motivo eu fiquei escutando. Algo fez com que eu parasse e ficasse ali.
"E ela esta aceitando bem a gestação?" Uma segunda voz perguntou. Essa não me era conhecida.
" Bem, ela sofreu muito, pois o golpe que sofreu foi tão grande que achamos que ela não ia aguentar! Eu nunca vi minha irmã tão frágil, ela parecia que iria desmoronar a qualquer momento. Sinceramente, não sei como essa criança sobreviveu! Ela é um milagre, pois, Maraísa não comia de jeito nenhum, passou dias sem se alimentar. Faltava as consultas de pré natal, não comparecia aos exames. Todavia, foi só depois que ela conseguiu o emprego como cantora, que ela pareceu se acalmar e, aceitar melhor a gestação" Quando eu escutei o nome Maraísa quase tive uma síncope. Aquele não era um nome comum! Quantas pessoas tinham esse nome no Brasil inteiro? Umas 5 talvez, de acordo com o último senso. E além do mais, quantas pessoas tinham esse nome e ainda cantavam? Aquilo era coincidência demais.
"E o pai da criança? Apareceu?" A voz perguntou. E eu gelei. Quem seria o pai daquela criança? Quem seria o desgramado que engravidou aquela mulher e a deixou a própria sorte? Eu nunca teria coragem de fazer isso com mulher alguma. Pobre Maraísa! Meu coração batia descompassado, eu conseguia imaginar como ela deveria estar, todavia, eu não queria sentir pena dela! Ela merecia tudo que estava passando. Ela poderia ter uma vida digna comigo, mas foi ingrata ao ponto de me deixar, com apenas uma carta! Uma única carta! Mas ela estava grávida! Droga! Por que eu só de ouvir o nome dela meu corpo estremece?
"Que nada! Maraísa foge dele igual o diabo foge da cruz! Ela morre de medo de encontrá-lo, desde que a tal namorada dele foi até o hotel onde estávamos hospedadas e, a fez escrever uma carta falando que não gostava dele, que estava com ele pôr dinheiro. Isso a magoou muito, primeiro por ela ter se entregado a alguém que achávamos que prestava, mas no fundo era mais um canalha e, segundo, por ter descoberto pela namorada dele, que ele era comprometido" A mulher falou. Espera! Como assim? Hotel? Namorada? Carta?Algo não estava certo nessa história, como assim forçar Maraísa a escrever uma carta? Então o pai da criança era eu? Maraísa havia sido coagida a escrever algo que não queria? Será que Maggie tinha algo a ver com isso? Mas ela não faria algo desse tipo, ela nem sabia onde Maraísa estava hospedada, como ela poderia ter mandado escrever uma carta se elas nem se conheciam? Mil dúvidas pairavam em minha mente e, eu estava confuso!
Decidi sair dali antes que eu surtasse, todavia, antes, abaixei a cabeça e, passei de frente a tal mesa, onde a voz conhecida estava. E quando eu a vi, quase tive uma síncope. Era Maiara!
Eu não tinha mais estrutura para permanecer naquele lugar, eu precisava descobrir que carta era aquela, tirar aquilo a limpo, entender que história era essa, todavia, eu não sabia como agir, tudo era muito novo para mim. De uma hora para outra eu havia descoberto que era pai e, que alguém que eu não sabia, havia coagido minha então namorada a escrever uma carta mentindo para mim.
Isso quer dizer que Maraísa me amava? Que havia sofrido tanto quanto eu? Meu coração palpitou ao pensar isso. Será que ainda tínhamos chance?
Eu precisava ir até ela e conversar, eu tinha que vê-la e tirar isso a limpo. Mas e se ela mentisse? E se ela não quisesse me ver? Como Maiara disse, ela estava fugindo de mim. Mas se ela estava fugindo é porque tinha algo a dizer, algo que talvez ela não tivesse coragem de contar.
Eu necessitava falar com Maraísa, escutar sua versão da história e, entender o motivo de tudo que ocorreu. Todavia, como? Se eu não sabia onde ela morava?
Decidi esperar Maiara, ela estava com essa tal pessoa, eu a esperaria e, a seguiria, provavelmente ela iria para casa depois dali e, eu descobriria aonde elas estavam morando.
Fui até a mesa onde Murilo, Léo e Melissa estavam bebendo e, disse a eles que não poderia dar-lhes carona, pois Maggie havia me ligado para buscá-la, eles pareceram não se importar e continuaram a conversa animada sobre carros.
