De volta ao trem.

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POV Katniss

Saímos da floresta de mãos dadas. Nos desvencilhamos e ele me beijou na bochecha. Foi com um sorriso bobo que tentei me mesclar à horda de homens e mulheres que se acotovelavam em volta de uma cerca improvisada. Erguendo os pés, consegui ver.

Eram em torno de 20 vacas, todas muito peludas e fofas. Senti um arroubo de prazer ao ver os animais. Ao redor deles, Thom gritava.

- 10 delas já vieram prenhes.

Meus ouvidos tamparam, como se estivessem cheios d'agua. Thom continuou gritando:

- E ali vem meu reprodutor.

Um animal com os chifres enormes chegou, e conforme ele fazia esforço para subir em uma das vacas, senti minha visão ficar turva e começar a apagar nas pontas.

- Em pouco tempo teremos vaquinhas e boizinhos novos no 12.

Foi a última coisa que ouvi antes de ficar tudo preto e eu cair com estrépito no chão.

{...}

Quando acordei, o rosto de Haymitch estava a centímetros do meu.

-Ligou dois e dois, foi queridinha?

-Han? – Eu perguntei, abobada. De súbito, me virei e vomitei todo meu lanche em seus sapatos. Ele saiu desviando, com nojo.

Gritos de "levar pra enfermaria "e "alguém chame Peeta'' se fizeram ouvir, mas Haymitch os calou, erguendo a mão.

-Podem ficar calmos, Katniss só levou um choque.

Todos eles se alvoroçaram de novo, choque , que choque?

O homem se inclinou pra mim e sussurrou - choque de realidade, não é mesmo docinho? Levante-se – ele me ergueu pelo braço – eu a levo para casa.

Fizemos a caminhada até em casa em silêncio, eu estava imensamente abalada. Haymitch parecia com raiva. Entrei em casa primeiro e ele me seguiu, batendo a porta com força.

- Vocês não estavam se protegendo? – ele perguntou, raivoso – é por isso que crianças não podem fazem sexo, vocês não sabem lidar com as consequências – ele parecia enlouquecido, caminhando a esmo na cozinha de Peeta – há quanto tempo você está atrasada?

- Atrasada pra quê? – eu me sentia tola.

- Suas regras Katniss, sua menstruação, há quanto tempo você não as tem? – ele estava gritando comigo.

Reagi do único modo que conhecia, gritando também.

-Não é da sua conta, está bem?

-Ah, mas é da minha conta sim. Eu sei que você é meio obtusa, mas faça a matemática e me responda AGORA.

Haymitch tinha chegado bem perto de mim e segurava meu rosto com força, me machucando, enquanto gritava na minha cara.

- Eu não estou atrasada. Ainda falta uma semana – eu falei, me desvencilhando dele e atravessando a cozinha para poder tomar um copo d'agua. Minhas mãos tremiam tanto que o copo chacoalhava. Me livrei dele, apoiando-o na pia.

Haymitch se sentou com forca na cadeira, parecia extremamente aliviado.

- Então por que o desmaio Katniss?

- Eu só me dei conta agora do que poderia acontecer, está bem? Nunca falávamos disso na minha casa, nunca tive amigas pra fofocar desses assuntos, e eu nunca tinha vivido essa felicidade, e me escapou.

Parei de falar de uma vez, irritada com o fluxo de lagrimas que chegaram de repente. Me veio raiva, de mim mesma, de Haymitch e de Peeta.

Haymitch já estava ao lado do telefone.

- Ligue para o alguém, para sua mãe, pra Effie, para a presidenta, mas resolva isso.

Fiz o que ele me pediu. Após alguma consideração, liguei para o doutor Aurelius e expliquei minha situação. Eu falei por um bom tempo, sem esconder nada, sabendo muito bem que Haymitch escutava tudo.

- Veja Katniss, via de regra, anticoncepcionais estão proibidos ao público. Panem perdeu muita gente na guerra, e precisamos de novas crianças. Na época de Snow, eles eram rigorosamente proibidos, com pena de morte a quem desobedecia. Hoje, a situação está um pouco mais razoável. Podemos aplicá-los em soldados e pessoas mentalmente instáveis. Você é infelizmente, os dois. Acho que conseguirei a liminar. Entrarei ainda hoje com a ação. Porém tem que ser feito aqui.

- Mas estou em prisão domiciliar.

- Venha no trem das 17h. Até lá já terei conseguido um passe- saúde para você.

Desliguei sem me despedir e me virei. Haymitch ainda estava sentado na cozinha.

-Preciso fazer minhas malas – eu disse, já me adiantando para a escada.

-Espere, você vai sair assim?

-Vou, porque se ficar eu vou atirar com meu arco em Peeta e em você, e se você se conhece só um pouquinho, sabe que raramente erro.

- Por que está culpando o menino Katniss, quando eu vim avisá-lo duas semanas atrás –

- Ah, mas então você falou com ele sobre esse assunto? Ele sabia do risco, de tudo e decidiu não me alertar? Eu achei que ele pudesse estar como eu, louco de amor, mas na verdade ele omitiu propositalmente essa informação para quê? Para forçar uma família?

-Calma, ele parecia não sa-

- Você sempre o defendeu, sempre tomando o lado dele. Por que não vai procurá-lo e ter você os filhos dele? Vá embora, suma daqui.

De costas, ouvi a porta abrir e bater e então deslizei para o primeiro degrau, cega de lágrimas. Estava tão furiosa, me sentindo uma idiota, me sentindo traída e não pude evitar um uivo de dor.

Senti os braços de Haymitch ao meu redor. Ele me abraçava e tentava me levantar.

- Ele estava tão louco de amor quanto você menina, vivendo a primeira paixão assim como você, tenho certeza de que ele não fez de propósito.

- Ele deve saber que nunca vai formar essa família comigo Haymitch, ele não sabe que eu sou quebrada?

Chorei em seus braços até minhas lágrimas secarem. Em seguida, subi e arrumei minhas roupas em uma sacola de lona. Peguei uma caixa grande que era o seu presente de aniversário e deixei na cozinha. Tentei rabiscar vários recados, mas acabei riscando todos, então escrevi apenas "feliz aniversário" num papel que deixei em cima da caixa. Olhei o grande relógio da cozinha, era 16:20. Peguei a mala de lona e corri à porta, deixando-a fechada sem trancar.

{...}

Quando o trem começou finalmente a andar, consegui soltar a respiração. Agora podia acrescentar covarde ao ignorante e idiota para meus maiores defeitos. Balancei a cabeça, tentando me acalmar.

Meu estômago começou a se revoltar de fome e eu lembrei que tinha botado pra fora todo meu café da manhã. Resolvi ir ao vagão restaurante. Olhei para o espelho arranhado da minha pequena cabine. Eu estava uma bagunça. Meus olhos estavam muito vermelhos e inchados, os cabelos desordenados, sem contar na saia de lã, que me deixava completamente disforme.

Passei os dedos na trama da saia, as lembranças da árvore retorcida invadiram minha mente e meus olhos encheram de água novamente.

Amor com Amor se paga - PetnissOnde histórias criam vida. Descubra agora