Eu fingi que fui embora, quando na verdade fiquei na mesma pilastra aguardando Maiara terminar. Passados alguns minutos ela pagou a conta e, saiu acompanhada de uma mulher de cabelos castanhos escuros, alta, gorda e, com um macacão jeans.
"Eu te dou uma carona até em casa"A tal mulher gorda falou
"Ótimo! Maraísa já deve estar preocupada, eu disse que não demoraria, mas a conversa e a cerveja estavam tão boas que acabei me esquecendo na minha irmãzinha" Maiara falou. Eu as segui cautelosamente, as duas entraram no carro e, eu fui as seguindo.
O caminho era sinuoso, já eram 20:00 da noite e, estava frio, todavia minhas mãos suavam como nunca haviam suado antes, eu sentia taquicardia e, meu rosto estava vermelho.
Eu iria vê-la! Eu iria vê-la! Deus, será que eu estava preparado para esse momento depois de tanto tempo? Será que eu ainda gostava dela? Será que quando eu a visse sentiria todo aquele turbilhão de emoções que ela me causava? Ou isso que eu estava sentindo era uma loucura da minha cabeça e, quando eu a visse perceberia que havia perdido o meu tempo e que a mulher da minha vida sempre foi Maggie?
Merda! Eu odiava não ter respostas!
Após 30 minutos rodando por São Paulo, o carro parou em frente a uma casa simples, Maiara desceu e abriu a porta com a chave, entrando em seguida. Eu fiquei parado, decidindo se tocava ou não a campainha. Com um súbito medo de dar tudo errado e, de descobrir coisas que eu não queria.
Depois de 10 minutos discutindo com meu inconsciente, decidi descer do carro, andei cautelosamente até a casa e fiquei parado ali por alguns instantes. Então era ali que ela estava vivendo? Era ali que ela havia se escondido esse tempo todo? Será que ela tinha outro? Deus Danilo pare de dramas e toque a droga da campainha!
E eu toquei e, senti meu corpo estremecer dos pés a cabeça, especialmente quando a voz dela se fez presente.
"Quem é?" Escutei ela gritar de dentro da casa mesmo e, vir em direção ao portão. Estava escuro, mas eu sabia que era ela, a voz era inconfundível. Ela ficou parada por alguns instantes no meio do corredor que dava para o portão. Tentando reconhecer quem era a pessoa que estava tocando a campainha aquela hora da noite. "Se for a Rose pode ficar tranquila que, eu e Isabella estamos quietinhas aqui, até porque certas pessoas ainda nem nasceram e, já estão dando trabalho para a mamãe, chutando tudo e, fazendo com que ela fique enjoada e, sem posição a noite" Ela falou o final rindo e, eu quase me matei por não ter coragem de falar nada. Não, Maraísa, não é a Rose, é o pai do seu filho! Quer por favor explicar porque você deu a louca e escreveu a merda de uma carta quando estava grávida de mim?
Percebendo que ninguém respondia nada, ela continuou caminhando até o portão, ela parecia temerosa, como se tivesse medo de quem estava do outro lado. Os passos eram lentos e, a medida que ela se aproximava percebi a barriga. Maiara não exagerou quando disse que ela estava quase ganhando o bebê. Seria eu o pai dessa criança? Ela seria o fruto proibido do meu amor por aquela mulher?
A medida que ela se aproximava a taquicardia aumentava e, eu tive medo que ela conseguisse escutar as batidas fortes do meu coração. Eu achava que não seria capaz dele bater mais forte, todavia, eu estava enganado. O descompasso foi maior, quando ela parou em minha frente, o perfume dela, o mesmo de outrora inebriando minhas narinas e, me encarou. Ela havia me reconhecido.
Olhos nos olhos.
Lembranças sendo reativadas.
Sentimentos sendo revividos.
Emoções a flor da pele.
E ela colocou a mão na barriga por um instante e sorriu. Mesmo na escuridão eu conseguia ver o seu sorriso "Não é ninguém importante, Isa" Ela disse calmamente passando a mão em seu ventre.
Eu não era ninguém importante? Eu era o pai da sua filha! Poxa!
Ela logo fechou a cara, voltando a me encarar estática. Os dois tão mudos que, se estivéssemos em uma competição empataríamos.
"Podemos conversar?" Eu disse tentando manter a calma que estava longe de sentir
" Eu não tenho nada para falar com você!" Ela falou ríspida. Toda a doçura se foi.
"Por favor" Falei "Por nossa filha"

O circo [DANISA]Onde histórias criam vida. Descubra agora